Jane é a filha mais nova de Anna e Tom. Uma noite, ela acorda por causa de um barulho, se levanta e anda pelo corredor da casa. Não vendo nada, ela retorna. É quando nota uma mão grossa, peluda, de alguém alto, na porta do quarto de sua irmã mais velha, Julie. Jane, com medo, se esconde dentro do armário do corredor. Pela fresta da porta, ela vê um homem levando sua irmã com uma faca em suas costas. Sem reação, Jane fica no armário por três horas, até que os pais acordam e a encontram. Mas para Julie, é tarde demais. Ela foi sequestrada. Oito anos depois, em um dia qualquer, tocam a campainha. Quando Anna abre, é Julie quem ela encontra. Mantida em cativeiro e por todos esse tempo, finalmente a soltaram, e ela conseguiu retornar. A partir de então, começa uma longa jornada de reconstrução da família, antes despedaçada. Isso até que um detetive particular aparece para Anna e conta que Julie pode não ser a sua filha desaparecida.

A narrativa de PARA SEMPRE PERDIDA é em primeira pessoa, feita por Anna, com capítulos alternados em terceira pessoa, onde acompanhamos a história de outra personagem, cujo nome muda a cada capítulo, e que é contada de trás para a frente. Pode parecer confuso, mas não é. Conforme você lê, compreende que é a mesma pessoa e o fato de conhecer onde ela chegou para ir descobrindo o que a levou até esse ponto, é fantástico e muito criativo. E ao mesmo tempo, você acompanha o desespero de Anna para tentar descobrir de é realmente Julie quem retornou, e se não for, o que aconteceu com sua filha verdadeira e o por quê dessa garota se fazer passar por ela.

Tudo é contado de forma tão dinâmica, tão envolvente, com fatos sendo revelados em sequência, que eu não consegui parar de ler até chegar ao final. Quando eu achava que já havia compreendido o que acontecera, algo acontecia que me fazia ficar em dúvida novamente. Mas a principal questão, que é o motivo de Julie ser sequestrada e quem é a garota que retornou, só é desvendado, literalmente, no último capítulo. E é surpreendente.

Preciso destacar duas coisas que não são as principais da histórias, mas se tornam importantes e passam uma mensagem muito importante. A primeira delas é a relação de Anna e Tom com Jane, a filha que presenciou o sequestro e não fez nada, porque ficou paralisada de medo. A menina, durante oito anos, precisou lidar com a culpa de não ter ajudado a irmão, enquanto era relegada em segundo plano pelos pais, que estavam em luto pela perda de Julie. E quanto Julie retorna, Jane continua em segundo plano, porque a atenção dos pais vai toda para Julie. É comovente ver o quanto a filha sofreu e continua sofrendo.

Outro ponto é sobre as cruzes da capa do livro. Até os últimos capítulos, eu não compreendia o motivo deles. Bem, existe um motivo, que acaba sendo a causa do sequestro, ou não, de Julie. Eu queria muito dissertar sobre isso, afinal é algo que já levou muitos jovens, e adultos também, a irem por um caminho em direção à destruição. Mas não posso. É a grande surpresa da trama e o fato que explica tudo o que aconteceu.

Entretanto, apesar de não poder tocar no assunto, deixo um alerta importante: se você tem um filho ou filha, preste atenção nele, nas amizades dele, com quem ele conversa pela Internet, o que ele pensa, o que ele deseja, faça parte da vida dele. Muitas vezes, você pode achar que conhece sua cria, mas não conhece. Crianças costumam avaliar os pais sem que eles percebam, e sentem medo de serem criticadas, de serem julgadas pelo que desejam ou por ideais que constroem. Até que é tarde demais para se fazer alguma coisa.

Também gostaria de falar da personagem de vários nomes, só que, novamente, iria estragar o prazer da leitura e a compreensão de quem ela é, além do motivo de existirem tantas identidades. Quando lemos toda a verdade, é doloroso, é triste. Mas é compreensível. A justificativa é convincente, desde que você conheça um pouco de história sobre esse motivo. Sim, é necessário o prévio conhecimento. Do contrário, você irá achar absurdo.

Faça o seguinte: após o final do livro, pesquise na Internet sobre o tema que levou ao sequestro de Julie. Principalmente na história recente dos Estados Unidos, tipo após os anos de 1970. Existem muitos casos, em especial dois bem famosos, que corroboram tudo o que Julie passou. Aí você verá que a realidade é bem mais absurda do que a ficção. Aliás, você nem precisa ir tão longe. Recentemente, aqui mesmo no Brasil, uma pessoa bastante famosa foi presa por atos semelhantes aos que acontecem no livro. Não vou falar mais, mas se você ler e lembrar desta resenha, vai conseguir saber de quem estou falando e de como essa pessoa é semelhante a outro personagem do livro.

PARA SEMPRE PERDIDA é um thriller emocionante, que prende e instiga a leitura da primeira à última página, com uma narrativa envolvente e muito bem construída. O motivo do sequestro leva o leitor a fatos similares que já ocorreram, e isso torna tudo mais cruel. Mesmo se você não gosta do gênero, vale a leitura pelo tema e pela mensagem do final da história. É importante, principalmente para quem tem filhos.


AVALIAÇÃO:


AUTORA: Amy GENTRY é americana de Houston, também cenário do romance, onde vive com o marido. É formada em literatura inglesa e trabalhou com vítimas de violência sexual e doméstica
TRADUÇÃO: Geni HIRATA
EDITORA: Rocco
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 304


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