Damien Chazelle foi o diretor que nos presenteou com o belíssimo musical LA LA LAND e  o drama WHIPLASH, sobre um professor agressivo e seu aluno ingênuo em busca da perfeição. A bola da vez, O PRIMEIRO HOMEM, vai nos jogar em um dos momentos mais grandiosos da Guerra Fria, a corrida espacial.

O ex-militar e piloto de testes Neil Armstrong vive uma vida, no mínimo, perigosa, já que seu ganha pão é fazer testes em protótipos de aeronaves. Sua vida muda quando se candidata para uma vaga de emprego na NASA, empresa de exploração especial americana. Os anos 60 culminam no auge da Guerra Fria entre americanos e soviéticos, e no meio disso estava a corrida espacial, onde ambos os países disputavam quem iria chegar ao espaço primeiro e descobrir os seus segredos. O prêmio número um iria para quem fizesse o praticamente impossível: lançamento e pouso de uma nave tripulada na Lua.

Para contextualizar, a Guerra Fria foi uma guerra de influência onde as nações disputavam qual tinha o melhor modelo e quem iria dominar o mundo. Era capitalismo contra comunismo, uma guerra de propaganda, e ir ao espaço colocaria o país vencedor no topo do mundo, num lugar que vive no imaginário do ser humano desde que nos conhecemos como gente, a Lua, nosso satélite natural.

O roteiro segue a vida de Neil Armstrong, o primeiro ser humano a pisar na lua. O americano tinha uma vida extremamente reservada, não cantava glória e muito menos fazia propaganda sobre seu sucesso pessoal. A produção consegue captar tudo isso ao mesmo tempo em que aborda o quanto custou essa viagem à lua. O custo pessoal na família de Neil é muito doloroso ao se deparar com a realidade de que toda a vez que estão juntos, pode ser a última. O preço humano também é abordado, já que vários homens morreram de formas horríveis nas missões anteriores que testavam todos os componentes necessários para a viagem. Passa longe de ser um filme de propaganda enaltecendo os Estados Unidos, os feitos extraordinários que esses homens fizeram são honrados, mas será mesmo que valeu a pena? Era necessário ter feito tudo isso?

Junto com o reflexo pessoal e humano, o filme também aborda a dualidade dessas realizações na sociedade. A ciência não é barata e uma missão desse porte custava dezenas de milhões de dólares, enquanto o governo americano se atolava na fatídica Guerra do Vietnã e sua população passava fome graças à má distribuição de recursos. Alguns endeusavam os astronautas e eram quase super-heróis, outros achavam tudo uma perda de tempo e dinheiro. É um texto que consegue muito bem transitar entre todos os temas citados, porém um pouco pessimista ao deixar de fora alguns dos pontos positivos que essas missões, tanto dos americanos, como dos soviéticos, trouxeram ao mundo moderno.

A grandiosidade do filme está na sua direção e na habilidade sublime de Damien Chazelle ao colocar o espectador literalmente dentro dos foguetes. O foco no lado de dentro causa uma onda de medo e desconforto, o sentimento claustrofóbico é intenso e em algumas sequências é até possível sentir tontura e enjoou. É uma pequena amostra do que os astronautas passaram, entregando uma experiência surreal e única. O destaque vai para o ato final e a tão esperada chegada à Lua. A missão Apollo 11 foi totalmente replicada, e acompanhamos esse momento histórico como se estivéssemos realmente presentes nessa tão importante data inesquecível de 24 de julho de 1969, o pouso lunar. É praticamente impossível descrever como é pisar num lugar pela primeira vez tento todo um planeta olhando para você. Explorar e descobrir todo um belo e ameaçador território ao mesmo tempo em que luta com a saudade e a incerteza sobre a volta para casa ser ou não bem-sucedida. No mínimo, a pessoa precisa ter um baita psicológico para aguentar tudo isso.

A fotografia trabalha muito bem a visão dos astronautas, tanto no espaço, como na Terra, ao ir para um caminho de desfoque e estranheza a todo o momento e ao fazer qualquer tarefa, desde a mais difícil, até a trivial. A trilha sonora emociona enquanto te deixa arrepiado, e os efeitos visuais são belíssimos. Destaque também para a competente construção de época e fidelidade com os fatos abordados.

Ryan Gosling vive o protagonista, e na pele do icônico Neil Armstrong, entrega um misto de depressão, dedicação e talento. Ele nasceu para ser piloto e agora, sendo um astronauta, leva suas dores e tristezas para a lua a fim de conseguir uma pequena trégua com esse vazio que vive dentro de si. É um desempenho muito contido e fala muito sem fazer muita coisa, convence e transmite todas as dificuldades diárias que carrega. A britânica Claire Foy já provou seu talento sem igual na incrível serie da Netflix, THE CROWN, e ao viver a esposa de Neil, assume um novo patamar em sua carreira, provando que não é e nunca será uma atriz de um papel só. Consegue imaginar como é viver todos os dias sabendo que seu marido pode nunca mais voltar? Como criar filhos numa situação dessas? A solidão e o medo acompanham sua personagem em todos os momentos, e ainda precisa lidar com seu marido que, quando está em casa, fica deslocado e distante. Uma vida, no mínimo, dolorosa e sem o glamour que muitos achavam que tinha. Seu desempenho reflete o real preço dessa exploração extraordinária. Você vai longe para descobrir o novo e não aproveita o que está perto de você. Personagem forte e que marca presença em todas as cenas em que aparece.

Uma produção sobre o quão extraordinário pode ser o homem ao ser desafiado e sobre o que ele está disposto a pagar para conseguir o que quer. Não é aquele típico filme biográfico que estamos acostumados e passa longe de ser uma propaganda americana. Mostra a glória, mostra o custo, e entrega uma mensagem a todos nós. Uma experiência sem igual e que, com certeza, marcará presença no Oscar 2019.


AVALIAÇÃO:


DIREÇÃO: Damien CHAZELLE
DISTRIBUIÇÃO: Universal Pictures
DURAÇÃO: 2 horas e 22 minutos
ELENCO: Ryan GOSLING, Claire FOY