Escrito por Frank Herbert e publicado em 1965, DUNA é o livro de ficção-científica mais vendido de todos os tempos, com mais de 22 milhões de cópias ao redor do mundo, além de ser a obra considerada como um pilar que influenciou quase tudo o que veio depois desse gênero, desde STAR WARS a GAME OF THRONES. Os temas da história exploram temas complexos, como política, religião, ecologia, tecnologia (ou falta dela), tudo costurado em uma trama cheia de traições, assassinatos, e a promessa da vinda de um messias que mudará todo o universo.

A HQ foi roteirizada pelo filho do autor, Brian Herbert, e segue fielmente tudo o que acontece no livro. Assim, esta resenha serve para ambas as obras.

Mais de 24 mil anos no futuro, quando a Terra não está mais habitada e quase toda a sua história foi esquecida, perdura um conflito político entre duas grandes casas feudais, no Império Corrino, governado pelo imperador Shaddam IV: os Harkonnen, chefiados pelo Barão Vladimir Harkonnen; e os Atreides, liderados pelo Duque Leto, um homem que se torna cada vez mais popular e amado, devido à sua compaixão e inteligência em governar. Por conta disso, o imperador Shaddam considera os Atreides uma ameaça e elabora uma forma de destruí-los, já que não pode atacá-los diretamente. A lei estipula que se uma casa atacar a outra, todas as outras devem se unir para retaliar o ataque.

Nesse universo, as viagens só são possíveis graças a uma especiaria, a Melange, que existe apenas no planeta deserto Arrakis, conhecido como Duna, até então governado pelos Harkonnen. Como parte do seu plano, o imperador ordena o afastamento dos Harkonnen e a mudança da Casa dos Atreides para Duna, se aproveitando e aumentando a rivalidade entre as casas. Mesmo sabendo que terá que enfrentar uma rede de traições e armadilhas deixadas pelos Harkonnen, o Duque Leto aceita a designação.

Além das casas feudais, existe uma ordem matriarcal religiosa chamada de Bene Gesserit, detentoras de estranhas habilidades com o uso da voz, capazes de comandar uma pessoa. Através de aprimoramentos genéticos, as Bene Gesserit planejam o nascimento do Kwisatz Haderach, um homem que teria a habilidade de presciência, ou seja, conseguiria acesso a toda a sua memória genética e conseguiria prever o futuro. Parte desse plano foi o nascimento do sobrinho do Barão Harkonnen, que deveria se casar com a filha do Duque Leto, acabando com a rivalidade entre as casas e gerando o Kwisatz Haderach. Entretanto, Duque Leto é apaixonado por sua concubina (os nobres, além da esposa, podem ter várias concubinas), Lady Jéssica, que faz parte das Bene Gesserit. Ela, por amor a Leto, contraria as ordens que recebeu e concebe um menino, ao invés de uma menina, minando os planos das Bene Gesserit e complicando ainda mais as intrigas políticas.

Quando a história de DUNA começa, Paul está com 15 anos e demonstra possuir as mesmas habilidades das Bene Gesserit, além de sofrer com estranhos sonhos e sensações premonitórias, criando a suspeita das Bene Gesserit de que ele pode ser o Kwisatz Haderach. Os Atreides vivem no planeta Caladan, um local semelhante à antiga Terra, onde a maioria da superfície é de água. A mudança para Arrakis é radical, mas Paul não reclama. Ele pressente o perigo existente em Duna, para si, para seu pai e sua mãe, e para toda a Casa dos Atreides.

Os nativos de Arrakis são chamados de Fremen, guerreiros que escavam a especiaria nas areais e cavalgam os gigantescos vermes, criaturas colossais que estão diretamente ligadas ao Melange. Os Fremen têm a crença da vinda de um messias, o Muad’dib, que governaria Duna e mudaria toda a sua superfície. E conforme a Casa dos Atreides se assenta no planeta, os Fremen percebem que Leto é um líder bem diferente do sádico Barão Harkonnen. Leto é um homem dotado de compaixão, que coloca acima da extração da especiaria, o bem-estar e a segurança de sua casa e dos Fremen. Mais do que isso, eles estranham que o jovem filho de Leto, Paul, tenha conhecimentos nativos de parte da cultura de Arrakis, mesmo sem nunca ter estado lá.

Com a execução do plano do Imperador e dos Harkonnen, o pior acontece. E os eventos que se seguem, irão levar Paul Atreides por uma jornada em Duna que poderá confirmar que ele não é apenas o Kwisatz Haderach, mas também Muad’dib, o messias de Duna, que além de governar o planeta, poderá ser o responsável pela destruição dos Harkonnen e do Império.

DUNA é uma leitura densa, intensa, complexa, mas extremamente recompensadora. Os personagens são perfeitamente construídos, bem como toda a trama de traição e vingança. Frank Herbert cria todo um universo rico em pormenores, que mantém o leitor preso capítulo após capítulo, ansioso pelo que levará Paul para a camada mais alta que um ser humano poderia alcançar. Mas também, e talvez principalmente, pela vingança que Paul constrói para vingar o que aconteceu com sua Casa e com as pessoas que amava.

DUNA possui características únicas que a diferenciam de qualquer outra obra de ficção-científica. Uma delas é o uso do conceito de feudo, de casas administradas por membros nobres de uma mesma família. Outra é a ausência de tecnologia. Em DUNA, tudo é analógico ou biológico, inclusive as viagens interplanetárias, possíveis pelo uso da especiaria. A isso, somam-se muitas outras coisas, presentes e explicadas nas mais de 600 páginas do livro e iniciadas no primeiro volume da HQ, de um total de três volumes.

Paul é a fonte de onde surgiram a maioria dos heróis posteriores, como Luke Skywalker, por exemplo. É a jornada do herói em um meio político e religioso, onde a cada capítulo do livro, a cada página da HQ, pode acontecer uma traição e uma morte. A importância e a abrangência de DUNA é equivalente ao que O SENHOR DOS ANÉIS fez pela fantasia. A história já foi adaptada para o cinema, décadas atrás, mas mudou algumas coisas e terminou por não ter o sucesso esperado. O mesmo aconteceu com a série de TV, mais recente. Agora, em 2021, vem uma nova tentativa no cinema, com um elenco estelar. Eu, sinceramente, não nutro altas expectativas. DUNA é muito difícil de traduzir para algo visual, sua trama alterna momentos de completa maquinação, sem qualquer ação, para então acontecer algo. É necessário alguém muito habilidoso para conquistar uma plateia que nasceu na era dos filmes Marvel, onde a ação acontece de forma frenética a cada cinco minutos de projeção. Mais do que isso, DUNA é uma história contemplativa, filosófica, que requer atenção para a compreensão da trama. Numa leitura, isso é possível de conseguir. No cinema, para a geração atual, tenho minhas dúvidas.

Se você não tem ânimo para enfrentar as páginas do livro, sugiro que tente com a HQ que começou a ser publicada pela Intrínseca. É uma forma bem fácil de você compreender a história de DUNA, além de contemplar a belíssima arte, com quadros que transportam para o visual o que existe no livro. E da forma mais fiel possível ao que o autor imaginou, uma vez que todas as escolhas foram aprovadas pelo filho. Mas também aconselho que tente ler o livro. É uma leitura única, da qual tenho a certeza de que você gostará.


AUTOR: Frank HERBERT (livro), Brian HERBERT e Kevin J. ANDERSON (HQ)
ILUSTRADOR: Raúl ALLÉN e Patricia MARTÍN
TRADUÇÃO: Maria do Carmo ZANINI (livro) Ulisses TEIXEIRA (HQ)
EDITORA: Aleph (livro) e Intrínseca (HQ)
PUBLICAÇÃO: 2017 (livro) e 2021 (HQ)
PÁGINAS: 680 (livro) e 170 (HQ)


COMPRAR: Livro e HQ