Os dez livros desta lista não são os piores livros que já li, mas os dez que eu considero que transmitem uma mensagem ruim. Eu li muitos livros com uma narrativa péssima, personagens rasos e inconsistentes, furos de sequência, entre outros problemas, mas que, pelo menos, passavam uma moral de onde se podia extrair algo de bom, algum tipo de aprendizado ou de lição. No caso dos livros desta lista, o que eles transmitem é algo prejudicial, maus exemplos, conformidades nocivas e, por isso, me incomodaram muito. Os livros não estão em sequência de ruindade, mas aleatória.

QUERIDO, DANE-SE: Está aí um livro tóxico. Eu peguei para ler por curiosidade, na “incansável busca por um livro de youtuber que contenha uma boa história”, mas quebrei a cara. Bem quebrada. Amassada. Tipo cair no chão do terceiro andar. Eu não vou fazer qualquer ligação da personagem principal com a autora, porque não conheço a autora, mas a personagem tem uma das personalidades mais escrotas que já vi nos livros. Ela perpetua atitudes deploráveis, com ela e com o outros, e, pior, apoiada por personagens secundários que se comportam como se tudo que ela fizesse fosse certo. A coisa vai desde incentivar a bebida alcoólica, drogas, tabaco, passa por ingratidão e traição e vai até estragar casamentos por ter inveja da noiva. Enfim, páginas e páginas das atitudes escrotas que estamos acostumados a ler em relatos pela Internet a fora. A vontade que tive ao final da leitura, foi a de fazer uma lavagem cerebral e apagar da memória tudo o que havia lido. Ou pedir meu dinheiro de volta!

 

TRAÇOS: A história é um amontoado de clichês e de retalhos mal costurados, com coincidências absurdas que sempre acontecem para resolver uma ou outra solução. O romance do personagem principal com a garota dos sonhos, por quem ele faz as piores besteiras, é deixado para trás assim que ele conhece outra garota. O clímax da história, que é salvar um youtuber que foi sequestrado e é obrigado a fazer vídeos em cativeiro, é de uma imbecilidade sem tamanho. Tudo é construído de forma muito amadora, como uma redação de colégio. Ou melhor, como várias redações que são amontadas no formato de um livro.

 

SUBMERSO: Sim, do mesmo autor de TRAÇOS. Peguei esse segundo livro para ler na esperança de o autor ter melhorado algo na sua narrativa. Óbvio que quebrei a cara de novo. Ele comete os mesmos erros, só que pior: trata de assuntos delicados, como depressão, suicídio, abandono e drogas, com uma superficialidade ofensiva para quem passa por esses problemas. Tudo o que o personagem principal passa é tratado de forma displicente. Para piorar, ele comete a atrocidade de ter um personagem homossexual que não se assume perante o leitor. A parte boa do livro, é que só tem 190 páginas, ou seja, o sofrimento é breve.

 

DIÁRIO DE UMA ESCRAVA: A história da garota que é sequestrada aos dezesseis anos e é mantida em cativeiro, sendo estuprada dia após dia, por anos, é uma das piores narrativas que já passou por minhas mãos. Há uma repetição de situações que vai além do bom senso. A autora descreve os estupros e as agressões físicas uma, duas, três, quatro, cinco vezes, sem qualquer necessidade, a não ser a intensão de chocar o leitor. Quando finalmente a história se desenvolve, lá pela metade do livro, todo o desespero da personagem é esquecido, e ela se transforma em cúmplice do agressor, sem qualquer motivo que seja suficientemente forte para explicar a mudança de comportamento. Mas a autora vai mais longe nos absurdos ao colocar a personagem a aceitar sua condição de vítima e a continuar a ser violentada, apenas por causa de um telefone, onde os pais não acreditam que ela é ela, que ela está viva, pensam que é um trote. É uma leitura que fere a inteligência e que ofende as pessoas que passam por violência e abuso. Como a edição é muito caprichada, é o típico caso de algo que é bonito por fora e feio por dentro.

 

AFTER: Se tem um livro que serve de exemplo do que é romantizar o abuso, é AFTER. A personagem principal é humilhada, abusada, agredida e enganada pelo bad boy, mas, mesmo assim, ela perdoa ele várias e várias vezes. O livro vai além das 600 páginas, em que o que acontece são apenas brigas e sexo, sem qualquer história. AFTER foi originalmente escrito no Wattpad, onde os leitores sádicos incentivavam, capítulo a capítulo, as repetições das discussões e do sexo, como se sentissem prazer no sofrimento da garota do livro. Mas mais absurdo do que tudo isso, é a quantidade de garotas que gostam do livro. O motivo que elas dão, é que o crush da garota tem problemas psicológicos e precisa de ajuda. Sinto, mas quem precisa de ajuda é a garota que se deixa abusar em nome de um pretenso amor que não existe.

 

A SELEÇÃO: Nesse livro, o motivo que justifica toda a superficialidade da história, é a personagem principal lutar contra a fome e pobreza, sua e da família. Por isso, ela aceita participar de um concurso, onde o prêmio final é se casar com o príncipe do país. A narrativa deixa de lado a guerra civil que acontece, o sofrimento dos rebeldes que vão contra a monarquia, e se concentra no desejo de lindos vestidos, bailes luxuosos e a dúvida entre dois homens. Sim, temos um triângulo amoroso, e a garota muda de opinião como muda de roupa. Temos clichês para todos os lados, situações onde a mocinha precisa ser protegida por um macho, futilidades de moda, entre outras coisas que evidenciam a fragilidade feminina e a superioridade masculina. Mesmo assim, adivinhem? As garotas, inclusive as que se intitulam feministas, adoram! Fazer o quê?

 

A LENDA DE RUFF GHANOR: Vou ser sincero e dizer que senti uma certa vergonha ao ler esse livro. Existe tanta coisa brega, que foi difícil chegar na última página. O personagem principal é dado como o herói que vai salvar a todos, mas o autor nunca o coloca nessa posição. Ele possui poderes que funcionam e não funcionam dependendo da necessidade dramática. A forma de uso dos poderes é através da reza a santos, numa mistura de conceitos que se torna ridícula da forma como é usada. Além disso, o autor utilizada pedaços de várias obras conhecidas para compor a trama. A luta final, em que um dragão que cospe fogo, claro, mora no interior de um vulcão, onde tem uma biblioteca de livros raros (sim, livros dentro de um vulcão com lava e um dração de fogo), faz rir de vergonha. Existe uma continuação, mas nem me atrevo a ler. E nem sequer fiz resenha para o blog. Nem vou fazer.

 

A CULPA É DAS ESTRELAS: É isso mesmo. O livro queridinho de muitos, para mim, é um exemplo de como manipular as emoções do leitor da forma mais descarada possível, e ainda subverter o sofrimento de pessoas que enfrentam o câncer, romantizando situações que são sérias e que deveriam ser tratadas com mais responsabilidade e respeito. O autor direciona o foco do leitor para a garota que luta contra a doença, para, no fim do livro, sem qualquer pista ou motivo, matar o garoto que estava curado. Além disso, força um objeto, o cigarro, como símbolo para ser usado como força emocional. Como se não bastasse, o autor ainda consegue criar o pior trecho para um beijo que já li. Porque, vamos ser racionais: onde os personagens principais dão o primeiro beijo? Na casa de Anne Frank! Tem local mais deprimente e inadequado? Mas também preciso comentar os diálogos, cheios de frases feitas e discursos de pseudo-intelectualidade, transbordando falta de naturalidade.

 

CREPÚSCULO: Acho que tudo que havia para ser escrito sobre essa série de fadas mutantes que vivem na floresta que possuem todos os tipos de poderes e que se transformam em purpurina quando morrem, já foi dito. É tanta coisa ruim, tanto absurdo, que fica incompreensível como existiram tantos fãs. Sim, existiram, no passado. Hoje, a maioria das pessoas que diziam gostar do livro, amadureceram e se recusam a reconhecer. Antes tarde do que nunca.

É ASSIM QUE ACABA: O romance de Colleen Hoover que trata de abuso doméstico até poderia ser um bom livro, se não falhasse nos pontos principais e não deixasse uma mensagem de conformidade a mulheres que passam pelo mesmo sofrimento. A história ainda tenta justificar o abuso, sofrido pela personagem principal, com os traumas de infância do perpetuador. O maior defeito do livro é justamente quando a personagem não denuncia o homem que a agride com pena dele. A maioria das mulheres realmente não realiza a denúncia, mas não por pena: por medo! Medo de ser morta, medo dos filhos serem mortos, medo de apanhar, medo de ser julgada pelos outros, medo de como será tratada na delegacia, medo de não acreditarem nela, medo de ficar sozinha e abandonada. Medo! Nunca, pena! Nunca se pode justificar o abuso por traumas sofridos pelo homem. Nunca se pode sentir pena de quem agride. Por isso é um livro prejudicial, mal finalizado e desonesto com o público que anuncia defender.