A nostalgia está em alta e nunca foi tão fácil lucrar com ela. A Disney é mestre nessa arte, pois quase todos seus filmes live action, revisitando seus próprios clássicos, arrecadarão rios de dinheiro, como A BELA E A FERA e MOGLI. Dessa vez, Pooh, Tigrão, Leitão e seus amigos do Bosque dos 100 acres, são o destaque. Nunca tiveram um filme definitivo e são mais amados pelas diversas animações e os produtos licenciados, como brinquedos e matériais escolares. Quem nunca teve ou viu alguém ter um caderno do Pooh? Resta saber se essa nova aventura no cinema vale o nosso tempo, vamos descobrir!

Christopher Robin, o melhor amigo de Pooh e criador do Bosque, agora é um adulto que não pensa mais na infância. Sua rotina consiste em manter uma fábrica de malas funcionando, mesmo tendo que cortar custos a todo momento. Em consequência do trabalho, sua família é totalmente negligenciada com falta de atenção, de passeios e de afeto. Do outro lado da história, Pooh está desesperado em busca dos seus amigos, que agora estão desaparecidos. O bosque se transformou em algo frio e assustador, e apenas Christopher Robin poderá ajudá-lo a encontrar seus amigos.

A trama se resume num grande apanhado dos filmes DIVERTIDA MENTE e a versão 2010 de ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS. Consiste, basicamente, num filme que se passa no futuro com o menino já adulto, fazendo que, no nosso imaginário, exista um filme anterior. Seria um método interessante se tivesse sido feito com um pouco mais de dedicação. Christopher, primeiro, é apresentado como um menino sonhador e criativo que foi endurecendo graças às curvas da vida. Foi para um colégio rígido, viveu grandes traumas e, inclusive, lutou na Segunda Guerra Mundial. Acaba se tornando até meio óbvio a mudança na personalidade de Christopher: quem iria passar por tudo isso e continuar a mesma pessoa? O roteiro vai se anulando ao tentar forçar uma mudança que Christopher precisa passar. E para piorar, sua suposta obsessão pelo trabalho, no final das contas, é muito nobre. Ele precisa lidar com um chefe horroroso, que só pensa em demitir as pessoas, ao mesmo tempo em que tenta manter a todos nos seus cargos depois de terem passado por tanta coisa na guerra.

A única coisa que realmente precisa mudar é seu relacionamento com a família. E onde entra Pooh nisso tudo? Se Christopher não lembra, a coisa simplesmente não existe e, nisso, o ursinho amante de mel precisa fazer aquela criança do passado ressurgir no homem adulto. A interação de Robin com Pooh é a melhor coisa da produção e rende momentos bem tristes e engraçados. Destaque também para o design de todos os personagens do Bosque que são feitos com uma textura surrada, que nos faz lembrar dos nossos brinquedos da infância que já foram novos e, com o tempo, depois de muitas brincadeiras, ficaram gastos. Os efeitos visuais são muito realistas e lembram um pouco o filme infantil PEDRO COELHO. Mesmo sendo bichinhos de pelúcia falantes, o espectador compra a ideia e ainda deseja levar alguns deles para casa.

No elenco, Ewan McGregor, conhecido como Obi-Wan dos filmes STAR WARS, vive esse protagonista que de mau não tem nada. Seu desempenho é bem neutro e não se destaca em nada sobre qualquer outro personagem amargo/amigável que já não tenha feito em sua carreira. A maravilhosa Hayley Atwell, nossa querida Agente Carter dos filmes da Marvel, faz aqui uma pequena participação que nada acrescenta na trama. Apenas estava escrito que o protagonista precisaria ter uma esposa e lá está a atriz, um objeto de enfeite durante toda a produção. Basicamente uma figurante de luxo que não é desenvolvida e tem seu talento totalmente desperdiçado. O elenco ainda conta com algumas crianças que estão bem fraquinhas e a dublagem nacional só deixa os seus desempenhos ainda mais bobos.

No final, temos uma tentativa fracassada de arrancar lágrimas do espectador usando e abusando da nostalgia. E não tem problema nenhum em usar a nostalgia, desde que ela esteja acompanhada de uma boa trama e um desfecho agradável. O final é bem docinho, mas o caminho até ele é um martírio. O roteiro acaba se anulando se o espectador pensar demais na trama, e o elenco mais atrapalha do que ajuda. Tecnicamente é muito bonito, e os nossos queridos amigos do Bosque estão mais fofos do que nunca. Agora se vale uma ida ao cinema, fica o questionamento. Se você for muito, muito fã do Pooh e seus amigos, pode ser uma boa escolha, mas para as pessoas que não estão nesse grupo, a experiência pode ser um pouco desagradável.


AVALIAÇÃO:


DIREÇÃO: Marc FORSTER
DISTRIBUIÇÃO: Buena Vista/Disney
DURAÇÃO: 1 hora e 444 minutos
ELENCO: Ewan MCGREGOR, HAYLEY ATWELL