Ler Stephen King é compreender que um carro assassino pode, sim, ser assustador; que um fã insatisfeito guarda um enorme potencial para a crueldade; que esperto é quem tem medo de palhaço; que os cachorros, famosos pela lealdade, nem sempre são os melhores amigos do homem; e, na obra que resenhamos hoje, lendas são reais, os monstros existem.

A mão com o CANT foi puxada, mas a forma atrás da cortina do chuveiro ainda olhava para ele. Não era um homem, afinal. Uma coisa bem pior do que o pior homem que já tinha vivido

Em OUTSIDER, uma criança é brutalmente assassinada. Digitais, testemunhas oculares e sinais apontam para Terry Maitland, treinador da Liga Infantil de Beisebol e conhecido pelo seu bom coração, como culpado.  Mas e se, mesmo com todas as provas que não deixam dúvidas de sua culpa, há também uma gravação emblemática que prova a sua inocência? É possível que uma pessoa esteja em dois lugares ao mesmo tempo?

Em 521 páginas, com uma narrativa tensa e surpreendente, King desenvolve magistralmente uma trama que deixa claro os motivos que fazem das suas obras grandes sucessos – baseado nas listas anuais de vendas publicadas pelo New York Times. Com uma escrita um pouco mais densa, palavras mais rebuscadas, construções frasais mais complexas, o autor cria um cenário no qual se torna impossível não emergir no desespero e na aflição dos personagens. Mesmo sendo ficção, nos sentimos na pele de cada um deles. Nos tornamos parte da história. Sofremos, torcemos e vibramos por um final feliz.

Inquestionavelmente, um dos pontos mais fascinantes da obra é perceber as estratégias utilizadas pelo autor para contar essa história da forma com que foi contada. Dividida em capítulos que marcam momentos marcantes na narrativa, a cada página, nos afundamos mais nas inconstâncias, dúvidas e desafios do caso. Pegadas desaparecendo, um homem que não aparece nas câmeras, digitais misturadas e tudo óbvio demais. Descuido? Não! E se na verdade, por trás de tudo isso, não houvesse uma explicação racional e, sim, o sobrenatural?

OUTSIDER se enquadra em uma das melhores tramas já escritas por King. Diferentemente de algumas obras que já li do autor, ainda que sejam mais de 500 páginas, a narrativa é fluída e atrativa desde o início. Desde a primeira página, nos sentimentos aflitos e curiosos, dispostos a qualquer coisa para descobrir a verdade, mesmo que para isso, preciosas noites de sono sejam sacrificadas.

Os personagens são bem construídos e cativantes, cada um deles carrega verdades próprias e nuances surpreendentes. Ambos os principais, o detetive Ralph Anderson e o personagem do Cuco, são fascinantes. Novamente, King deixa claro que não é preciso de muito para criar uma narrativa surreal. na verdade, como sempre exaltado pelo escritor, o simples, o ordinário, pode ser ainda mais assustador.

Um único ponto que poderia ter sido melhor foi o final. Desenvolvido rápido demais, a forma com que os acontecimentos foram solucionados trouxeram certo tom de mediocridade para a trama, como se o grande vilão fosse, na verdade, um cara comum, simples de ser vencido. Senti falta da famosa dramaticidade do escritor, mesmo que para isso, fossem feitos mais sacríficos.

Havia alguém atrás dele, e não era ilusão. Ele via a sombra, comprida e fina. E… era uma respiração? Em um segundo, ele vai me pegar. Preciso cair e rolar. Só que Hoskins não conseguia. Estava paralisado. Por que não tinha dado meia-volta quando viu que o local estava vazio? Por que não tirou a arma do cofre? Por que saiu da picape, para início de conversa? Jack de repete entendeu que ia morrer no final de uma estrada de terra no município de Canning. Foi nesse momento que ele foi tocado. Acariciado na nunca por uma mão tão quente quanto uma compressa.

Recomendo OUTSIDER para os iniciantes e veteranos de guerra no terror. Acredito que irão gostar. Não é tão fenomenal como CHRISTINE ou CUJO, mas, ainda assim, é uma obra repleta de potencial.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Stephen Edwin KING nasceu em 21 de setembro de 1947, em Portland, e é um autor norte-americano. Cresceu lendo quadrinhos de terror/suspense, fato que estimulou seu amor pelo gênero, o que o tornou reconhecido como um dos mais notáveis escritores de contos de horror fantástico e ficção de sua geração.
TRADUÇÃO: Regiane WINARSKI
EDITORA: Suma
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 521


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