Um dos sentimentos mais frágeis do ser humano é a confiança. Ela demora para se conquistar e se perde pelo menor dos motivos. Normalmente, confiamos no que vemos, no que sabemos, no que sentimos, mas como confiar quando tudo isso é tirado de nós? Como confiar se precisamos manter nossos olhos fechados? Essa perda é a essência psicológica de CAIXA DE PÁSSAROS. E ela é muito bem descrita e empregada na construção dos quarenta e três capítulos do livro.
Apesar de ser sua primeira obra, Josh Malerman consegue transmitir a insegurança e o medo que Malorie, o Garoto e a Menina (cujos nomes só conhecemos no fim da história, e por uma boa razão), precisam enfrentar quando saem da segurança da casa, onde viveram nos últimos quatro anos, para seguirem a barco por um rio na direção do lugar que pode ser a salvação. E todo esse percurso terá que ser feito de olhos vendados. Isso, porque as criaturas que enlouquecem as pessoas só pela visão de sua presença, podem estar em qualquer lugar.
A narrativa tem pulos entre o passado e o presente. Aos poucos, conhecemos como Malorie, seu filho e a filha de uma amiga, ambos com quatro anos de idade, chegaram até aquele ponto.
É particularmente triste, mas compreensível, como Malorie treina as duas crianças, desde que elas nascem, a fecharem os olhos e identificarem todos os ruídos e presenças ao redor. São quatro anos de treinamentos duros, mas necessários para que o plano de Malorie funcione. Ela espera por um dia frio, quando surgir uma neblina densa o suficiente para esconder os três no percurso da casa até o rio.
Empregando frases curtas, muitos pontos finais e quebra de linhas, Malerman consegue trazer para o leitor a aflição que os personagens sentem quando saem da casa para pegar água em um poço, ou quando vão à procura de comida em supermercados abandonados, ou quando precisam abrir a porta da rua para alguém entrar. Isso porque em todos esses momentos, eles estão de olhos vendados. Quando abrem uma porta, não têm certeza se só entrou uma pessoa ou se alguma criatura veio junto com ela. E nesse momento, compreendemos perfeitamente o desespero que é ter que abrir os olhos depois que a porta se fecha.
Embora a história seja simples, centrada apenas na rápida viagem de Malorie e as duas crianças, e intercalada com o que aconteceu na casa quatro anos antes, ela é eficiente naquilo a que se propõe.
O curioso é que, apesar dos responsáveis pelas loucuras das pessoas sejam criaturas, que em nenhum momento conhecemos sua aparência ou o motivo do que fazem e como fazem, o vilão mais cruel acaba sendo um dos personagens humanos que é imune.
Por isso, o final de CAIXA DE PÁSSAROS não me decepcionou. Eu já estava preparado para não obter respostas para a origem dessas criaturas, por que causam loucura nas pessoas, por que não atacam ninguém fisicamente, de onde vieram, o que pretendem, entre muitas outras. Ficou claro para mim que o importante da história não eram essas perguntas, mas sim o medo que sentimos quando perdemos aquilo que mais confiamos: nossa visão. E em como as pessoas podem ser terríveis quando se sentem com alguma vantagem.
Ah, aproveite e leia a crítica do filme, só clicar aqui!
AVALIAÇÃO:
AUTOR: Josh MALERMAN é um autor americano e o vocalista da banda de rock The High Strung. Atualmente vive em Ferndale, Michigan. Malerman primeiro começou a escrever enquanto na quinta série, onde ele começou a escrever sobre um cão que viaja no espaço. Desde então, ele já escreveu vários romances inéditos e seu romance de estréia Box Pássaro foi publicado no Reino Unido e nos Estados Unidos em 2014 para muito aclamado pela crítica
TRADUÇÃO: Carolina SELVATICI
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇÃO: 2015
PÁGINAS: 272
COMPRAR: Amazon
Acabei lendo este livro já tem um bom tempo e esta semana, vi a adaptação(que adorei, diga-se de passagem).
Não vou poder afirmar com categoria se houveram mudanças demais entre um e outro, pois livro o livro há muito tempo e somente alguns pontos me recordo, neste quesito diferenças.
Bem, eu sou uma ex-cega..rs se é que este termo existe. Mas eu perdi a visão totalmente por mais ou menos um ano. E só depois de dois transplantes, voltei a ver o pouco que vejo.
O maior medo é o que não vemos, apenas o que ouvimos e nisso há sempre aquilo de sermos traídos por nossos sentimentos.
A carga dramática deste livro é maravilhosa e preciso reler o livro com certeza.
E agora, aguardar a crítica do filme!rs
Beijo
Oi, Angela!
Também gostei do filme, a crítica sai hoje ainda 😉
Não consigo imaginar como é ficar sem a visão, ainda mais nos dias de hoje, onde tanta coisa depende dela. Ainda bem que você conseguiu recuperar. Fico feliz com isso!
Aterrorizador! Foi o que senti lendo a resenha.
Não consigo imaginar o que terá acontecido para Malorie agir dessa forma e de como as coisas chegaram a esse ponto.
Apesar de ser um gênero que leio pouco fique curiosa para ler Caixa de Pássaros.
Oi, Michelle!
Leia, sim, vale a pena. E assistir ao filme também!
Olá! O livro está na minha estante há algum tempo, comprei meio que num impulso (o preço estava muito bom), mas ainda não me dei a oportunidade de acompanhar essa história que parece ser bem interessante, mas ao mesmo tempo, apavorante, acho que é esse último motivo que me afasta um pouco para iniciar de uma vez a leitura. Mas como estou louca para assistir a tão esperada adaptação, quero muito poder conferir o livro, ainda esse ano.
Oi, Elizete!
Se puder, leia o livro primeiro e, depois, assista ao filme. Mas se não estiver animada para o livro, veja pelo menos a adaptação. É bem lega!
Nunca tive vontade de ler o livro, mas vi o filme assim que pude e amei a história! Não sei se leria o livro depois de ter assistido à adaptação, mas como vc falou que no livro tem momentos bem mais pesados fiquei curiosa com esses detalhes. Fiquei muito surpresa com aquele final, gostei muito!
Oi, Giovana!
Você não gosta de terror, acho que não leria, não…kkk