Jack Ryan é o personagem mais famoso de Tom Clancy. Suas aventuras já contam com dezesseis livros publicados nos EUA e treze publicados no Brasil. A trajetória do personagem vai de um simples analista da CIA, no primeiro livro, até virar presidente dos EUA, envelhecer e se aposentar. Ou seja, é uma criação fantástica do autor, complexa e contínua, onde o leitor acompanha praticamente toda a vida de Ryan.

Para o cinema, foram adaptados cinco livros: Caçada ao Outubro Vermelho, com Alec Baldwin no papel de Jack; Jogos Patrióticos e Perigo Real e Imediato, ambos com Harrison Ford como Jack; A Soma de Todos os Medos, com Ben Affleck como Jack; e o mais recente, Operação Sombra, com Chris Pine como Jack. São todos excelentes filmes, com excelentes atuações e roteiros.

As característica de Jack Ryan são as do herói por acaso, do sujeito comum, inteligente, que se vê metido em algo que ele julga estar acima de sua capacidade, mas como não tem saída, e nem a quem recorrer, precisa encontrar uma forma de se salvar e de salvar os outros. Pelos atores que interpretaram o personagem, isso fica bastante evidente. O mesmo acontece com a nova série da Amazon Vídeos, que começa a levar o personagem para a tela dos computadores e televisões com Internet. E quem encarna o analista da CIA, desta vez, é o excelente John Krasinski, que você provavelmente conhece da série THE OFFICE e do filme UM LUGAR SILENCIOSO, que ele escreveu, atuou e dirigiu. Aliás, ele também é um dos produtores da série, ao lado de Michael Bay e outros. Sim, o mesmo Michael Bay de TRANSFORMERS.

Embora não siga a trama do primeiro livro de Tom Clancy (e entendo o motivo, uma vez que ela é muito famosa, além de ser a melhor de todos os livros), a desta primeira temporada está bem localizada nos problemas e histerias do mundo de hoje. Jack é um analista da CIA que acaba por descobrir uma série de transferências bancárias suspeitas de pessoas ligadas a grupos extremistas islâmicos. Ao investigar, com apoio de seu novo chefe, James Greer (o ótimo Wendell Pierce), eles caem em uma trama terrorista que envolve armas biológicas e contaminação radioativa.

Como em quase todas as produções americanas que envolvem atentados terroristas, existe muito nacionalismo, cenas com bandeiras no fundo, frases de efeito, um heroísmo de cowboy do oeste. De certa forma, isso é compreensível, ainda mais depois do que aconteceu nas últimas décadas, não apenas nos EUA, como também na Europa. Mas a série, felizmente, não se prende nisso, e daí vem sua qualidade, quando ela mostra o outro lado, o lado de quem vive entre os extremistas, principalmente daqueles que são tão vítimas quanto os que sofrem os atentados.

Suleiman (Ali Suliman) e Ibrahim (Amir El-Masry) são dois irmãos que, quando crianças, perderam a família e quase morreram durante um bombardeio americano na cidade em que moravam. A dor da perda e o ódio cresceram com o tempo, e eles elaboram um plano inteligente e direcionado àqueles que ordenaram o ataque. Ibrahim é solteiro, mas Suleiman, o mais velho, é casado e tem três filhos: duas meninas e um menino. A família sabe que ele planeja algo contra o ocidente, mas Hani (Dina Shihabi), a esposa, também sabe que não pode viver ao lado de um homem que planeja uma matança indiscriminada e teme pela vida dos filhos. Por isso, ela decide fugir. E é nessa fuga, que acompanhamos as dificuldades que os refugiados enfrentam, a forma como eles conseguem transporte, o que precisam se sujeitar e o perigo que correm.

Em paralelo, também acompanhamos o dilema do tenente Victor Polizzi, operador de uma aeronave não tripulada, que, devido a ordens equivocadas, mata um homem inocente. Consumido pela culpa, ele passa por momentos de depressão, mas tem a chance de redenção em um determinado momento. É emocionante o encontro dele com o filho e com o pai do homem que matou, onde fica clara a diferença cultural e de comportamento entre as pessoas do Oriente Médio e o ocidente.

Jack Ryan e James Greer funcionam como dupla, e a antipatia que sentem um pelo outro, do primeiro ao último episódio, tem um desfecho que é cômico e emocionante ao mesmo tempo. Eles possuem ideias e posicionamentos diferentes diante de tudo pelo que passam, mas nenhum dos dois está errado. São apenas pontos de vista diferentes. Da mesma forma, o roteiro se preocupa em deixar claro o ponto de vista de Suleiman. Apesar do extremismo, é possível o espectador compreender o que ele sente, o que o levou a chegar no ponto em que chegou. E isso fica mais claro na forma como ele educa o filho homem, apenas o filho homem. É possível enxergar os passos que levam as crianças e jovens a se tornarem terroristas. O que não justifica seus atos, mas esclarece e aponta onde reside o desvio da revolta para o assassinato. É nessa preocupação em mostrar os dois lados, que JACK RYAN, a série, de destaca das outras produções do gênero.

Os quatro arcos, de Jack, Hani, Victor e Suleiman, convergem para um único ponto até o oitavo e último episódio, e isso demonstra como o roteiro foi bem amarrado. As atuações estão excelentes, o ritmo acelerado e urgente, marca registrada de Michael Bay, estão presentes, e os poucos episódios, tornam a série quase como um filme mais extenso. Acredito que tudo correspondeu às expectativas da Amazon, uma vez que a segunda temporada já está em andamento e deve estrear ano que vem.

JACK RYAN é uma série dinâmica, de ação contínua, que demonstra de forma responsável o lado americano e do oriente médio, sem mistificar papéis do bem e do mal. Assista sem medo, não vai se arrepender.


AVALIAÇÃO:


CANAL: Amazon Vídeo
TEMPORADAS: 1
EPISÓDIOS: 8
GÊNERO: Ação / Suspense
DURAÇÃO: 42-64 minutos
ANO LANÇAMENTO: 2018