Estamos no segundo filme do HOMEM-ARANHA nas telonas. Em 2019, a nova aventura da Marvel vai nos apresentar ao mundo de Peter Parker pouco tempo depois dos eventos de VINGADORES ULTIMATO. Tem muita coisa para explicar e explorar, será que LONGE DE CASA conseguiu repetir as qualidades do já icônico HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO? Vamos descobrir!

Peter Parker está apaixonado e se prepara para uma viagem à Europa com seus amigos, porém Nick Fury, líder da S.H.I.E.L.D, está à sua procura. Peter só quer sumir dos holofotes, do lance de ser herói, só quer aproveitar os dias ao lado de MJ, sua crush atual. Porém ao chegar no velho continente, um grande monstro de água ataca a cidade de Veneza, mas para a surpresa de Peter, surge um novo herói chamado Mistério, que derrota o monstro sem muita dificuldade. Sendo recrutado contra a sua vontade por Nick Fury, o Homem-Aranha se une ao Mistério para derrotar esses monstros estranhos que não param de surgir, ao mesmo tempo em que precisa lidar com a pressão de ser o herói de destaque, agora que o Homem de Ferro está ausente.

É importante frisar que é necessário ter assistido pelo menos VINGADORES ULTIMATO para poder entrar na trama, e caso tenha assistido todos os filmes da Marvel, a imersão será ainda melhor.

O roteiro é quase o completo oposto do filme anterior do Homem-Aranha, DE VOLTA AO LAR. Agora, Peter quer sossego, não quer ser herói o tempo todo, não quer assumir riscos que não possa lidar, quer viver uma vida normal. Mas depois de Thanos, depois da morte do Homem de Ferro, todos os holofotes estão nele. Por ser o herói do povo, o Homem-Aranha já é taxado como o líder dos Vingadores, mas Peter é só um garoto, só sabe que no momento está apaixonado por Mary Jane e que quer passar um tempo com ela na fabulosa Europa. Aqui temos talvez o principal problema do filme, a extrema forçação de barra entre Peter e MJ. O sentimento de Peter por ela é icônico, todos sabem que eles se apaixonam, mas na forma que o filme apresenta, parece que isso surgiu do nada, até porque no filme anterior ele dava a mínima para ela, querendo outra menina. Os diálogos entre eles não funcionam, eles não apresentam química juntos e nada parece fazer esse romance sequer soltar uma faísca de naturalidade. E isso se torna um problema, porque esse arco se estende por quase todo o início do filme, deixando a obra sem ritmo e ainda por cima monótona.

O filme, no início, flerta em querer explorar os eventos do estalar de dedos, com as pessoas sumindo e cinco anos depois retornando. São apresentados míseros desenvolvimentos nessa área e o assunto é esquecido com muita rapidez. Só isso dava pano para um excelente primeiro ato do filme que, infelizmente, foi desperdiçado num romance adolescente sem sal. O humor do filme também é complicado, as piadas não têm nenhum limite e são distribuídas aos montes para todos, os alunos que estão na viagem à Europa e principalmente os professores que estão acompanhando os jovens. O excesso de humor não deixa espaço para nenhum aprofundamento dramático que os personagens poderiam ter, principalmente o próprio Peter Parker, que está diferente, aparentemente ele sente a dor de perder tantos amigos, perder o grande Homem de Ferro, a dor de não saber como seguir em frente, mas isso acaba sendo deixado de lado para poder dar lugar a piadas envolvendo as coisas mais triviais possíveis.

O novo herói em cena, Mistério, tem uma historinha bem básica, mas consegue de certa forma ser uma figura amigável para Peter. Na trama, esse arco envolve algumas reviravoltas bem interessantes, que ligam com perfeição pequenos fatos ocorridos nos filmes anteriores da Marvel. Mas se você espera algo muito inovador ou mirabolante, vai acabar se decepcionando. Meio que o filme prometeu algo que ele não estava nem um pouco disposto a cumprir. Mas ainda sim a trama nesse departamento apresenta muita qualidade e insere um gás extremamente necessário para o filme poder finalmente brilhar. Nesse arco estão presente duas maravilhosas sequências envolvendo o real e o imaginário que são para ninguém botar defeito.

Tom Holland, na pele do Homem-Aranha, ainda apresenta muito carisma e presença. No texto seu personagem tinha uma jornada dramática incrível para trilhar, mas com exceção de uma cena, o roteiro não deixa o ator evoluir. Jake Gyllenhaal, vivendo Mistério, não consegue imprimir muita presença, o carisma é mínimo e o personagem só não morre porque o roteiro o favorece demais com talvez o melhor arco de todo o filme. Na pele de Mary Jane temos Zendaya, que também graças ao roteiro, não evolui, não tem muito o que fazer e, principalmente, não apresenta química com Tom. Faltou um cuidado melhor da direção e também um roteiro mais descente, os atores são bons, não há motivo para eles estarem tão fracos. O icônico Samuel L. Jackson também está no filme e esse é um daqueles atores que nunca decepcionam e, mais uma vez na pele de Nick Fury, ele arrasa. O restante do elenco tem seus momentos para bilhar e pelo menos uma piada boa para cada um deles, pena ser só uma, num filme de mais de duas horas.

No visual, o filme é muito competente e apresenta efeitos visuais bonitos, trilha sonora marcante e uma edição que hora faz o filme ser um saco e em seguida maravilhoso. As tão famosas cenas-pós créditos estão de volta e temos duas, talvez uma das melhores cenas já feitas na Marvel, pois ambas preparam o terreno para o que está por vir futuramente nos filmes de heróis do estúdio, uma delas em especial apresenta conceitos bastante interessantes, que se forem trabalhados com dedicação, darão frutos maravilhosos.

Vendido como o encerramento final da saga do infinito, o filme decepciona nesse quesito. O triste era perceber que eles tinham tudo certinho para desenvolver uma aventura emocionante do Aranha, ao mesmo tempo em que mostrariam os efeitos reais na população depois de Thanos. O Homem-Aranha é o herói povão, amigão da vizinhança, qual filme seria melhor para desenvolver isso do que no dele? Mas eles são fizeram isso, no final nos entregaram só um filme bacana, um passatempo interessante que já nasceu imemorável. Passa longe de ser ruim, tem muita coisa legal, mas infelizmente não consegue pelo menos igualar o nível de profundidade de qualquer outro filme do Homem-Aranha e passa longe de atingir o que HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO conquistou e ainda permanece de longe o melhor filme do cabeça de teia.


AVALIAÇAO:


DIREÇAO: Jon WATTS
DISTRIBUIÇAO: Sony
DURAÇAO: 2 horas e 9 minutos
ELENCO: Tom HOLLAND, Jake GYLLENHAAL, Marisa TOMEI, Zendaya, Jon FRAVREAU, Samuel L. JACKSON