O COLECIONADOR foi o grande romance de estreia de John Fowles, lançado em 1963, que entrou para a lista de best-sellers internacionais. É considerada obra fundamental dos anos 60, englobando vários questionamentos à cultura e sociedade da época, e valorizando a reflexão e quebra de paradigmas.

Frederick Clegg é um protagonista bem excêntrico… Foi criado pelos tios, não teve uma infância muito agradável e sempre sofreu bullying nos lugares que frequentava. Tornou-se um homem perturbado e solitário que coleciona borboletas. Um dia, ele vê Miranda Gray pela janela de seu trabalho e se apaixona perdidamente pela linda jovem estudante de artes; então, começa a persegui-la, a fim de descobrir tudo sobre ela.

Inicialmente, Clegg demonstra seu amor pela garota sem nenhuma intenção maldosa, mas, aos poucos, vemos traços de sua insanidade aparecerem, até que um dia, ganha na loteria e decide sequestrá-la. Ele compra um velho chalé em Sussex e transforma o porão um quarto luxuoso, que servirá de prisão para Miranda, sua “hóspede“. Diferente do que muitos possam imaginar, ele não objetiva fazer mal ou se aproveitar dela; apenas planeja proporcionar momentos a sós para que Miranda possa se apaixonar por ele. Para este fim, faz de tudo para agradá-la, dando-lhe vários presentes e mimando-a constantemente.

Pensei: nunca chegarei a conhecê-la de um jeito comum, mas se ela estiver comigo, verá meus pontos fortes, ela entenderá.

O livro tem dois pontos de vista: o do sequestrador; e o da vítima. Essa artimanha de Fowles foi muito inteligente, permitindo ao leitor compreender o que se passa na cabeça de cada personagem, além de deixar a narrativa mais instigante. Acompanhamos as ideias e sentimentos de ambos, principalmente de Miranda em seu isolamento (que escreve um diário); é como se ela fosse enlouquecendo com a solidão, disposta a tudo para viver e fugir dali, assim como o sequestrador fica cada vez mais perturbado com o fato de ser um criminoso.

O escritor constrói um Clegg desequilibrado, incapaz de discernir o certo do errado, extremamente egoísta. Ele chega a fazer referência à sua vítima como se fosse uma borboleta que capturou: “Vê-la sempre me fez sentir como se capturasse um espécime raro, me aproximando bem silenciosamente, com o coração na mão…“. Miranda é a loucura de Frederick, e ele deseja adicioná-la à sua coleção, como uma rara borboleta.

Apesar de ser um livro antigo, John Fowles trata de temas atuais, como feminismo, luta de classes, solidão, liberdade… Além de levantar questionamentos importantes por meio de Miranda e Frederick acerca de dinheiro, felicidade, sentimentos e contextos sociais diferentes. Achei muito interessante o autor fazer referências à livros clássicos, teatro, música e obras de arte, arquitetando um cenário cultural muito bacana e dando asas à imaginação do leitor.

A edição deste clássico está primorosa! Com capa dura, várias ilustrações belíssimas, diagramação boa, introdução exclusiva escrita por Stephen King, posfácio e conteúdo extra sobre as referências usadas pelo autor.

Os fãs de clássicos perturbadores vão adorar se aventurar pelo mundo insano criado por John Fowles nesta obra.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: John FOWLES foi um escritor e novelista inglês, que trabalhou como professor até a publicação de seu primeiro romance, “O Colecionador”, em 1963. Suas obras são consideradas singulares por muitos críticos, pois traçam uma ponte entre a literatura moderna e pós-moderna. O trabalho de Fowles recebeu influência decisiva de Albert Camus e Jean-Paul Sartre.
TRADUÇÃO: Antonio TIBAU
EDITORA: Darkside
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 256


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