A senhora Jumbo é um elefante de circo que sonha em ser mãe. E depois de esperar por tanto tempo, ela finalmente consegue o seu tão sonhado bebê. O pequeno Dumbo veio ao mundo com uma peculiaridade, ele tem orelhas enormes e logo vira motivo de chacota no circo. Agora ele precisa se aceitar e lidar com a perda de sua mãe e essa aceitação vai vir literalmente voando, pois as orelhas grandes de Dumbo vão lhe fazer alcançar os céus. Como já dizia a canção clássica: “Fiquei um mês sem poder falar, ao ver elefante voar” ♪

DUMBO é um dos maiores clássicos da história do cinema, lançado originalmente em 1941, foi o quarto filme animado lançado pela Disney. E ele foi feito para salvar o estúdio, que passava dificuldades financeiras. Logo, o filme tem uma duração bem curta, e mesmo sendo lançado no meio da Segunda Guerra Mundial, foi um sucesso de bilheteria. Agora, 78 anos depois, temos aqui o “live action”, desta vez com uma história mais expandida e que, infelizmente, desliza em trazer a magia do original para a nova geração.

A história clássica você já conhece, um elefante com orelhas grandes que descobre que pode voar. No novo filme, temos basicamente a trama clássica e uma totalmente nova, com o objetivo apenas de tapar buraco, fazer o filme ficar mais inchado. O roteiro agora nos apresenta um circo humilde que precisa de uma atração nova para lucrar mais, e um bebê elefante era a resposta para todas as questões. Mas o bebê nasceu com “deformidades” e ninguém esperava nada dele, até o mesmo voar pelo picadeiro e fazer todos quebrarem a cara. Isso vira notícia e logo um ricaço, dono de um circo de última geração, faz uma proposta de compra para o circo menor e a proposta é aceita. Dumbo, o elefante voador, agora numa nova casa, precisa realizar os desejos desse ricaço maluco que deseja que Dumbo voe com uma pessoa no seu dorso. Preciso nem dizer que isso é insano, pois o elefante é um bebê. E some a isso uma subtrama sobre um pai ausente que voltou da guerra, com o desafio de cuidar de duas crianças que perderam a mãe.

O roteiro é problemático e altera bastantes coisas da trama original. Aqui os animais não falam, houve uma humanização enorme do circo e os personagens que são pessoas recebem muito destaque, tanto que o Dumbo nem parece protagonista no seu próprio filme. No original, logo o espectador percebe que o circo não é tão bom quanto ele parece ser, já no novo filme, fora alguns problemas, o circo é bem santinho. Os novos personagens são em sua maioria caricatos, exceto as duas crianças, que no novo filme, receberam a tarefa de ensinar Dumbo a voar. Essa pequena trama funciona, e junto com o arco final, são as únicas coisas boas desse roteiro duplo desinteressante. Aliás, o ato final é extremamente mirabolante, tem fogo, destruição, explosão e curto circuito, funciona na trama e visualmente é impressionante. Ele vai totalmente na contramão da animação clássica ao trazer uma importante mensagem sobre animais em circos. Qual seria o desfecho perfeito para Dumbo? Lugar de animal é aonde mesmo? Em circo, com certeza não é!

A direção ficou a cargo de Tim Burton, diretor excêntrico que ama uma vibe gótica em seus filmes. Dentre os mais famosos, temos EDWARD MÃOS DE TESOURA e ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS. E com certeza ele não foi a melhor escolha para o comando, pois não consegue atualizar a história num filme conciso. Dá para sentir muito a mudança de tom durante os dois grandes blocos do filme, primeiro a reconstrução do clássico e depois o arco novo envolvendo a venda do circo e esse ricaço. São dois filmes diferentes que forçam um casamento que não cola. E nem durante a reconstrução da trama clássica o diretor conseguiu trazer a magia para a telona. Os momentos icônicos da animação estão aqui, porém todos foram alterados, alguns com toques sutis, outros bem bruscos. Tim Burton adora colocar a sua marca em tudo, mesmo quando o assunto é apenas reconstruir o que já foi feito. Mas ele perdeu a mão, se afundou na própria insanidade, pois para eu querer mudar algo, pelo menos o básico, eu tenho que fazer com qualidade. Sem falar que tem que ter muita coragem para mudar algo que já é perfeito por si só, coragem ou loucura mesmo, aqui o tiro saiu pela culatra.

O visual do filme é uma das coisas que também não impressiona. As cores são bem escuras, sujas e desfocadas. Os efeitos visuais são perfeitos apenas quando assunto é Dumbo, o pequeno elefante voador digital. A textura dele é incrível e seus olhinhos tristes são de cortar o coração. As cenas de voo são interessantes também, com exceção da bizarra sequência de Dumbo voando com uma moça em seu dorso, aqui os efeitos especiais são ruins de doer. A trilha sonora é bonita, o figurino da produção é bem pobre e a edição é bem ruim, e ela deixa ainda mais perceptível a mudança de tom e de como ela faz o espectador ficar desconfortável.

O elenco inteiro é uma perda de tempo. Poderiam ter feito como a animação clássica, zero humanos com destaque, seria perfeito. Mas aqui é o extremo oposto. Os nomes do elenco são famosos: Danny DeVito, se esforçando ao máximo para trazer carisma; Colin Farrell, na pele do bonitão veterano de guerra, vive um personagem bem inútil, se fosse excluído da trama não faria diferença; a atriz francesa Eva Green, já fez essa mesma personagem várias vezes durante a sua carreira, a francesa excêntrica. No papel, a personagem é bem ruim, mas pelo menos a atriz se esforça para fazer algo no mínimo aceitável. O veterano Michael Keaton vive o vilão e seu personagem é ridículo em absolutamente tudo. Burro, visualmente horroroso e patético, com direito a cena de chilique no final do filme.

O “live action” de Dumbo foi muito judiado. Direção ruim, roteiro desastroso, tecnicamente relaxado e ainda conta com um desnecessário elenco de estrelas. O importante foi deixado de lado, a magia, a emoção, o próprio Dumbo. O projeto só não é uma catástrofe por causa do seu bom ato final que entrega para o espectador uma maravilhosa mensagem sobre os direitos dos animais. Talvez para a nova geração, o resultado seja um filme agradável, mas para quem for amante da animação original, infelizmente, o que nos é servido é um grande prato de decepção.


AVALIAÇĂO:


DIREÇĂO: Tim BURTON
DISTRIBUIÇĂO: Disney
DURAÇĂO: 1 hora e 52 minutos
ELENCO: Colin FARRELL, Eva GREEN, Danny DEVITO e Michael KEATON