Adotar uma criança é uma das atitudes mais lindas que alguém pode ter, e todo o processo não é fácil. A burocracia é grande e a adaptação é um desafio. NÃO DEIXE MEU BEBÊ PARTICIPAR DE RODEIOS vai um pouco além ao abordar um casal que começa a ter problemas com o seu filho, e resolver essa questão não vai ser nada fácil, vamos lá!

Um casal russo que está se instalando na América se descobre estéril e enxerga na adoção a única possível forma de conseguir um tão sonhado bebê. Depois de muita luta, eles conseguem finalmente adotar uma criança e, durante anos, tudo é perfeito. A calmaria vai para o ralo quando Maya, que está esperando seu filho chegar da escola no ônibus, percebe que o menino não está no veículo escolar e ninguém parece saber para onde ele foi. Horas depois, Max é achado numa fazenda, olhando os peixes num lago, e seu comportamento, depois de ter fugido, fica mais estranho a cada dia. O menino não sabe que é adotado, e seus pais sentem que isso pode estar afetando seu desenvolvimento. Acabam planejando uma viagem para Montana, área rural dos Estados Unidos onde seus pais biológicos moram e onde ele nasceu. E nessa viagem surpresa, Maya espera que seu filho se encontre ao mesmo tempo em que ela e seu marido poderiam resolver seus problemas.

Um dos grandes problemas da leitura é a falta de foco. O leitor não sabe se deve se preocupar com o menino cheio de atitudes estranhas, que às vezes gosta de comer capim, ou se deve se preocupar com Maya, mãe do menino, que parece estar à beira de um colapso nervoso. Esses dois arcos ficam se alternando e nenhum deles assume o ponto principal da trama, que acaba se afundando numa infinidade de trivialidades. O casal russo tem uma grande família, que se mete em tudo, e esses parentes estão presentes em grande parte do livro e nos apresentam várias conversas desinteressantes, diálogos que não levam a lugar nenhum e enchem as páginas com futilidades. É difícil saber para onde estamos indo durante a leitura, a falta de foco prejudica até o sentindo central do texto, que se perde em capítulos grandes e numa história que é mal estruturada.

E mesmo com uma trama fraca, o livro consegue ter a proeza de não ser uma leitura incômoda. Não é aquela trama que o leitor tem o anseio de abandonar e, muito disso, é graças ao ótimo primeiro arco, que se foca no processo de adoção. A relação do casal imigrante com os pais biológicos do menino é abordada num interessante capítulo, que consegue injetar no texto muito sentimentalismo. De um lado temos o casal jovem que não estava pronto para criar uma criança; e do outro lado, um casal maduro que sente a necessidade gigante de ter um filho. E dentre o processo, a mãe biológica só tem uma condição para aceitar a adoção, que o novo casal não deixe o filho dela participar de rodeios. Tal frase dá título ao livro que poderia ter qualquer outro que não faria muita diferença.

A trama apresenta pelo menos uma personagem muito bem desenvolvida e esse posto fica com a mãe adotiva do menino, Maya. Em grande parte, acompanhamos a trama pelo seu ponto de vista e é possível sentir todo o seu medo, desespero e dúvidas, principalmente no arco do desaparecimento do seu filho e quando ele é encontrado. Sua relação com o marido é bastante trabalhada e quase vira o ponto central da história, e para o leitor isso se transforma numa dor de cabeça, já que os problemas conjugais do casal não são nada interessantes de se ler. Com exceção de um diálogo, onde é revelado o porquê de o casal não conseguir ter um filho, e tal revelação se transforma em algo muito real e que muitas mulheres vivem diariamente. Culturalmente, quando se pensa em infertilidade, automaticamente pensamos que é a mulher que tem o problema, o homem é sempre o coitadinho, a vítima da situação.

O ponto mais fraco do livro vai para o arco final envolvendo a viagem para Montana. A mãe e seus problemas recebem total foco, e o menino mal abre a boca e seus problemas são esquecidos. É nítido a falta de controle que o autor teve com sua própria trama ao querer abraçar o mundo, acolher todos os problemas e não resolver nenhum deles. No final fica um gosto amargo na boca, a sensação que caminhamos para ir a lugar nenhum. Não é uma trama ruim, mas fica difícil defender um livro que se enrola no seu próprio universo.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Boris FISHMAN nasceu na Bielorrússia e imigrou para os EUA aos 9 anos. É autor do romance Vidas reinventadas, publicado pela Rocco, que foi nomeado Notable Book of the Year pelo The New York Times e ganhou a medalha Sophie Brody da American Library Association. O trabalho de Fishman vem sendo publicado na New Yorker, na New York Times Magazine, no Wall Street Journal, na London Review of Books, entre outros. O autor vive em Nova York
TRADUÇÃO: Maíra Mendes GALVÃO
EDITORA: Rocco
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 370


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