O gênero terror no cinema tem várias subdivisões, e a franquia HALLOWEEN fez história no slasher. Que nada mais é do que uma série de filmes com um psicopata atrás de vítimas aleatorias, às vezes com vários ou nenhum motivo. O primeiro filme saiu em 1978 e foi um sucesso em todas as áreas possíveis. De lá pra cá, tivemos nove filmes, e agora estamos no décimo, que promete dar um fim ao assassino mais misterioso do cinema, Michael Myers.

Antes de começar é bom avisar que HALLOWEEN de 2018 é uma continuação direta do filme de 1978, então é importante ter pelo menos ele em dia para poder conferir o novo e captar todas as mensagens e situações a serem resolvidas. Os outros não são necessários, e a versão de 1978 está disponível gratuitamente no Youtube, então agora não tem desculpas para não conferir esse novo, que está bem interessante.

Quarenta anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, Laurie, sobrevivente, não consegue deixar o passado para trás. Sua vida foi moldada a estar preparada caso Michael volte para finalizar o serviço que deixou em aberto no passado. O trauma que carrega é pesado e fez com que tivesse um péssimo relacionamento com sua própria filha, que evita a companhia da mãe a todo custo. Tudo muda quando um casal de jornalistas começa a investigar o caso original dos assassinato que ocorreram na cidade, tendo Michael como culpado. Procuram dar um sentido para os atos do psicopata e suas motivações, porém eles não contavam que ao ser transferido para uma nova prisão, Michael conseguiria escapar e imediatamente iria ser um perigo para qualquer um que aparecesse na sua frente, principalmente Laurie e sua família, bem na noite de Halloween.

O roteiro consegue ser mais interessante que todos os outros nove filmes juntos. O subtexto está mais forte e é muito competente ao trabalhar o trauma. Uma pessoa que sobrevive a uma tentativa de assassinato do próprio irmão psicopata vai carregar isso consigo para sempre, e o roteiro constrói uma Laurie mais madura e amargurada, tendo como principal e único objetivo sua própria segurança. Laurie agora sabe atirar, pensa sempre na segurança e defesa pessoal, isso acabou destruindo a infância de sua filha, que ao invés de brincar como uma criança normal, aprendia a atirar.

O trauma é ampliado graças ao desempenho da suprema Jamie Lee Curtis, que retorna à franquia na pele de Laurie, papel que eternizou sua carreira no imaginário popular. No original de 1978, a atriz estava em seu primeiro trabalho e o tempo só a favoreceu para deixar a menina ingênua de lado e partir para a luta. Jamie transmite com perfeição o poder que o medo deixa nos sobreviventes de catástrofes ao mesmo tempo em que nos manda esperança ao mostrar que você pode fazer algo para se sentir melhor e garantir que nada disso aconteça com você de novo. Ainda nos presenteia com excelentes cenas de tenção e adrenalina. É aquele tipo de personagem azedo e carismático que rouba o coração do espectador. As sequências onde estão presentes Laurie, sua neta e sua filha, são “girl power” e dá vontade de deixar a vergonha de lado e gritar de emoção.

A ressalva que fica é que o roteiro poderia ter mostrado mais como esses quarenta anos de trauma afetaram a vida de Laurie. Os flashbacks são mínimos e pouco desenvolvidos, deixa um enorme gostinho de “quero mais“. O texto não tenta dar maiores explicações sobre as motivações do psicopata e não abandona o propósito central da franquia, que é basicamente sobreviver, sem entender porque está sendo caçado. Todo o ar da produção é de despedida e se estivéssemos diante do ponto final definitivo da franquia, o resultado seria muito satisfatório, porém o filme deixa várias pontas soltas para possíveis continuações, que não cheiram muito bem.

A trilha sonora clássica está presente e deixa o espectador tenso de vez em quando. A direção é muito competente e constrói muita tensão e nervosismo com cenas bem simples. Mesmo se passando quase todo de noite, o filme é belíssimo e tem uma fotografia de tirar o fôlego. Destaque para a sequência inicial na prisão e outra num banheiro. Jamie Lee Curtis é a alma do filme e o rouba inteiro para si, o resto do elenco é competente e os personagens, por incrível que pareça, não são irritantes e ajudam bastante a trama a caminhar, mesmo que sejam apenas alvos para o assassino.

Já é o terror slasher de maior bilheteria da história e conseguiu a segunda maior arrecadação no primeiro fim de semana para um filme de terror no geral, ficando atrás apenas de IT A COISA. Esse sucesso vem num ótimo momento para um filme que honra sua franquia ao entregar uma produção cheia de qualidades e que vai ter mais admiradores do que haters. No meu coração, foi uma despedida incrível para Laurie e sua luta contra Michael, chega de fazer essa mulher sofrer, 40 anos, bicho, quem aguenta isso?


AVALIAÇÃO:


DIREÇÃO: David Gordon GREEN
DISTRIBUIÇÃO: Universal Pictures
DURAÇÃO: 1 hora e 44 minutos
ELENCO: Jamie Lee CURTIS, Judy GREER e Nick CASTLE




 

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