A franquia Harry Potter foi uma das mais lucrativas do cinema e um dos maiores sucessos literários da história. Chegou ao fim depois de oito filmes, e o estúdio, não satisfeito, desenvolve ANIMAIS FANTÁSTICOS E ONDE HABITAM, uma nova série de filmes que se passa antes dos originais, e já teve um capitulo lançado em 2016 com recepção mista. Agora é entregue ANIMAIS FANTÁSTICOS: OS CRIMES DE GRINDELWALD, segundo capitulo que nos prova que a própria autora do mundo bruxo, agora roteirista dos filmes, não consegue expandir a própria criação sem parecer uma novela de baixa qualidade. Vamos lá!

O amante e protetor dos animais mágicos, Newt Scamander, ainda tem pendências com o governo bruxo. Sua proibição de viajar pelo mundo é mantida por tempo indeterminado, a não ser que ele aceite uma missão do ministério, caçar e capturar o jovem Credence, o obscuro que sobreviveu depois dos eventos em Nova York. Newt não aceita a missão, porém é arrastado para ela sem ter muita escolha, já que todos estão à caça do rapaz, até mesmo Grindelwald, o bruxo mais perigoso do mundo, que fugiu da prisão e reúne seus aliados para botar seus planos em prática.

J. K. Rowling, autora de Harry Potter e agora do mundo bruxo expandido, assume mais uma vez o roteiro da produção. No primeiro filme, a mesma se provou extremamente inapta para a função e agora, neste novo capítulo, J.K perde o rumo completamente, e o resultado é um caos. O maior pecado deste segundo filme, é ser apenas uma ponte de ligação com os próximos. Ele não tem uma trama propriamente dita, é uma série de eventos e núcleos dramáticos que só pensam no futuro a longo prazo. Agora, para o espectador, é só sentar e esperar dois anos para poder entender um filme longo, com mais de duas horas de duração. O bruxo Grindelwald, que parecia ser o protagonista do filme, foge no início da produção e depois entra num buraco e some. A trama caminha para a busca desenfreada de todos por Credence, que sua jornada própria na produção é descobrir mais sobre seu passado. E nessas revelações, a trama se perde numa enxurrada de meias informações que mais confundem do que esclarecem os mistérios, e a maior reviravolta da produção é uma chacota a nível de uma fanfic mal estruturada e ingênua que ofende a inteligência do fã fiel desse mundo.

Tirando os últimos dois filmes, todos os seis capítulos de Harry Potter tinham uma trama própria, deixando migalhas a serem colhidas no futuro. Aqui, o filme não funciona sozinho, depende totalmente dos próximos capítulos a serem lançados e fica extremamente cansativo ter duas questões respondidas e receber outras duzentas pendentes. Todos os personagens anteriores são tratados com pouco carinho pelo roteiro, atirando-os em novos núcleos vazios, que também não são desenvolvidos, e suas resoluções não existem, pelo menos não neste filme. E o título da produção não faz jus ao próprio filme apresentado, ele remete aos animais e eles, na trama, tem pouquíssimo espaço e relevância, jogados totalmente para escanteio. O próprio Grindelwald aparece em pouquíssimos momentos, sendo destaque em todas as cenas em que está presente, porém as motivações apresentadas pelo personagem são trabalhadas numa velocidade absurda, tendo pouco ou nenhum impacto.

Tecnicamente, é um espetáculo, graças à sua maravilhosa reconstrução de época, figurinos clássicos e ao mesmo tempo modernos, e a respeitáveis efeitos visuais. Destaque para a ótima cena de abertura que envolve uma fuga, apresentando também um ótimo 3D para quem gosta da tecnologia. A direção do filme já não merece tantos elogios, por entregar um filme pesado, cansativo e sem ritmo, como se durante toda a projeção nada acontecesse. A edição do filme também não é lá essas coisas, deixando o espectador perdido e sem entender como todos os vários distintos núcleos se ligam entre si.

Ninguém queria Johnny Depp como protagonista vivendo Grindelwald, ainda mais depois dos escândalos envolvendo a agressão cometida pelo ator para com sua esposa. Todos ansiavam com uma possível substituição do ator e algo assim não seria tão difícil, já que o mesmo aparece em apenas alguns minutos no filme anterior. Ele foi mantido, e todos pensávamos que seria o protagonista desse novo capitulo. Bom, ele não é. Seu personagem foi totalmente atolado pelo roteiro, que parece um cego em tiroteio, não sabe em quem focar, não sabe o próprio propósito de existência. E o que podemos dizer sobre seu desempenho? Está dedicado, deixou de lado seu lado caricato e assumiu uma boa pose de vilão, sendo um destaque sobre todo o elenco. O segundo falso protagonista, Eddie Redmayne, na pele de Newt, deixou de ser tão bosta seca e assume seu manto com mais energia. Seus momentos com os animais são extremamente fofos e alguns emocionantes e sua interação com os outros personagens passou a ser mais interessante, com o ator injetando bastante curiosidade no espectador.

O hype desse novo filme foi sustentado graças à ilustre presença do icônico Alvo Dumbledore na juventude, vivido pelo ator Jude Law. Sua participação na trama é um belo enfeite, ele é mais uma das coisas que está sendo preservada para as próximas continuações. Quem se importa se está bom agora? Importante é estar bom para o futuro, porém é bom o estúdio saber que isso não cola com o espectador, fazer o público de trouxa tem um preço alto a se pagar, tomara que eles saibam disso. Um dos grandes focos do roteiro é na personagem da atriz Zoë Kravitz, e a mesma consegue tirar leite de pedra ao nos presentear com um bonito desempenho e um inesperado desfecho. Pena que as revelações envolvendo sua personagem, sejam confusas. A nova adição do elenco, Claudia Kim, infelizmente entra muda e sai calada. Seu arco, que envolve ser aquela cobra seguidora de Voldermort nos filmes do Harry Potter, também não é desenvolvido e tudo fica muito em aberto. Para a atriz só resta correr de um lado para o outro, talento desperdiçado. Por último, as duas irmãs bruxas e o trouxa que foram protagonistas no filme anterior, entregam desempenhos bons em tramas ridículas.

Primeiro seriam três filmes, agora foram anunciados cinco, e o rumor do momento é que o próximo pode se passar no Brasil. Essa novidade pode ser apenas uma grande jogada de marketing para gerar hype, já que o filme atual se passa na França e não faria diferença nenhuma se seus eventos se passassem em Marte. É triste ver um projeto tão perdido e sem foco. J.K precisa imediatamente abrir mão da função de roteirista e entregar o mastro para alguém competente. A linguagem da escrita e do roteiro não andam de mãos dadas, transformar um no outro é uma tarefa extremamente difícil que requer muito talento e visão. De longe o pior e mais problemático filme do mundo bruxo, uma mancha na reputação da franquia, que sempre entregou filmes divertidos com tramas interessantes. Tomara que os próximos filmes sejam essas grandes maravilhas que estão nos prometendo. O sacrifício feito nesse filme tem que valer algo no futuro, mas se nada mudar na equipe técnica, vai ser difícil sair coisa boa nas próximas continuações.


AVALIAÇÃO:


DIREÇÃO: David YATES
DISTRIBUIÇÃO: Warner Bros.
DURAÇÃO: 2 horas e 13 minutos
ELENCO: Eddie REDMAYNE, Ezra MILLER, Johnny DEPP, Jude LAW, Zoë KRAVITZ, Dan FOGLER, Claudia KIM, Alison SUDOL, Callum TURNER e Katherine WATERSTON