Desde que vi esse livro, eu senti que havia algo muito forte nele. A capa, a sinopse e o trailer da adaptação me chamaram a atenção. Sempre que pensava em pegá-lo para ler, acabava desistindo e passando outros na frente, simplesmente por saber que esse livro mexeria comigo de um jeito diferente. Estou acostumada com histórias com assassinatos, com policiais sendo tão cruéis quanto bandidos, mas ler sobre o racismo e as mortes que ele carrega, é muito pior que os meus trillers.

Angie Thomas mexeu comigo de uma maneira que a maioria dos autores nunca conseguiu. Seus personagens fazem parte de uma realidade à qual eu não pertenço, as vivências deles são diferentes das minhas. Eu nunca sofri com o racismo e não posso dizer que sei o que é passar por isso, porque não sei, mas senti as dores da Starr como sinto quando vejo amigos passarem por isso.

A história começa com Starr fugindo de uma festa em Garden Heights com Khalil, depois de tiros serem disparados. Logo em seguida, a polícia para o carro deles. Khalil questiona o motivo de estar sendo parado, é levado para fora do carro para ser revistado, não uma, mas três vezes. O policial vai checar os documentos dele na viatura, e Khalil abre a porta do carro para ver se Starr está bem. É nesse momento que tudo dá errado. O policial atira. Não uma, mas três vezes. Khalil acaba caído no meio da rua e Starr é a unica testemunha do que realmente aconteceu.

Starr estuda em Williamson, uma escola privada de classe média-alta, onde é uma das poucas alunas negras. Lá, ela é uma garota diferente da Starr que mora no gueto. A Starr do colégio não fala palavão, não usa gírias e é descolada simplesmente por ser negra. O problema é que depois da morte de Khalil, fica muito mais dificil separar a garota que ela é na escola de quem que ela é no Garden.

Esse é um livro que eu desejo que todo mundo leia. Eu não sei explicar o que senti ao finalizar a leitura, mas sei que ele mudou a forma como eu via o mundo.

O livro gira em torno da vida de Starr depois da morte de Khalil e como ela reage a tudo isso. Ela é uma garota forte, cheia de personalidades, porém presenciar a morte de mais um amigo a muda completamente. Starr começa a questionar o que está acontecendo à sua volta, o seu papel nisso tudo, quem ela é no meio dessa história e o que ela deve e quer fazer a respeito do assassinato.

Ainda que o foco seja como ela lida com tudo, a presença da família de Starr é constante e a interação entre eles é incrível. Eles não são uma família perfeita, os pais brigam, os irmãos se provocam, mas no meio dessa tragédia, eles não apenas se unem, mas se apoiam por completo.

Os personagens secundários, como um todo, são maravilhosos, mas eu achei interessante a forma como introduziram Chris na história. Ele é aluno da Williamson, branco, mora no suburbio e é namorado da Starr. Gostei de como o relacionamento deles foi introduzido, as dificuldades e os dilemas que ela enfrenta por não namorar um garoto negro.

Achei importante a forma como os personagens lutam por justiça, e como Starr, apesar de aterrorizada, não deixa a morte de Khalil ser esquecida. Depois do assassinato, acusam Khalil de ser traficante, de ser membro de uma gangue e tentam justificar sua morte com isso. No fim, DeVante, um personagem que eu não achava que teria um papel muito importante, trouxe um pensamento diferente: não devemos pensar que um garoto quis vender drogas ou entrar em uma gangue, devemos pensar no que o levou até ali.

Esse é um livro que eu desejo que todo mundo leia. Eu não sei explicar o que senti ao finalizar a leitura, mas sei que ele mudou a forma como eu via o mundo. Apesar de Khalil, Starr, DeVante, Natasha e todos outros nãos existirem fora do papel, existem muitas pessoas como eles ao nosso redor, e acredito que a mensagem que Angie passa com esse livro, é forte o suficiente para atingir qualquer um.

O ÓDIO QUE VOCÊ SEMEIA é cheio de referências a músicas e a personalidades negras importantes, além de nunca nos deixar esquecer que Khalil não foi o primeiro negro assassinado pela polícia e, infelizmente, também não será o último.

Para aqueles que gostam de adaptações literárias, já tem trailer do filme que irá estrear no dia 19 de outubro deste ano.

O ódio que você passa para as criancinhas ferra com todo mundo.



AVALIAÇÃO:


AUTORA: Angie THOMAS nasceu e foi criada em Jackson, no Mississippi, o que se percebe pelo seu sotaque. Quando adolescente, era rapper e sua maior conquista foi ter escrito um artigo sobre si mesma na Revista Right On! (com foto). É bacharel em escrita criativa pela Belhaven University e possui um diploma não oficial em Hip Hop. Ela ainda sabe fazer rap, se for preciso. Seu livro de estreia, O Ódio Que Você Semeia (The Hate U Give), foi o primeiro a vencer o Walter Dean Meyers Grant, em 2015, na categoria We Need Diverse Books. O romance será adaptado para o cinema, pela Fox, e chegou ao primeiro lugar da lista do New York Times na semana de seu lançamento.
TRADUÇÃO: Regiane WINARSKI
EDITORA: Galera Record
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 378


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