De todos os álbuns que fazem parte da primeira leva de edições da Graphic MSP, o da TURMA DA MÔNICA era o mais esperado pelo público, uma vez que ele traria uma nova visão dos personagens que são o motor da empresa. A responsabilidade foi passada para os irmãos Cafaggi: Vitor e Lu.
A escolha se mostrou acertada, uma vez que a arte e o roteiro possuem toda a sensibilidade que os personagens requerem. Embora com um traço diferente, todos estão perfeitamente caracterizados, tanto na forma, quanto na cor. Utilizando tonalidades gastas, pouco saturadas, as cores transmitem leveza e remetem pura nostalgia. Em certos quadros, a pintura encanta pela leveza e pela qualidade.
O enredo usa uma fórmula infalível: jovens em uma aventura pela cidade em busca de um amigo para ajudar. No caso, Floquinho, o cachorro do Cebolinha. A química entre eles é explosiva como nos gibis, e a fidelidade da amizade também. A isso, os autores acrescentam uma boa dose de carinho pessoal, transformando uma história simples em algo que parece muito além de uma busca pelo parque.
LAÇOS se inicia com Cebolinha ainda bebê, época em que ganhou Floquinho, e a promessa do quanto o pequeno cachorro seria importante na sua vida. Dá um pulo de tempo e já acompanhamos as confusões de Cebolinha e Cascão para conseguir pegar o Sansão da Mônica. No fim da aventura, voltamos novamente ao passado, desta vez na época da creche, quando os quatro amigos se conheceram. Ambos os períodos são desenhados e coloridos pela Lu Cafaggi, enquanto o presente, com eles aos sete anos, são desenhados e coloridos pelo Vitor Cafaggi. Não sei dizer qual dos traços é mais fofo.
Toda a história poderia ser comparada facilmente com filmes como CONTA COMIGO, pela forma como os garotos são apresentados, como se relacionam e pela coragem que assumem para ajudarem uns aos outros. Inclusive, uma ou outra parte remete muito a esse filme, como quando os quatro fazem uma fogueira no meio da floresta e trocam lembranças de experiências pessoais. Mas existe um detalhe que vai além disso: eles são personagens conhecidos desde que começamos a ler, em uma aventura que transcende o que nos habituamos nos quadrinhos mensais. Isso causa uma sensação de familiaridade e estranheza ao mesmo tempo. E é uma sensação muito boa.
O sucesso que LAÇOS alcançou como HQ, com duas sequências, formando uma trilogia, provando que a turminha era viável em outras mídias e em diferentes traços, mantendo suas características primordiais, foi o suficiente para se iniciar a produção do filme com atores reais. A tarefa de encontrar quatro crianças que representassem suas contrapartes do papel não era uma tarefa fácil, mas foi cumprida com sucesso, na minha opinião. Giulia Benitte, como Mônica; Kevin Vechiatto, como cebolinha; Laura Rauseo, como Magali; e Gabriel Moreira, como Cascão, ficaram perfeitos fisicamente, além de transmitirem toda a fofura e inocência dos personagens.
Quando saiu o trailer, eu temi que alguns detalhes não funcionassem, como o dente postiço da Mônica e o cabelo cheio de gel do Cebolinha, mas não senti essa estranheza durante o filme. O mesmo pode ser dito do teor infantil da história da HQ. O enredo do filme segue quase fielmente tudo o que tem na Graphic MSP, com leves mudanças e a inclusão da participação do Louco. Mas o mais importante foi mantido de forma integral, que é justamente a inocência dos personagens. LAÇOS, o filme, é quase uma utopia de perfeição, um mundo dos sonhos, em uma pequena cidade nas nuvens, com pessoas que não apresentam indícios de maldade, nem mesmo o vilão da história. É raro, hoje em dia, assistir a algo com tanto alto astral, com tantas energias positivas. É aquele filme que limpa a alma, com personagens livres de qualquer traço de corrupção.
Entretanto é necessário avaliar LAÇOS, o filme, sob duas perspectivas: a primeira é a platéia que é fã da turminha, que cresceu lendo os gibis, e que se delicia vendo suas versões em carne em osso. Para essas pessoas, como eu, foi uma experiência maravilhosa, onde todos os defeitos foram ignorados, onde dá vontade de parar a exibição em algumas partes, apenas para ficar olhando os personagens, sorrindo.
A segunda é crítica e imparcial, e nessa, LAÇOS possui muitos problemas. Apesar da semelhança física, os quatro atores mirins não convencem dramaticamente, é nítido o esforço que o diretor fez para conseguir extrair algumas atuações mais profissionais. As falas são sempre curtas, exatamente para diminuir essa fragilidade de interpretação, e mesmo assim, aquelas que exigem uma diversidade de sentimentos ou expressões, possuem vários problemas. Entretanto, os quatro são imensamente melhores do que os adultos. Algumas cenas dos pais dos quatro são pura vergonha alheia. Uma em particular, quando a mãe do Cebolinha recebe um telefonema de que o filho não foi encontrado, deu vontade de chorar de tão ruim. Se removessem os pais do filme, ficaria melhor.
Outro problema são os diálogos, alguns repetitivos, outros sem graça. As poucas piadas não funcionam, com exceção daquelas que já conhecemos das HQs, como a gritaria da Mônica perseguindo os dois meninos com o coelho girando acima da cabeça. Um filme desse porte, precisa ter algo que faça o público rir, mas não existe nada, apenas cenas que tentam passar, de forma forçada, um humor que não é humor.
Mas o maior problema reside em algo mais sensível e até mais importante: o ritmo. LAÇOS não possui ritmo, é parado, cansativo em muitas partes, com várias cenas que se estendem além do necessário, e com um excesso de closes que quebram o pouco ritmo que o filme tem. Isso pode afetar o interesse das crianças, bem como entediar o público adulto que não é fã. Então, com atuações fracas, diálogos pouco inspirados e uma falta de ritmo, LAÇOS só se salva pelos que cresceram com a turminha e por algumas crianças que ignoram tudo isso, apenas para poderem ver um sonho realizado. O que é uma pena.
O enredo, embora siga a HQ, acrescentou uma parte totalmente descabida, que é o motivo do Floquinho ser roubado, mesmo utilizando algo que é referência a histórias antigas. No gibi, quem faz isso não precisa de propósito, ele apenas faz e leva o cachorro para junto de outros. No filme, eles dão um motivo, mas algo que se torna absurdo dentro da trama e que sequer é concluído, fica em aberto depois que o ladrão é capturado.
Também preciso comentar a participação especial do Maurício de Souza. Claro que ele apareceria, o que é muito justo, e o que também todo fã esperava. Mas não da forma que fizeram. Como exemplo, posso pegar as participações que Stan Lee fez nos filmes da Marvel. Para compensar a óbvia limitação interpretativa de Lee, suas aparições são sempre de uma frase apenas, engraçadas, com a duração de dois ou três segundos, o que é muito acertado e deixa todos satisfeitos. Entretanto, em LAÇOS, deram uma cena a Maurício, onde ele trava um diálogo, e mesmo sendo fã, eu fiquei com vergonha de tão ruim que ficou.
Entretanto, uma outra participação, a de Rodrigo Santoro como o Louco, ficou perfeita, tanto na atuação, como na caracterização e na montagem de toda a cena. A conversa insana que ele mantém com Cebolinha é uma das melhores coisas do filme, que acaba por ter uma função na sua conclusão, e que demonstra como o filme poderia ser muito melhor se feito da mesma forma, com um ritmo ágil e diálogos mais elaborados.
LAÇOS, a HQ, é uma edição linda, imperdível, que demonstra toda a capacidade dos personagens em traços e aventuras diferentes, com uma inocência que não existe mais nem nas revistas mensais. O filme mantém essa inocência, mas falha em várias outras partes, infelizmente. A sessão em que eu fui, na semana de estréia, estava deserta, e isso apertou meu coração. Espero que isso não tenha acontecido em outros cinemas pelo Brasil, espero que o filme tenha uma continuação, e espero, principalmente, que acertem essas falhas. Queria mais e melhor para a turminha.
AVALIAÇAO HQ:
AVALIAÇAO FILME:
AUTOR: Vitor CAFAGGI é um quadrinhista brasileiro, graduado em Desenho Industrial e professor na Casa dos Quadrinhos. Em 2008, criou a webcomic Puny Parker, em que imagina a infância do personagem Peter Parker e também a tira Valente, publicada pelo jornal O Globo. Sua primeira publicação independente, Duotone, e a coletânea de tiras Valente para sempre, ambas de 2012, renderam ao autor o Troféu HQ Mix de 2012, na categoria Novo Talento (Roteirista).
Lu CAFAGGI (Belo Horizonte) é uma quadrinista brasileira. Começou a divulgar suas ilustrações na internet em 2009 e, desde então, trabalhou principalmente com material autoral independente. Ganhou o 26º Troféu HQ Mix na categoria “Novo talento (desenhista)” por seu trabalho na graphic novel Turma da Mônica – Laços.
ILUSTRADOR: Vitor CAFAGGI e Lu CAFAGGI
EDITORA: Panini Comics
PUBLICAÇAO: 2013
PÁGINAS: 96
DIREÇAO: Daniel REZENDE
DURAÇAO: 1 hora e 37 minutos
ELENCO: Giulia BENITTE, Kevin VECHIATTO, Laura RAUSEO, Gabriel MOREIRA, Rodrigo SANTORO
COMPRAR: Amazon
Minha vida como leitora se iniciou com os livros de literatura da escola e é claro com os gibis da Turma da Mônica. Por isso, Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali tem um lugar especial no meu coração ❤.
Amei o colorido e os traços da HQ. A premissa, clichê é verdade, funciona no contexto e é até esperado.
Vai ser muito bom embarcar nessa aventura e descobrir como os 4 se tornaram amigos. Foi pra wishlist com certeza..
Quanto ao filme não tenho muita vontade de assistir justamente porque essa Turma faz parte da minha memória afetiva.
Torcendo pra quando o filme sair na internet, algum nerd desocupado edite todo o filme e remova as cenas desnecessárias dos pais no filme, vai ficar ótimo. Outra coisa triste é que as cenas de ação do filme são bem fracas e sem ritmo, fora a sequencia final na casa do ladrão, boa, mas poderia ser melhor e mais ágil.
Ahhh…isso que é ler algo e ficar com o coração apertado.
Primeira crítica do filme que não é assim tão positiva, ao menos, não é somente baseada na experiência de fã somente, mas sim, como amante de cinema e mesmo com essa tristeza no coração, adorei ler tudo isso nesta perspectiva!
Ainda não pude ir ver o filme(não chegou aqui em Lost que anda insistindo somente em Annabelle 3), mas assim que chegar, irei conferir com certeza.
E como fã dos gibis, tendo crescido os devorando, sei que verei o filme com este olhar e procurarei esquecer a parte da crítica mesmo.
Fiquei só apreensiva com isso do filme ser mais paradinho, isso por muitas vezes, incomoda e muito e a falta de ação, já que nos gibis, essa parte da correria, da aventura, sempre foi muito bem trabalhado!
Verei(se vou curtir, é outra resenha)
Beijo
Tem mais críticas com a mesma opinião no Youtube.
Olá! Essa HQ está tão primorosa! Pena que o filme, apesar de trazer um pouco da nostalgia para quem sempre curtiu essa turminha, tenha algumas ressalvas que talvez, possa ser bem difícil de engolir (ou no caso, assistir). Confesso que tinha grandes expectativas em relação ao filme e foi um grande balde de água fria ler essa resenha, mas pelo menos agora eu já sei o que me espera e não vou poder dizer que fui enganada (risos).
Sim, eu esperava algo melhor, mas né…
Ótima review!
Ainda não tive a chance de ler a HQ, mas quero muito ver o filme nas telonas. É lindo ver algo que conhecemos desde a nossa infância “ganhar vida”!
Acredito que tenha sim esses erros que você comentou, mas estou bem curiosa com essa adaptação. E acho que vou gostar muito das cenas que o Rodrigo Santoro aparece, pois normalmente gosto da atuação dele.
A cena do Rodrigo está ótima, vai gostar!
Olá Carl!
Os icônicos quadrinhos de Maurício de Sousa se consagraram como algo quase que cultural para a maioria das crianças brasileiras, e essa HQ entrega uma história encantara, que captura o melhor da interação e da amizade entre os personagens. É desapontador, contudo, que adaptação não faça jus à qualidade da história. Forçado, essa é a palavra que resume o filme, que embora entregue algumas passagens minimamente decentes, decepciona pelo despreparo dos atores.
Beijos.
Verdade, ele é forçado em várias partes
Nossa, essa HQ é linda, não acredito que estragaram o filme com situações mal explicadas, cenas fracas e atuações ruins. Estou bem triste, porque estava esperando muito desse filme. E sério que a sessão estava vazia? Gente, que dó… Ah, não… Ao menos o Louco salvou. Queria muito ver esse filme, mas agora a vontade minguou. Se eu for ver, vai ser expectativa zero (o que é bom).
Vá ver assim mesmo, ele poderia ser melhor, mas não quer dizer que não mereça ser assistido 😉
Minha infância era resumida em assistir a turma da Mônica, ainda não vi o filme e estou super animada pra assistir com minha filha. Essa HQ, não tenho nem palavras. Ela está simplesmente espetacular!!
Minha filha é simplesmente apaixonada pela turminha, assim como eu na idade dela. A gente cresce e a paixão continua, e isso é tão bom. Me preparei para ir ao cinema com ela assistir ao filme, mas tivemos de optar por assistir laços ou Toy Story $, por conta dos dinheirinhos (hihihi) e ela escolheu Toy Story pois ela é apaixonada também. Mas assim que der vou assistir com ela, e ver a magia da infância de volta nos meus olhos
Não deixa de assistir mesmo!
Oi, Carl
Nossa a Turma da Mônica fez parte da minha infância mesmo ainda bebê estraguei uns gibis da minha prima. Depois tive coleção dos gibis, que amava.
A HQ esta maravilhosa com dois quadrinistas, adorei o traços dos personagens que não perderam a essência dos originais.
Gostei muito da sua opinião sincera sobre o filme, vou fazer de tudo para ir assistir. Como na minha cidade não tem cinema e nas cidades vizinhas só vai estar em cartaz na semana que vem e os horários espero que seja compatível com minha disponibilidade.
Voltando para a HQ quero muito poder adquirir em breve e poder ler.
Beijos
Assista mesmo, apesar dos defeitos, vale a pena.
Olá, tudo bem? Nossa eu quero muito ler a HQ pois o filme eu achei muito meia boca, estava super animada pois meu sobrinho ama, e nós dois saímos decepcionados do cinema.
Também sai um pouco desapontado.
A turma da Mônica é o inicio de qualquer leitura na vida da maioria das pessoas que conheço, inclusive a minha. Ate hoje leio os gibis. Em relação ao filme ja percebi que tem vários pontos negativos, não tenho vontade de assisti por achar que pode perder todo o encanto que sempre tive pela turma.
Oi, Carl!!
Sou da geração que cresceu lendo A turma da Mônica e até hoje adoro pegar um gibi para ler, e fiquei encantada com essa HQ as ilustrações são lindas!! E com relação ao filme ainda não tive oportunidade de conferir mas fico triste que o filme não seja tão bom assim.
Bjs