As redes sociais, como Facebook, Instagram, Twitter, LinkedIn, por exemplo, passaram a fazer parte da forma como as pessoas tentam passar como se comportam, e como se comportam realmente, uma vez que, em muitos casos, esses comportamentos não são condizentes. Também passaram a fornecer inúmeras informações sobre gostos, opiniões e desejos das pessoas. Mais que isso: passaram a fornecer localização. E tudo isso somado, torna-se muito, muito perigoso.

Nas suas redes sociais, mesmo você desligando aquela opção de localização, uma pessoa má intencionada pode, facilmente, identificar os locais que você costuma frequentar, ou mesmo o local em que você está no momento. Basta prestar atenção nos detalhes, que qualquer um pode identificar onde você estuda, onde costuma comer com mais frequência, quando está viajando, quando vai ao cinema, em qual cinema, quais os shoppings que frequenta, ou as praias, e assim por diante.

É com base em pesquisas nas redes sociais que o assassino de O ÚLTIMO SUSPIRO escolhe suas vítimas. Então, ele cria um perfil falso com características que combinem com as preferências da garota que ele deseja. Entra em contato de forma descompromissada e, aos poucos, cria um vínculo, intimidade, que permite a marcação de um encontro presencial. É então que ele sequestra a garota, a mantém em cativeiro por dias, tortura, mutila e a mata.

Erika, a personagem principal, é uma detetive recorrente dos livros do autor. Quando comecei a ler, eu fiquei com receio que não entendesse algo devido a ser uma série. Não foi o caso. Realmente existem situações que remetem aos livros anteriores, mas todas essas referências vêm acompanhadas com breves explicações naturais, o que deixa o leitor por dentro do que aconteceu sem parecer forçado, ou sem quebrar o ritmo. Isso é importante e ficou perfeito.

Voltando a Erika, a forma como a personagem é construída pode incomodar alguns leitores, como me incomodou. Ela é rude e não mede esforços para conseguir o que deseja, mesmo que precise passar por cima de alguém ou quebrar alguma regra. No caso, ela quer voltar a fazer parte das investigações de assassinatos, uma vez que ela havia sido transferida para um setor burocrático devido a acontecimentos passados. Ela também não demonstra qualquer empatia com os colegas de trabalho e não exita em usá-los para atingir um objetivo. Esses comportamentos servem para definir a personagem como alguém duro, que está pronta para enfrentar assassinos, ou mesmo o machismo dentro de sua profissão, mas também podem afastar a simpatia do leitor por ela.

A narrativa é dividida com Erika e com outro personagem, o assassino. Não existe mistério em saber sua identidade, uma vez que acompanhamos seu passado e a forma como se tornou no monstro matador de mulheres. Ficamos sabendo de sua infância, se seus sentimentos de inferioridade, de seus traumas, da forma como ele pensa e como consegue se sentir melhor torturando e matando. Não existem descrições de violência explícita, a maioria é apenas sugerida. Mas o melhor desses capítulos, que não são muitos, é perceber como uma pessoa pode se passar por normal, sem levantar suspeitas do quanto sua mente é doentia e perigosa. Não por menos, existem tantos crimes de assassinato no mundo real. E embora não exista um mistério a ser revelado, ou seja, descobrir a identidade do assassino, a urgência da leitura se mantém, uma vez que ficamos ávidos para saber como Erika irá chegar até ele e como ela o irá prender.

O ÚLTIMO SUSPIRO é um thriller competente, com um assassino bem construído, que consegue passar medo ao leitor, e com uma detetive inteligente e competente, que embora antipática e grosseira, convence no seu papel e na forma como chega ao clímax. Mas o mais interessante e importante da obra, fica sobre a discussão do quanto as redes sociais podem ser perigosas, do quanto as pessoas simplesmente acreditam em qualquer coisa que um estranho conte, uma ingenuidade que pode ser fatal. Por isso mesmo, resolvi deixar abaixo alguma dicas sobre esse assunto. Acredito que elas serão úteis a todos, por isso, não deixe de as seguir. E por mais que uma pessoa afirme ser confiável, desconfie. Ainda mais se não a conhecer pessoalmente, apenas pela Internet.

CUIDADOS ESSENCIAIS

– Qualquer informação colocar na Internet se torna pública, qualquer um, com os meios certos, consegue ver e fazer uso dela;
– Suas informações podem ser manipuladas para objetivos escusos;
– Nunca poste nada que possa identificar onde você está, onde costuma ir, onde trabalha, onde estuda, quais ruas ou bairros frequenta, enfim, qualquer informação que possa indicar onde você pode ser encontrado;
– Nunca forneça informações de que está sozinho em casa, sobre o que comprou recentemente ou qualquer outra coisa que possa despertar o interesse de pessoas mal intencionadas;
– No seu perfil, coloque o mínimo possível de informações. Nunca diga qual a sua idade, a cidade ou bairro onde mora, ou mesmo onde trabalha. O mesmo para seus amigos e familiares;
– Conhece todas as opções de privacidade de suas redes sociais, e use-as;
– Não aceite amizades de estranhos. A partir do momento que você adicionar alguém na sua lista de amigos, ela passará a ter brechas para saber mais sobre sua vida;
– Nunca se encontre pessoalmente com alguém que você não conhece;
– Troque sua senha todos os meses;
– Não tenha dúvidas sobre bloquear alguém suspeito ou que esteja fazendo perguntas demais;
– Nas redes que permitirem, utilize a autenticação de duas etapas;
– Nunca passe seu telefone, e-mail ou endereço para alguém que não conheça pessoalmente.

Qualquer problema, denuncie no site www.denuncie.org.br


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Robert BRYNDZA nasceu no Reino Unido e já morou nos Estados Unidos e no Canadá. Seu romance de estreia, The Not So Secret Emails of Coco Pinchard (2012), deu origem à famosa
série de comédia romântica de Coco Pinchard
TRADUÇÃO: Marcelu HAUCK
EDITORA: Gutenberg
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 304


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