Shirley Jackson foi uma precursora no estilo terror, em uma época de poucos romances desse estilo. Mas mais importante do que isso, ela definiu a forma com uma assombração pode fazer mal a uma pessoa. E isso é explicado claramente pelo dr. John Montague, um dos quatro personagens principais que se atrevem a morar na Casa da Colina e enfrentar o que quer que resida no local. Ele explica que um espírito não pode causar nenhum ataque físico a uma pessoa, uma vez que eles são etéreos. A forma como eles atacam, é descobrindo as fraquezas emocionais e mentais de uma pessoa e, então, criam alucinações que degradam essa condição, até que a pessoa se entregue totalmente.

Por isso, é compreensível que Eleanor, uma mulher que perdeu quase tudo que possuía, menos uma irmã, com quem vive de favor; Theodora, uma artista que aparenta possuir a sensibilidade de sentir o que não pode ser visto; Luke, um dos herdeiros dos falecidos donos da Casa da Colina; e o próprio dr. Montague, resolvam estudar e descobrir, de forma tão corajosa e despreocupada com a própria segurança, se a Casa da Colina realmente é assombrada, ou se tudo não passa de acontecimentos trágicos aleatórios, sem qualquer conexão com o sobrenatural.

A ASSOMBRAÇÃO DA CASA DA COLINA, principalmente pela época em que foi escrito, não é, nem de longe, parecido com os terrores que lemos e vemos hoje em dia. Não existem fantasmas pulando em cima dos personagens, não existem sustos a cada capítulo, não existem mortes que espirram sangue, nem nada parecido com isso. O que existe é um terror psicológico, algo de maligno que vai, aos poucos, interferindo na sanidade de uma das personagens, quase de forma impercebível, até que é tarde demais.

Quando você começa a leitura e é apresentado aos personagens, também recebe as informações necessárias de como eles são e de como eles pensam, uma vez que a narrativa é em terceira pessoa, embora, às vezes, pareça que é a própria casa quem está narrando. Conforme a história avança, você irá perceber que certas coisas começam a ficar estranhas para uma das personagens. E é nisso que reside o terror. Você percebe, mas os outros personagens, não.

Quando atingimos o clímax, você já não sabe bem o que é real e o que não é real para a tal personagem. E isso é intensificado a um ponto, que você começa a acreditar que tudo o que aconteceu até aquele momento, foi perpetuado pela personagem em sua paranoia. Ou não?

A ASSOMBRAÇÃO DA CASA DA COLINA é um terror psicológico escrito de uma forma perturbadora, com diálogos que têm o objetivo de confundir e com descrições que tentam incutir uma certa loucura no leitor. Ao final da leitura, quando você, juntamente com os personagens, confirma o que suspeitava, é tarde demais. A casa venceu.

Sinta medo. Muito medo. Desde que você compreenda o que está lendo.


AVALIAÇÃO:


AUTORA: Shirley JACKSON (1916-1965) é considerada uma das mais influentes escritoras norte-americanas. Herdeira da grande tradição do gótico americano, iniciada com Edgar Allan Poe, teve uma vida curta – tal como Flannery O’Connor, outra das grandes escritoras da sua geração –, mas foi uma autora prolífera. Obteve imediato sucesso e fama com a publicação, em 1948, do conto “The Lottery”, que na época dividiu opiniões e suscitou acesas polémicas. Ao todo escreveu mais de 55 contos, que foram sendo reunidos em variados volumes, o último deles póstumo: “Come Along With Me” (1968). Da sua obra, destacam-se ainda as crónicas familiares “Life among the Savages” (1953) e “Raising Demons” (1957); e os seus romances “The Sundail” (1958), “The Haunting of Hill House” (1959) – alvo de uma recente adaptação cinematográfica, e este «Sempre vivemos no castelo» (1962). Os livros de Shirley Jackson receberam inúmeras distinções e prémios e estão amplamente divulgados nas principais línguas. Em Portugal a sua obra era ainda inédita.
TRADUÇÃO: Débora LANDSBERG
EDITORA: Suma
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 240


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