Antes de falar da história de PERIGO MORTAL, preciso dizer o óbvio: é uma obra de fantasia. Se você sofre de depressão, se tem pensamentos suicidas, procure ajuda, não há qualquer vergonha nisso. Depressão é uma doença, e como em toda doença, você precisa de um médico para ficar curado. Aqui tem um post onde falamos do assunto, com um depoimento emocionante e todos os contatos para você não se sentir sozinho e nem ficar sem saber a quem recorrer, só clicar aqui.

No livro, Edith, ou Edie, sofre de depressão e vê como única saída, o suicídio. Vai até uma ponte alta, onde é comum jovens fazerem o que ela pretende, e se prepara para pular. Quando dá o último passo em direção à morte, um garoto a segura pelo ombro e lhe oferece uma saída: ela tem direito a três desejos, sejam eles quais forem, e em troca, ela fica em débito para com ele em três favores, que serão cobrados no futuro. Ela se pergunta: por que não? Ela já estava pronta para morrer mesmo, o que poderia ser pior?

O nome do garoto é Kian, e ele próprio já havia tentado suicídio, e um homem também havia aparecido e lhe oferecido a mesma coisa. Agora, era ele o agente da missão. Claro que existe alguma coisa obscura na oferta, Edith sabe disso, ela não é burra, pelo contrário. Mas quando uma pessoa, como ela, se encontra na depressão, não enxerga os perigos que estão na sua frente. A dor não permite isso.

O primeiro pedido de Edith é o de se tornar uma garota bonita, para, assim, ter uma chance de voltar a seu colégio e se vingar de todos os que fizeram bullyng com ela, todos que a humilharam e transformaram sua vida em um inferno, a ponto de ela desejar morrer. E a partir daí, acompanhamos todos os detalhes de como funcionam os poderes de Kian, para quem ele trabalha, como se dá a vingança de Edith, quais os perigos que estão ligados aos desejos, e quais as consequências desses desejos.

Em PERIGO MORTAL, existem algumas influências de obras antigas, escritas e visuais, como o ADVOGADO DE DIABO, filme com Keanu Reeves e Al Pacino, de A FIRMA, com Tom Cruise, e até mesmo da série ANGEL, um spin-off de BUFFY. Kian trabalha para uma empresa, cujo diretor não é humano, com influências além da realidade e que possui concorrentes tão perigosos quanto eles. E por concorrentes, eu me refiro a demônios, monstros e criaturas de outras dimensões. Todos eles têm algum interesse em Edith, e ela só descobre parte dele no fim na história.

São poucos os trechos de terror do livro, mas são eficientes e bem escritos. Bem como todas as explicações sobre as empresas e os poderes, são claras e coerentes dentro do universo fantástico onde se passa a história. Entretanto, o romance de Edith com Kian não me convenceu. Acho que parte se deve à forma como Ann Aguirre escreve, ou como foi feita a tradução, não sei ao certo. Não consegui sentir uma emoção na descrição do relacionamento dos dois. É algo diretamente ligado à forma de escrever, e não aos acontecimentos.

Na verdade, acho que essa falta de emoção se deve a um fator predominante em vários livros destinados a um público entre os dez e os quinze anos, onde a preocupação do autor reside mais nos acontecimentos, do que na construção emocional dos personagens. Mas aí você me pergunta: o livro é destinado a essa faixa etária? Não, não é, mas parece. Não é um defeito, é uma característica. Tanto que todos os acontecimentos da história que poderiam ser mais pesados, na verdade não são. Todos eles são amenizados de forma a não incomodar. Inclusive as partes que envolvem algum tipo de terror. Aliás, até mesmo uma parte mais romântica, onde Edith e Kian resolvem se entregar ao desejo que sentem um pelo outro, é tratada de forma a deixar claro a não prática do sexo antes de firmar a seriedade de um relacionamento.

Novamente, não considero isso um defeito, mas uma característica. Elogiável, até. Ainda mais quando, hoje em dia, temas importantes para os jovens são tratados de forma leviana por várias obras de autoras famosas. Quem segue o blog sabe a quem me refiro. E acho importante você, leitor, ficar informado disso, para não pegar o livro para ler com uma expectativa e depois se decepcionar. Acredito que, desta forma, você irá aproveitar mais a história, e gostar também.

PERIGO MORTAL é uma aventura de fantasia e terror que diverte, com dois personagens interessantes, com inimigos criativos e situações de tensão. Acredito que a série possui tudo para se tornar um sucesso, mas isso depende mais da sequência. Vamos torcer para que mantenha a qualidade do primeiro. E se você é fã do gênero, pegue o livro logo, irá gostar, com certeza!

Ah, uma curiosidade: Ann Aguirre possui uma outra trilogia de fantasia/terror publicada no Brasil: Enclave, Refúgio e Horda. Os três livros foram publicados pela editora Callis, um selo da Martins Fontes. Não li nenhum, mas fiquei bem curioso por causa das sinopses. Sugiro que procurem, estão à venda por um bom preço na Amazon.


AVALIAÇÃO:


AUTORA: Ann AGUIRRE já foi palhaça, recepcionista, salvadora de gatos e dubladora, não necessariamente nessa ordem. Cresceu em uma casa amarela com um milharal como paisagem, mas agora vive no México com marido e filhos. Ela escreve todos os tipos de ficção para adultos e adolescentes.
TRADUÇÃO: Natalie GERHARDT
EDITORA: Rocco
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 368


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