Esta lista não é dos dez melhores livros que já li, mas dos dez livros que me afetaram de alguma forma. Histórias que criaram uma identificação pela forma como penso, ou por algo que já vivi, ou por algo que desejo viver, ou por algum sentimento, ou qualquer outra coisa que é pessoal minha. Em cada um deles, eu vou tentar explicar qual o ponto que me afetou, e espero que cada um desses livros também consiga passar algo de tão forte para quem os ler. Eles não estão em sequência de qualidade, mas aleatória.

O SENHOR DAS MOSCAS: A história de um grupo de meninos, menores de 15 anos, que ficam presos em uma ilha e, aos poucos, atingem a fase de barbárie, é destruidora. Uma alegoria de como o ser humano é cruel e egoísta se colocado em situações limites. Eu senti, durante a leitura, como é frustrante você ter uma moral, ter noção do certo e do errado, tentar defender o próximo, mas fazer parte de uma minoria. O que vai prevalecer é a lei da maioria, independentemente do quanto ela for distorcida, injusta, cruel ou desumana. O que vale é a lei da quantidade.

 

OS MENINOS DA RUA PAULO: Uma pequena gangue de meninos que tem, em um terreno de construção abandonado, a idealização de um quartel, onde podem fazer reuniões, brincadeiras, jogos, conversas, tudo sob uma hierarquia militar construída por eles próprios, mas que é desafiada por outra gangue rival, é uma das narrativas mais lindas e tristes que já li. O final do livro confirmou o que sempre pensei sobre a vida: não somos nós que estamos no controle, o máximo que podemos fazer, é aproveitar cada dia, cada hora, cada minuto, da melhor forma que pudermos, e com as pessoas que amamos. E prepare alguns lenços, você vai precisar.

 

AS AVENTURAS DE TOM SAWYER: Não foi meu primeiro livro, mas foi o primeiro que me marcou, tanto que nunca esqueci de sua história. Ele acompanha o jovem Tom e suas aventuras pelo Mississipi, nos EUA, em uma época cheia de preconceitos e de racismo. Sempre que lembro de Tom, lembro de como é ser jovem, de como é ser travesso, de como é ser ingênuo, de como é não ter maldade. Tom faz o que todos deveríamos fazer: viver na plenitude, com respeito e amor. Ler Tom Sawyer é voltar no tempo e ser jovem novamente.

 

O CAÇADOR DE PIPAS: Dois amigos. Um deles é estuprado. O outro, assiste, mas não faz nada para ajudar, porque sente medo de sofrer o mesmo. Dessa violência, nasce uma das histórias mais marcantes que já li. Ela ensina que sempre somos imperfeitos, que nem sempre temos coragem de ajudar, de fazer o certo, que podemos aprender, que podemos nos arrepender e que podemos pedir perdão. Mas, ela também nos ensina que a vida não vai esperar por nós, por nossos arrependimentos e nem por atitudes que tentem consertar o passado. A vida vai continuar, independentemente de você, e quando você finalmente conseguir, pode ser que seja tarde demais. Vei, chorei demais!

 

O NOME DA ROSA: Um frei e seu aprendiz são enviados a um mosteiro isolado e rodeado por mistérios, onde acontecem sete assassinatos de sete monges. É, simplesmente, um dos mais incríveis livros já escritos e figura na lista das obras consagradas da literatura mundial. A história me marcou por sua inteligência, pelo medo que senti durante a leitura pelo erotismo, pela violência extrema e por Adso, o aprendiz que acaba sendo a companhia para o leitor conseguir compreender o que está acontecendo. Foi o primeiro clássico internacional que li e que me mostrou a diferente entre um escritor e um grande escritor.

 

O PEQUENO PRÍNCIPE: Há tanto para se dizer sobre a história do garotinho que aparece para um aviador que teve um problema no avião e caiu no deserto, que nunca tive coragem de escrever uma resenha. É um dos livros que mais marcou minha vida e que foi responsável por uma atitude pessoal que mudou tudo para mim. Ele é, para mim, a prova de que sim, um livro pode mudar a vida de uma pessoa. Ele mudou a minha, de tantas formas que nem sei explicar. Aí você se pergunta: como? Com aprendizado. Ele me mostrou como proceder diante de escolhas e atitudes. E essas escolhas e essas atitudes, mudaram tudo.

 

O SENHOR DOS ANÉIS: Eu sempre ouvi falar da saga do anel, por causa dos RPGs, mas nunca havia realmente lido. Até que saiu o primeiro trailer do filme. Peguei o livro único e li tudo de uma vez só. Então, compreendi de onde vinha o RPG e todos os livros e filmes de fantasia posteriores à obra de Tolkien. A Sociedade do Anel é, na minha concepção, uma fantasia perfeita, que deveria ser lida por todos, e um exemplo de como se escrever com imaginação. Pela primeira vez, eu realmente visitei a Terra-Média, eu acreditei que ela existia. E quanto isso acontece, nas pouquíssimas vezes que um autor consegue, é uma experiência única e inesquecível.

 

ORGULHO E PRECONCEITO: Não tenho muita certeza, mas acho que foi o primeiro livro do gênero romance que eu li. E não poderia ter começado melhor. Depois dele, apenas um outro romance me marcou tanto, aquele que vem logo a seguir a este nesta lista, logo ali embaixo. Não há como não se apaixonar por Elizabeth. Mesmo tendo sido escrito no fim de 1790, a história já mostra a força do sexo feminino. Foi depois dele que comecei a enxergar as relações românticas de uma forma mais madura e consciente de como são frágeis.

 

ROMEU E JULIETA: Este é O romance. Ele é a síntese do amor verdadeiro, do amor puro, do amor dramático, do amor que vai além da vida, do amor eterno. Não há casal igual a Julieta e seu Romeu. Eles representam, com perfeição, todo o sentimento exagerado que se tem na juventude. Tudo é forte demais, tudo é doloroso demais, tudo é intenso demais. E Shakespeare criou diálogos que são poesia pura. A cada parte do roteiro da peça de teatro (se você não sabe, não é um livro em prosa), não há como não suspirar e invejar algo tão profundo quanto os sentimentos entre os dois jovens. E, da mesma forma, nenhum casal sofreu tanto nas mãos do destino, do acaso, do que você quiser chamar. Depois de ler e compreender Romeu e Julieta, você não conseguirá ler outro romance com os mesmos olhos.

 

TRASH: Gabriel, Rafael e Gardo, os três meninos que vivem em um lixão e que encontram algo que poderá leva-los a uma fortuna em dinheiro, mas também à morte, é um retrato da pobreza e do desespero que corta a maioria das cidades brasileiras. Os três garotos são apaixonantes, inteligentes, espertos, corajosos, e conseguiram fazer com que eu revivesse as aventuras juvenis que lia na época da escola, mas com um tom mais adulto e sério. Sempre que vejo um garoto de rua, lembro dos três meninos desse livro, e do quanto o ser humano é precário quanto ao que sente pelo próximo. O fim do livro traz um supro de esperança com um misto de alegria que me marcou e que nunca vou esquecer.