Na resenha do livro PARA TODOS OS GAROTOS QUE JÁ AMEI (pode ler aqui), eu mencionei os clichês de romances que a autora utilizava para compor uma história de amadurecimento da personagem principal. Esses clichês ficam mais evidentes no filme, uma vez que não temos a narrativa permeada pelos pensamentos de Lara Jean. E o filme é bastante fiel ao livro, até mesmo nessa parte.

A história segue a vida pacata e dependente de Lara, até que cartas que ela escreveu no passado sobre suas cinco paixões, e que ficavam guardadas em uma caixa no fundo do seu armário, são enviadas. A partir daí, ela precisa lidar com emoções e decisões sobre as quais se achava despreparada.

São poucas, bem poucas, as mudanças em relação ao livro, e a única que realmente vale referenciar, é um comportamento mais digno, inclusive no final, para Josh, o vizinho e namorado de Margot, a irmã de Lara, e que é um dos cinco garotos que recebeu uma das cartas secretas.

No livro, meio que surge um triangulo amoroso entre Lara, Josh e Peter (outro dos cinco). Já no filme, isso não acontece. E ficou bem melhor dessa forma. No início, Josh se mostra confuso, depois revoltado por Lara evitá-lo, e no fim, ele se mostra o grande amigo que é. Infelizmente, nos livros, o personagem é abandonado e esquecido logo no segundo volume, o que é uma pena.

PARA TODOS OS GAROTOS QUE JÁ AMEI não possui uma grande história. Não existe um drama, não existe um trauma entre os personagens, eles não precisam enfrentar dificuldades, não existe nenhuma reviravolta, nenhuma surpresa. O filme consegue captar isso de forma competente, com uma fotografia limpa, cores vibrantes, ora fortes, ora mais em tom pastel, mas sempre em destaque. As roupas dos personagens seguem essa linha, principalmente das garotas. Todo o ambiente do filme chega a lembrar uma fantasia, uma fábula, como se não se passasse em nossa realidade, mas em uma onde as coisas são mais simples, são melhores, onde as pessoas são mais felizes e onde conseguem enfrentar seus problemas sem grandes dificuldades.

E é nisso que reside a qualidade do filme e da história. Ambos não são para causar questionamentos ou denúncias, mas para transmitir um pouco de positivismo, de alegria, de boas vibrações. É aquele filme que levanta seu astral, que faz você esquecer um pouco o mundo cinza em que pode estar vivendo e ganhar um incentivo para continuar tentando. É aquele filme para assistir em noites de chuva, ou após um dia cansativo, ou quando bate aquela tristeza que vem de lugar algum. É um filme alegre, com cores alegres, com personagens alegres, com um final alegre. E acho que é isso que precisamos de vez em quando, de menos ódio e mais amor. E nisso, o filme é bem competente.

Lana Condor, que já fez X-MEM APOCALIPSE e vai estar em ALITA – BATTLE ANGEL, interpreta uma Lara Jean de forma competente, respeitando a personagem do livro. Ela convence como adolescente imatura que aprende a ser independente da irmã mais velha, que tem medo de relacionamentos e que se refugia em seu quarto, no meio de livros que a fazem sonhar com aquilo que não tem. Lana consegue fazer caras e ser engraçada de forma natural, sem parecer forçada, e tem presença em tela.

O mesmo pode ser dito para Noah Centineo, que você deve conhecer da série THE FOSTERS, como Peter, o boy por quem Lara se apaixona durante a história. Ele conquista na primeira tomada. No livro, ele é o típico lindo garoto atleta americano, mas no filme, eles fizeram melhor e mais crível: ele é normal, tem até uma cicatriz no rosto, e conquista pela presença, pelo olhar e pelo sorriso, que são os detalhes que realmente importam e que conseguem transmitir um pouco dos reais sentimentos de uma pessoa.

Israel Broussard tem o sorriso mais bonito e alegre de entre os atores do filme, e isso casa perfeitamente com o Josh do livro, onde a simpatia e a camaradagem eram suas características mais marcantes. O rosto dele se ilumina quando abre o sorriso gigantesco. Ficou perfeito para o personagem.

Outra que ficou perfeita, foi a pequena (mas nem tanto) Anna Cathcart como Kitty, a irmã caçula de Lara Jean. No livro, ela é a personagem mais alegre e petulante da história, e isso se repete de forma convincente na interpretação de Anna. E sem parecer piegas ou chato, o que é essencial.

Também temos Emilija Baranac, que você já deve ter visto na série RIVERDALE, como Gen, a ex-namorada de Peter e que consegue trazer os piores momentos para Lara. Da mesma forma que os outros atores, ela foge do estereótipo da garota bonita americana. Essa similaridade entre os personagens é um ponto alto para as escolhas, todas muito acertadas.

Por fim, ainda tempos Janel Parrish como Margot, a irmã mais velha de Lara, e John corbett como o patriarca da família. Ambos estão bem nos papeis, sem grande destaque, mas cumprem o objetivo.

No resultado final, temos um filme fofo, positivo, que graças à direção de Susan Johnson, uma mulher, consegue entregar toda a delicadeza e a sensibilidade ingênua dos personagens, em uma trama que, embora não apresente nada de novo, consegue conquistar pela simpatia e um uma singela mensagem de amor.


AVALIAÇÃO:


DIREÇÃO: Susan JOHNSON
DISTRIBUIÇÃO: Netflix
DURAÇÃO: 1 hora e 39 minutos
ELENCO: Lana CONDOR, Noah CENTINEO, Janel PARRISH, Anna CATHCART, Emilija BARANAC, Israel BROUSSARD, John CORBETT