Começou como uma fanfic, logo virou um projeto literário online colaborativo e terminou como um livro propriamente dito. O romance vai acompanhar um casal problemático, estrelando um filme extremamente problemático e nocivo que, infelizmente, é apenas um distribuidor de pensamentos errados sobre a saúde de um relacionamento. Vamos entender melhor isso!

Tessa é uma jovem estudiosa e muito dedicada em seus objetivos. Depois de muita luta, ela finalmente entra na faculdade. Sua mãe sente muito orgulho de todas as suas conquistas, e seu namorado Noah, mais jovem, presta todo o apoio a Tessa em tudo o que ela for viver daqui para a frente. A jovem gosta muito de literatura e gasta seu tempo livre com os grandes clássicos. Ela não se interessa por festas, mas depois da insistência de sua colega de quarto, elas acabam indo para uma. Na festa, além da jovem ser motivo de chacota por ser caloura, ela acaba conhecendo um menino chamado Hardin. Durante um jogo, Tessa é desafiada a beijar esse menino alto, esbelto e misterioso. Ela recusa e vai embora, porém, conforme os dias passam, Tessa e Hardin acabam se encontrando em vários lugares e o atrito entre eles é grande. Num belo dia, literalmente do nada, ela aceita ir num passeio com ele. Ele a leva para seu lugar favorito do mundo, um lago no meio de uma floresta sinistra, e lá, depois da tensão entre ambos se transformar em desejo, Hardin anuncia que eles não podem mais ser só amigos. Ele é o garoto problema, cheio de tatuagem, rebelde e nervosinho. Aparentemente tem um caso com outra garota, e Tessa está cheia de dúvidas e desejo. Ela já tem um simpático namorado e deveria estar focada nos estudos, mas deixa isso tudo de lado e embarca num luxuoso romance com Hardin. E no meio desse amor e luxuria, os problemas vão aparecendo.

A trama realmente só tem isso para nos oferecer e ela nem precisa inventar coisas mirabolantes para ser tóxica. Aqui apenas o básico já faz um estrago. É sempre uma jovem bonita, inteligente e ingênua que atrai a atenção do garoto problema com ares de psicopata. O roteiro parece ter ciência de que ele é tosco, quase uma cópia mais leve de 50 TONS DE CINZA, leve no sentido sexual. Porém com a mesma carga de coisas ruins. É quase um manual de como viver um relacionamento abusivo. O garoto faz joguinhos mentais com a menina, é grosso, ignorante e, acima de tudo, cria uma realidade onde a menina não precisa de mais ninguém, apenas dele. E a menina não parece achar nenhum problema nisso. Afinal ele é lindo, rico e charmoso, vale tudo por ele. Tessa literalmente conhece Hardin há poucas semanas e mesmo assim o roteiro faz ela se entregar para ele por completo, sexual e até financeiramente, já que em determinado momento, ele passa a gerir tudo para ela. O filme ainda dá palco para a rivalidade feminina, onde duas garotas brigam e se odeiam apenas por causa de um rapaz e, para piorar, até a mãe da Tessa é posta em determinado momento como vilã. O garoto apareceu ontem e por ele vale tudo, dane-se o conselho de pessoas que me amam. Dane-se os estudos, eu quero é ele.

E para a menina isso é um ótimo plano, mas porque então ela paga tão caro? A forma como o filme faz Tessa terminar com seu primeiro namorado, tendo como Hardin o pivô da separação, é ridículo e cruel. Vilaniza as mulheres, mostrando que para elas apenas a beleza importa, se o cara normal me trata bem, isso não vale de nada. O que vale é o cara lindíssimo, rico e charmoso. Ele não me trata bem, mas quem se importa? Ele é lindo. Beleza sempre acima de caráter e respeito, ótima mensagem para passar pros jovens, né? E como o roteiro não cansa de ser tosco, ele ainda insere um passado trágico para a vida de Hardin, o garoto problema. Ele passou por uma situação terrível, tem um grande trauma, que é inserido literalmente do nada, o roteirista tirou isso do ** e todas as esquisitices, falta de respeito e ignorância com Tessa são desculpadas. A personagem perdoa ele e o filme manipula o público a fazer o mesmo. E isso funciona de uma forma surreal. Na sessão que eu estive, cheio de jovens, dava para ouvir os choros e sussurros de compaixão para com os personagens e junto disso ia a mensagem de que a função da mulher é dar apoio ao homem problema. Ela precisa se colocar de frente aos problemas para salvar o cara, e se colocar de frente significa receber grande parte dessas dores em forma de agressões mentais e que podem caminhar para as físicas. Mas vale a pena né, afinal ele é tão lindo e é só meu, vale sim toda a minha saúde mental e minha segurança, meta de relacionamento ❤

Você acreditaria se eu dissesse que eu ainda nem te contei a pior parte? Se você assistiu ao trailer, deve ter notado como o filme é vendido para o espectador, um casal jovem, um homem deslumbrante que esconde um segredo. A vida dela nunca mais será a mesma depois dele. E depois disso, o espectador já espera algo pesado, talvez? Sabemos que tem algo errado, e ao assistir ao filme, nossa meta é descobrir se a moça, Tessa, irá entrar num relacionamento abusivo com um abusador ou com um cafajeste. Ela vai apanhar ou vai ser enganada? É essa a dúvida que o espectador precisa desvendar ao assistir AFTER. Olha que coisa horrível que é vendida para nós, a mulher vai se ferrar de algum jeito, nós só precisamos descobrir de qual jeito. Preciso nem mais explicar como esse filme é errado, perigoso e tóxico. A vida de uma mulher está em jogo e nós somos convidados a assistir essa tortura sem fim.

Então o filme não tem nada de bom? Tem sim, a direção é bonita, ela consegue criar muita tensão sexual entre os personagens. A fotografia do filme enaltece muito as paisagens naturais presentes nas locações. O figurino do filme é bonito e a trilha sonora é bacana. O elenco principal também é competente, a atriz que vive Tessa, Josephine Langford, consegue transmitir bastante ingenuidade e paixão para sua personagem, e o ator que vive Hardin, Hero Fiennes-Tiffin, realmente tem cara de psicopata, além é claro de ser um ator lindíssimo e muito charmoso. Ele tem um olhar tão esquisito que até passa para o espectador uma energia ruim. E acredite se quiser, o ator tem como seu trabalho anterior mais famoso, o jovem Voldemort, em Harry Potter e o Enigma do Príncipe, preciso nem dizer mais nada. Então o filme é razoável né, afinal apenas o roteiro é ruim. De certa forma sim, mas será que dá para passar pano para uma história tão horrível como essa? Tem como admirar algo que está tão ligado a outra coisa extremamente ruim? É como eu elogiar Auschwitz, o maior campo de extermínio judeu durante a Segunda Guerra Mundial. Era uma obra enorme, feita às pressas e funcionava perfeitamente para seu objetivo, realmente algo extraordinário. Mas lá dentro aconteciam coisas horríveis, coisas sem explicação que disseminavam a morte e a repulsa para vários povos. Posso ter exagerado no exemplo, mas é essa a ideia que eu quero passar, dá para elogiar um filme que ensina para o espectador que a mulher é apenas um objeto para o homem? Que ela está destinada a aceitar tudo em troca de beleza e dinheiro? Num mundo como o nosso, onde o feminicidio está com estatísticas altíssimas, onde uma mulher é agredida a cada minuto no Brasil, como eu posso dar biscoito para um filme desses?

E o final disso tudo é outro grande desserviço. Quando você pensa que a jovem seguiu em frente, vem um balde de água fria na cara o espectador. Novamente, tudo vale a pena, desde que a beleza e o dinheiro estejam aos montes. Que tristeza uma mensagem dessas em pleno século 21. Um filme desprezível e perigoso que espalha uma mensagem tóxica, nociva, principalmente para os jovens.

Texto feito sem conhecimento prévio do livro.


AVALIAÇĂO:


DIREÇĂO: Jenny GAGE
DISTRIBUIÇĂO: Diamond Film
DURAÇĂO: 1 hora e 46 minutos
ELENCO: Josephine LANGFORD, Hero FIENNES-TIFFIN