Apesar de toda a liberdade de expressão existente nos dias de hoje, ainda é muito claro o quanto alguns assuntos são sensíveis devido às crenças pessoais ou puro pudor social. Sexo é um desses assuntos. Mas também podemos citar a intolerância às diferenças religiosas, raciais, entre outras. E no mundo literário, as coisas mudam muito de acordo com a época em que são escritas e publicadas as obras. Se no mundo liberalista atual,  ainda existem infinitos preconceitos e rejeições, quem dirá nos séculos conservadores passados. Como todos sabem, a censura de décadas anteriores, determinava os livros que poderiam ser lidos pela população ou não, assim como matérias de jornais. E, levando em consideração que todos adoram uma boa polêmica, nada como um apanhado de livros clássicos que deram o que falar na época em que foram publicados para nos fazer refletir.


120 DIAS DE SODOMA (Marquês de Sade): Considerada a principal obra do autor, é referência na literatura pornográfica, despertando choque em praticamente todos os seus leitores. Nela, quatro amigos aristocratas que sequestram 46 jovens e se isolam em um castelo na Floresta Negra para ouvir as histórias de suas vidas em bordéis e as taras de seus clientes. Para encenarem essa experiência sadomasoquista da qual ninguém sairá imune, os libertinos contam com as esposas, filhas e os jovens sequestrados, todos obrigados a se submeter às paixões ali descritas por quatro meses ininterruptos. Foi escrito em 1785 no período de prisão do autor na Bastilha, tendo permanecido clandestino até 1904, quando foi publicado pela primeira vez. Apesar de toda a censura sofrida devido às diversas cenas pervertidas que contém, inspirou vários escritores, dentre eles Roland Barthes e Simone de Beauvoir. O livro é reconhecido por sua complexidade e abordagem de diversos assuntos criminosos e polêmicos, como: incesto, estupro, escatologia, tortura, orgias e assassinato. Em suma, é capaz de revirar o estômago de muitos leitores.

 

LOLITA (Vladimir Nabokov): É um livro imprescindível, e um dos mais importantes romances do século XX. Polêmico, irônico, tocante, narra o amor obsessivo de Humbert Humbert, um cínico intelectual de meia-idade, por Dolores Haze, Lolita, de 12 anos, uma ninfeta que desperta seus desejos mais agudos. É uma história de paixão, obsessão, loucura e ruína. O livro, tão polêmico e perturbador, foi escrito entre 1950 e 1953, porém, após a recusa de diversas editoras norte-americanas, por ser considerado pornografia pura, foi publicado somente em Paris, no ano de 1955, pela Olympia Press. Apesar da falta de sucesso inicial,  atingiu o primeiro lugar na lista dos mais vendidos em 1958, sendo hoje considerado um dos principais títulos da literatura universal. O livro é uma obra de arte de Nabokov, tendo inspirado duas produções cinematográficas contando a história do pervertido Humbert, apaixonado por sua enteada, com direito a pedofilia e incesto. A leitura é um misto de sentimentos controversos, mas vale a pena cada página. Você pode conferir a resenha aqui.

 

O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO (José Saramago): Menos interessado na onipotência do divino que na frágil, mas tenaz, resistência do humano, Saramago reconta de forma irônica e crítica uma das histórias mais conhecidas no ocidente, dotando-a de corpo, cheiro, sensações, ambiguidades e novos significados recônditos. Nessa obra lançada em 1991, Saramago narra a jornada do “Filho de Deus” como um mero mortal, o que chocou muitos cristãos e fez com que a Igreja Católica fizesse duras críticas ao autor. O mais inusitado é a suposta relação descrita entre Jesus e Maria Madalena, considerada prostituta na Bíblia Cristã. Apesar de tudo, continua sendo o best-seller de José Saramago.

 

O PRÍNCIPE (Nicolau Maquiavel): Escrito em 1513, é um livro polêmico, perigoso e revolucionário. É um manual para ação. É a obra-prima de Maquiavel, considerado pai da ciência. Seus textos são analisados em escolas e universidades de todo o mundo até hoje. Apesar de ser referência para a formação do Estado moderno, a obra se tornou polêmico por seus trechos “os fins justificam os meios” e “é melhor ser temido que amado“, fazendo com que maquiavelismo se tornasse sinônimo de maldade. É uma das obras mais estudadas no mundo e serviu como inspiração para ditadores como Hitler e Stalin.

 

MADAME BOVARY (Gustave Flaubert): Considerado um dos melhores romances realistas de caráter psicológico do século XIX, “Madame Bovary” foi publicado em 1857 e foi precursor do realismo europeu. O enredo gira em torno de Emma Bovary, uma mulher que vive um casamento enfadonho com o médico Charles, e acaba buscando no adultério a libertação de seus problemas. A trama gerou uma repercussão intensa e permanente no contexto literário mundial. A personagem Emma foi contra todos os padrões da época, buscando felicidade no adultério e no consumismo desenfreado, que desencadearam um final trágico. Flaubert fez diversas críticas à sociedade da época, principalmente, à burguesia e à hipocrisia religiosa. O resultado? Foi levado à julgamento por ferir a moral e a religião. Confira a resenha completa aqui.

O que acharam da lista? Já leram algum desses famosos livros? Deixem nos comentários suas opiniões.