A trilogia Millennium, não era uma trilogia? E o autor original já não tinha falecido? Sim para ambas as perguntas, mas, depois de anos, a editora dos livros parece que viu necessidade de continuar a trama de Lisbeth e Mikael. Aqui vamos discutir se isso era necessário ou não.

A GAROTA NA TEIA DE ARANHA se passa anos depois do final do último volume e embarca num novo mistério, porém com os mesmos personagens. Um importante professor é assassinado e, aparentemente, sua pesquisa foi roubada, que, basicamente, consistia na criação de uma sofisticada inteligência artificial. Seu filho foi o único sobrevivente e, infelizmente, sofre autismo, não fala e, obviamente, quase não consegue se comunicar. Enquanto isso, Mikael e sua revista “Millennium” estão passando por uma crise e sofrendo nas mãos de investidores que querem controlar seu conteúdo. E para piorar, Lisbeth está novamente isolada em sua própria busca pessoal, que leva a hackear a NSA, voltando para si a irá dos americanos.

É uma trama nova, com um pezinho na antiga, então não é extremamente necessário ter lido a trilogia original. Claro que se você quiser entender tudo com exatidão, o conhecimento dos livros anteriores é necessário. Desta vez, Lisbeth não aparece tanto, mesmo tendo importância na trama, e acompanhamos mais o ponto de vista de Mikael, que era próximo à vítima. Junto com o lado dos investigadores, extremamente perdidos no caso que não conseguiram resolver sozinhos.

O jornalista David Lagercrantz assume a escrita, e sua prosa realmente se parece muito com a original dos livros anteriores. Pequenos pontos de vista para todos os personagens, um mistério grandioso e muitos suspeitos. Não parece apenas uma leitura que busca se escorar na fama da “Trilogia Millennium”, ele até cria arcos bem interessantes e o mistério é intrigante. Porém, o autor perde a mão bonito quando o assunto é Lisbeth, não conseguindo em nenhum momento trazer a alma da personagem em seus diálogos. Qualquer um que tenha lido a trilogia vai estranhar alguns traços dessa nova Lisbeth, não chega a ser intragável, mas a todo momento essa frase está na cabeça do leitor: Lisbeth jamais falaria isso!

O destaque do livro vai para o menino autista que mal aparece, porém que encanta o leitor. Com pais malucos e uma infância complicada, acabou recebendo pouca ajuda médica no momento certo. Seu pequeno arco com Lisbeth são, com certeza, as melhores páginas do livro. A nova rede de criminosos é interessante, porém um pouco genérica, promete mais desenvolvimento nos próximos volumes, mas o gosto que fica pro leitor aqui é um pouco amargo. Um desses criminosos, o assassino principal, é desenvolvido de uma forma curiosa, seu ponto de vista, além de ser profundo, consegue passar pro leitor certa empatia.

Lançado em 2015, esse volume mal resolve seu próprio mistério, deixando quase tudo para as sequências, uma já lançada em 2017 e outra prevista para 2019. É quase uma pausa, “olha vamos parar aqui a história, voltamos em dois anos”. É um pouco irritante, sim, mas nada muito revoltante. Quase metade das questões são respondidas e fica difícil se importar com a outra parte, já que o arco dos criminosos é meio insosso. Não fica muito claro o objetivo do roubo da tecnologia e nem sua utilidade, mas o livro consegue preparar bem o caminho para sua continuação. Já temos nome da vilã e sabemos quem ela é. Só falta descobrir o que ela faz, pra quem ela trabalha, quem ela comanda e com que objetivo ela faz tudo isso, quase nada né?

A nova trama é de fato interessante, mas não podemos negar o sentimento de que todo o poder se foi com a morte de Stieg Larsson, autor da trilogia original. O fogo na escrita é quase nulo e, para piorar, os desfechos são muito preguiçosos. As últimas vinte páginas são uma lástima de tão clichê. Mas é legal ver os personagens que tanto amamos de volta, mesmo que não tenha sido tão necessário uma nova aventura com eles.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: David LAGERCRANTZ
TRADUÇÃO: Guilherme da Silva BRAGA e Fernanda Sarmatz AKESSON
EDITORA: Companhia das Letras
PUBLICAÇÃO: 2015
PÁGINAS: 472


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