A nova trilogia da Cassandra Clare sobre os caçadores de sombras chega ao fim. A jornada de Emma, Julian e seus vários amigos culminaram numa quase guerra entre os filhos de Raizel e o reino das fadas. O encerramento prometeu ser épico, será que foi? Vamos descobrir!

Antes de começar é importante frisar que o texto contém spoilers dos livros anteriores da saga DAMA DA NOITE e SENHOR DAS SOMBRAS.

Depois do desastre que foi a reunião do conselho com toda a Clave presente, Emma e Julian estão destroçados. Sangue inocente foi derramado e, junto com ele, foi a esperança do casal que sonhava com o exílio em resposta a todos os traumas que vivem. Um novo Inquisidor foi eleito e sua primeira ordem é derrubar o diálogo com os membros do Submundo. Ele agora se volta para Emma e Julian, que, desesperados e sem escolhas, aceitam ir numa missão surreal que envolve se infiltrar no reino das fadas, recuperar o Volume Morto e entregá-lo para o Inquisidor. Este, em troca, não irá revelar ao mundo que o casal está apaixonado. A missão é aceita, e eles precisam correr contra o tempo, a qualquer momento eles podem se transformar em monstros, como resultado de uma terrível maldição que recai sobre os Parabatais, caso eles se apaixonem.

O livro é o encerramento de uma trilogia e ele não é mesquinho quando o assunto são as páginas. A trama é enorme e durante suas quase oitocentas páginas o leitor é levado de um lado para o outro ao mesmo tempo em que parece que não vai a lugar nenhum. São muitos arcos e o livro, a cada novo capítulo, vai destrinchando os mesmos ainda mais. E para o leitor, inicialmente, isso não é um problema, afinal o livro é longo, vai dar tempo de resolver tudo. Errado! Não dá.

A trama começa exatamente onde SENHOR DAS SOMBRAS terminou: Livvy Blackthron e o Inquisidor estão mortos. O funeral acontece em seguida e a missão de Emma e Julian também, com eles sendo rapidamente separados de seus irmãos menores. E acontece a mesma coisa que já aconteceu nos outros livros da Cassandra Clare, um grupo parte para uma missão num lugar misterioso, eles não têm apoio, um plano e só torcem para que tudo dê certo. Em seguida são capturados, recebem ajuda inesperada de alguém e etc. É a mesma fórmula que a própria autora já desgastou. Mas não feliz com esse resultado, a autora, depois de desenvolver esse arco, emenda um novo que é exatamente igual ao anterior. Uma missão num lugar misterioso, sem plano, sem suprimentos, ajuda inesperada chegando do nada e um desfecho milagroso. Claro que a trama avança um pouco durante esses clichês intermináveis, mas a sensação que fica é que a autora já usou tudo que essa história poderia oferecer. Ela está totalmente perdida, recicla sem pudor tramas antigas, toda a hora insere personagens de sagas anteriores no meio da trama, como uma forma de tapar buracos que esses novos personagens deixaram.

Agora também temos nesse universo realidades paralelas e filhos/parentes perdidos que aparecem do nada para ajudar num momento oportuno. A trilogia construiu um mistério mirabolante sobre a maldição que afeta Parabatais, guerreiros unidos pela alma que compartilham sua força entre si. Caso eles se apaixonassem, o poder dessa união sairia de controle e ambos iriam se transformar em monstros.  Durante a leitura é apresentado uma série de possíveis caminhos para resolver esse problema, porém a trama escolhe seguir a coisa mais óbvia possível, jogando um belo de um balde d’água no leitor. O desfecho disso é tão vergonha alheia que, só de imaginar a cena descrita nas palavras, a gente dá uma risada.

E o grande embate final que prometia ser épico, é basicamente uma cópia do desfecho do livro AMANHECER, último volume da Saga Crepúsculo. Lá eles fazem uma reunião e precisam de testemunhas para provarem que estão certos e evitarem uma guerra, lembram? Aqui é exatamente a mesma coisa, com direito até a uma batalha mirabolante. Mesmo a luta sendo trabalhada por um tempo significativo, a mesma carece de conteúdo e potência. Quase não se tem um preço a pagar e para o leitor fica a sensação de que tudo foi fácil demais. Três livros enormes e tudo se encerra assim? Bem decepcionante.

Mas a autora não é boba nem nada e já dá sinais de que uma nova saga irá surgir em breve. O final é todo picotado/massacrado com o intuito de deixar pontas soltas, e dois personagens, que foram jogados do nada no meio dessa saga, são deixados na geladeira, apenas serão descongelados em livros futuros.

Por último, temos os romances. A trama sempre amou trabalhar personagens apaixonados que não podem se apaixonar, amores impossíveis e etc. Isso era até bacana, porque esses romances geralmente trazem bastante representatividade para diferentes tipos de casais. Porém, neste último volume, a autora meio que esqueceu o que significa a palavra limites. Somos apresentados a um triangulo amoroso tão sem sal e tão sem noção, que fica até difícil acreditar que isso realmente está acontecendo. Uma chatice sem fim e bizarrice para ninguém botar defeito. Zero noção.

Cassandra Clare é uma boa escritora e criou um universo muito interessante, com uma legião de fãs e um firme legado. Porém, depois de quinze livros, três sagas, três derivados, um filme e uma série de tv, será que esse mundo ainda consegue se expandir? Com qualidade? Com novidade e coerência?

O início da trilogia OS ARTIFÍCIOS DAS TREVAS foi interessante; DAMA DA MEIA-NOITE é divertido; SENHOR DAS SOMBRAS é intrigante; mas RAINHA DO AR E DA ESCURIDÃO encerra a saga deixando um gosto bem ruim na boca do leitor. Longo demais, desgastado, desinteressante e extremamente forçado. Decepcionante final para a jornada de Emma e Julian.

A saga ANJO MECÂNICO segue sendo o melhor trabalho da autora. E Cassandra, amor, chega se ressuscitar toda a hora o Jace e a Clary, né? Será que um dia você vai conseguir deixar OS INSTRUMENTOS MORTAIS em paz? Foca nos personagens novos aí, filha!


AVALIAÇĂO:


AUTORA: Cassandra CLARE nasceu em uma família americana no Teerã, Irã, e passou grande parte de sua infância viajando pelo mundo com sua família. O fato de que sua família se mudava muito, ela encontrou familiaridade nos livros e estava sempre com um livro debaixo do braço. Após a faculdade, Cassie viveu em Los Angeles e Nova York, onde trabalhou em várias revistas de entretenimento e até mesmo em alguns tablóides bastante suspeitos, onde ela relatou sobre a viagem ao mundo de Brad e Angelina e as avarias do guarda-roupa de Britney Spears. Ela começou a trabalhar no seu romance YA, Cidade dos Ossos, em 2004, inspirada na paisagem urbana de Manhattan, sua cidade favorita. Ela dedicou-se em tempo integral em sua ficção fantasia. Atualmente, reside em uma antiga casa vitoriana em Nova Iorque com seu noivo, seus gatos, e lotes e lotes de livros. A triologia The Mortal Instruments tem sido citada em muitas listas de Best-Sellers.
TRADUÇĂO: Rita SUSSEKIND, Ana RESENDE
EDITORA: Galera Record
PUBLICAÇĂO: 2019
PÁGINAS: 760


COMPRAR: Amazon