Jenniffer Brown, que ganhou fama entre os leitores com o livro A LISTA NEGRA, se consolidou como uma autora que fala sobre temas pesados e importantes de forma tocante e responsável. E AMOR AMARGO não é diferente. Aqui, a autora aborda a temática dos relacionamentos abusivos de forma muito real.

Alex, nossa protagonista e narradora, não é muito diferente de qualquer outra garota. Responsável e cheia de sonhos, ela tem planos muito bem traçados para o futuro, mas tudo muda com o surgimento de Cole, o típico personagem masculino por quem nossas protagonistas costumam se apaixonar.

Bonito, forte e inteligente, Cole é tudo o que Alex sonhava e ela mal pode acreditar que ele está interessado nela.
Até aqui, o que temos é mais um livro clichê de romance, mas esse não é o estilo de Brown. Aos poucos, Cole vai mostrado sua verdadeira personalidade. Explosivo e descontrolado, Cole não é o príncipe que parecia, e o que começa com ofensas e gritos, logo evolui para agressão física.

O ciclo de um relacionamento abusivo é muito bem exposto pela autora. O cara perfeito que se torna agressivo, mas sempre fazendo a vítima se sentir culpada. Uma das mensagens mais fortes que o livro passa, é que não podemos julgar as pessoas que estão em relacionamentos abusivos. Cole faz um jogo psicológico inacreditável, ele realmente consegue se colocar como a vítima da situação, aproveitando-se das fraquezas de Alex.

Página após página, vemos Alex perder sua vivacidade, tornando-se apática, afastando-se de todos que a amam de verdade, isolando-se e culpando-se. É doloroso acompanhar a queda dessa personagem e ver como ela vai se descaracterizando. Houve momentos em que eu precisei fechar o livro e respirar fundo para conseguir continuar. A narrativa é muito introspectiva, fazendo com que o leitor se sinta na pele da personagem, sentindo toda a sua confusão.

É impossível não querer entrar no livro e resgatar a Alex dessa situação. A personagem, no ápice de seu enfraquecimento, torna-se tão real, tão palpável, que não tem como não se emocionar com o que ela passa. E a forma como ela esconde o que tem vivido, só torna ainda mais evidente o fato de que podemos ter pessoas passando pelas mesmas coisas perto de nós. O livro funciona muito como um alerta nesse sentido.

E por mais revoltados que fiquemos com a situação e incrédulos por Alex continuar no relacionamento, precisamos lembrar que isso acontece, sim, o tempo todo. E quando a gente sente raiva da Alex por ela não terminar com Cole, nós estamos culpando a vítima.

Durante a leitura, fica muito claro o fato de Cole se aproveitar da imaturidade, da inocência, da carência e da bondade de Alex. E isso é um fator importante sobre os relacionamentos abusivos. O abusador possui enormes habilidades de fazer a vítima se sentir dependente, incompleta e defeituosa. Outra atitude típica de um abusador, é saber como virar o jogo, justificar, vitimizar, manipular, falar sobre as violências que ele mesmo sofreu e culpar a vítima por fazer com que ele perca o controle.

A autora também explora bastante o passado de Cole. Eu acho importante conhecer a história do agressor, mas isso não justifica suas agressões. Afinal, as violências sofridas por mim, não me permitem agredir outras pessoas. Acredito que a relevância disso para a historia, seja, justamente, mostrar como isso é encarado pela Alex e como serve de “arma” para Cole, para que ele justifique suas agressões.

No entanto, mesmo esse sendo o tema principal do livro, não é o único. AMOR AMARGO também fala sobre relacionamentos familiares, sobre amizade, sobre abandono e sobre a necessidade que temos de compreender as coisas. Alex tem uma história muito interessante e um passado que certamente influencia em seu presente.

O livro também é riquíssimo em seu desenvolvimento de personagens. Todos eles, inclusive os coadjuvantes, são muito bem desenvolvidos e é possível visualizá-los com clareza. Os amigos da Alex são incríveis e não tem como não gostar deles, principalmente vendo a preocupação que eles sentem em relação às mudanças da protagonista.

Algumas pessoas se frustram com o desdobramento final da história, mas eu acredito que a intenção da autora foi, justamente, fechar o livro de forma realista. Afinal, ela foi muito direta e crua ao longo de todo o livro. Não faria sentido romantizar a realidade já no final. Portanto, eu gosto do final, não porque ele é da forma que é, mas porque é realista.

Assim como acontece em A LISTA NEGRA, Brown não economiza em descrições e oferece detalhes que nos permitem visualizar as cenas com clareza. Essa carga descritiva é obviamente desconfortável, mas contribui para tornar a história mais verdadeira, afinal, na vida real, as coisas não são maquiadas, então por que maquiar nos livros?

AMOR AMARGO é um livro difícil e doloroso, mas extremamente necessário. Certamente, o livro mais completo e realista que eu já li sobre esse tema. Em se tratando de relacionamento abusivo, esse é a leitura mais indicada, a que melhor demonstra a evolução desse tipo de relacionamento. Essa é uma leitura que choca e sufoca o leitor e que fez Jennifer Brown se consolidar como uma das minhas escritoras favoritas, por sua coragem e sua responsabilidade.


AVALIAÇÃO:


AUTORA: Jennifer BROWN nasceu em Kansas, passou boa parte de sua vida no subúrbio, mas também morou em Nova Jersey, mesmo assim se considera totalmente uma garota do centro-oeste rural dos Estados Unidos. Ela diz que teve muitos amigos imaginários, o que pode ser bom, porque teve que se mudar muito e o conviver com amigos reais era difícil. Ela se formou em Psicologia e conseguiu alguns trabalhos de Recursos Humanos, mas não demorou muito para ela perceber que essa não seria sua profissão. O que é inusitado é que Jennifer apesar de ter escrito um livro tão intenso como A Lista Negra, na verdade ela escrevia colunas de humor para um jornal. Inclusive ganhou dois Erma Bombeck Global Humor Award (2005, 2006), mas deixou de ser colunista e agora se dedica em tempo integral para os livros jovem-adulto.
TRADUÇÃO: Guilherme E. MEYER
EDITORA: Gutenberg
PUBLICAÇÃO: 2015
PÁGINAS: 256


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