Duas coisas me motivaram a fazer a leitura de A CORRIDA DE ESCORPIÃO: primeiramente, a autora, Maggie Stiefvater, que escreveu uma das minhas séries preferidas, a Saga dos Corvos; o segundo motivo, foi o simples fato de ser um livro único, algo um tanto quanto raro na literatura fantástica.

É importante dizer que minhas expectativas estavam altas, justamente por acreditar muito no trabalho da autora. Eu esperava ter pelo menos um pouquinho de tudo aquilo que eu senti quando li A Saga dos Corvos. E já vou dizer logo: me decepcionei.

A CORRIDA DE ESCORPIÃO é um livro que caminha lentamente para, só no final, entregar o que o leitor quer. Nossos protagonistas, Kate e Sean, participarão da famosa corrida de cavalos d’água que acontece todos os anos. Além de concorrida, a corrida também é mortal, já que os cavalos d’água são extremamente violentos e perigosos.

Sean é um veterano nas corridas, além de famoso pelo número de vitórias que já obteve em anos anteriores. Já Kate é totalmente inexperiente na competição. Ambos possuem motivações genuínas para participarem da corrida e ambos estão em situações que exigem a vitória. Kate e Sean possuem histórias de vida parecidas, com grandes tragédias envolvendo os cavalos do mar.

Tanto Kate quando Sean possuem fortes ligações com seus cavalos. Essa relação entre homem e animal é trabalhada de forma muito doce e delicada no livro. Certamente faz com que o leitor reflita. Inclusive, tem uma passagem no livro em que dois personagens debatem o fato desses cavalos do mar só existirem em Thisby, que é muito significativo.

É impossível não gostar dos personagens, sentir empatia e torcer por eles. Porém, torcer por um é torcer contra o outro, e isso coloca o leitor em uma situação complicada e envolvente ao mesmo tempo. Conforme os personagens narram, alternadamente, os dias que precedem a corrida, o leitor fica cada vez mais em dúvida sobre quem merece mais ganhar.

Mas vamos falar sobre os cavalos do mar? Essa espécie fantástica de cavalos que vivem no mar gera bastante estranheza no leitor no início da leitura. Porém, a autora soube conduzir a história com tanta naturalidade e sutiliza que, de repente, estamos falando sobre cavalos d’água como se fosse a coisa mais normal do mundo. É muito interessante conhecer esses animais e ver como eles podem ser tão parecidos e, ao mesmo tempo, tão diferentes dos cavalos que conhecemos.

O grande problema é: os cavalos do mar são todo o elemento fantástico do livro. Não tem mais nada além disso. Eu não sei vocês, mas quando eu pego um livro de fantasia para ler, eu espero bem mais do que apenas uma espécie diferente.

Sendo bem direta, o livro narra os dias que precedem a corrida, acompanhando os personagens enquanto eles se preparam para a disputa e, consequentemente, mostrando outros aspectos da vida de cada um, os conflitos pessoais, os treinos e, claro, a aproximação dos protagonistas.

É inegável que o livro consegue manter o leitor interessado, pois queremos saber como vai ser a corrida, quem vai ganhar e se teremos mortes importantes. Porém, eu achei cansativo o caminho percorrido até chegar ao esperado momento da disputa. Muitos momentos me entediaram e foram, em minha opinião, desinteressantes e até desnecessários.

E quando finalmente chegamos ao momento crucial do livro, é quando a autora resolve acelerar a narrativa. Os conflitos criados são resolvidos de forma tão simples que decepciona, e os desdobramentos, que tanto esperamos para ver, não justificam todo o caminho percorrido.

Eu senti falta daquele desenvolvimento de personagens que eu vi na Saga dos Corvos, que foi o que fez eu me apaixonar pela escrita da autora. Não que os personagens não sejam bem desenvolvidos aqui, pois eles são, mas nada muito memorável.

Para mim, um dos pontos fortes do livro foi o sutil debate sobre mulheres conquistarem espaços que sempre foram dos homens. Quando Kate decide participar da corrida, ela não estava totalmente preparada para toda a resistência que surgiria por parte dos homens. Na verdade, essa não é a única inovação trazida pela corajosa garota. E essas discussões aparecem no livro sem que seja preciso tornar esse o tema principal a história.

A edição é bem razoável. As páginas são muito carregadas de texto, o que torna a leitura ainda mais cansativa. O livro não foi de todo ruim, eu gostei dos personagens, gostei da narrativa e fiquei curiosa com o resultado da corrida. Porém, seria possível diminuir o livro pela metade que a historia seria a mesma, sem enrolação e, portanto, melhor.


AVALIAÇÃO:


AUTORA: Maggie STIEFVATER vive na Virginia com o marido, os dois filhos pequenos, dois cachorros, um gato e um camaro 1973. Ela é uma grande artista da música, é desenhista e atualmente apenas se dedica a carreira de escritora
TRADUÇÃO: Fal AZEVEDO
EDITORA: Verus
PUBLICAÇÃO: 2012
PÁGINAS: 378


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