O ILUMINADO é ao mesmo tempo um dos livros mais famosos de Stephen King e também um dos filmes mais cultuados do diretor Stanley Kubrick. Muito da trama do livro e do visual do filme estão eternizados na cultura pop e todo esse amor ajudou a render uma continuação, DOUTOR SONO. Mas não uma continuação qualquer, agora o ponto de vista cai sobre o pequeno Danny e em todo o mistério que envolve esse menino e suas habilidades. Interessante, não?

Depois da experiência traumatizante no Hotel Overlock, Danny e sua mãe precisam voltar a viver mais uma vez. Os anos se passaram e Danny aprendeu a controlar sua habilidade, conhecida como Iluminação. Porém, agora, esse Danny mais velho leva uma vida de exageros e vícios. Depois de muita luta interna, ele abandona a bebida, se muda para uma nova cidade e começa a trabalhar num hospital de idosos. Tudo ia bem até ele começar a receber mensagens telepaticas de uma menina que está do outro lado do país. Uma amizade entre eles surge e agora ambos precisam fugir do Nó, Uma ceita de assassinos que caçam crianças com a “iluminação”. Danny precisa voltar, mais uma vez, para seus pesados, para poder ajudar Abra Stone, a menina que tem um alvo em sua cabeça, já que sua iluminação é uma das mais poderosas já vistas.

Para assistir DOUTOR SONO é muito importante ir com a mente aberta para novas experiencias. Aqui não temos um O ILUMINADO 2, temos o desenvolvimento de um personagem que, no filme antigo, era só uma criança, uma criança com uma habilidade sensacional e oculta. O roteiro trabalha todo o lado sobrenatural desse curioso poder telepático que está presente em alguns indivíduos. O foco é totalmente esse, claro que voltado um pouco para o assustador, mas o filme é mais do que apenas um terror que produz sustos. O que temos é uma autentica trama, desafios a serem vencidos, coisas a serem aprendidas e personagens para evoluírem.

Temos três arcos que se revezam, o primeiro acompanha Rose, a Cartola. Uma estranha mulher que é líder de uma ceita que caçam e assassinam crianças iluminadas. Sobre ela pouco é se falado, mas o que é preciso, é mostrado. Seu poder é muito expressivo e a mesma não descansa até conseguir o que quer. A personagem é vivida pela atriz Rebecca Ferguson, num desempenho magistral e hipnótico. A mesma apresenta muita força e potencial na trama, sendo uma grandiosa antagonista a ser vencida.

O segundo arco é vivido por Ewan Mcgregor, que vive Danny, o menino que sobreviveu ao Hotel Overlock. Lá a gente já sabia que a criança tinha algo de especial, mas aqui tudo é explicado e finalmente ganha foco. É através de seus aprendizados que o espectador finalmente compreende o que aconteceu realmente no primeiro filme, suas causas e seus objetivos. Além, é claro, de acompanharmos uma evolução magnifica de um homem destruído, para um outro extremamente diferente. Sobre o desempenho Ewan, só podemos tecer mais e mais elogios, já que o mesmo entrega um personagem delicado e disposto a deixar tudo de lado e seguir em frente. Claro que essa evolução acontece aos poucos e o filme faz disso para criar momentos fortes e emocionantes.

No terceiro e último acompanhamos uma menina chamada Abra Stones, que sempre manifestou um poder imenso. A rotina é quebrada, quando a menina começa a sentir outras crianças sendo mortas pela ceita. Logo ela, mesmo sem saber, parte para cima desse grupo declarando guerra, botando a si em risco. E a personagem, mesmo sendo uma criança, faz bonito ao se firmar como uma das melhores coisas de toda a produção. Ela é decidida e está disposta a usar todo o seu poder para destruir essas pessoas que estão caçando os iluminados. Com a ajuda de Danny e sua experiencia, isso não será impossível. E tudo isso não está apenas na personagem escrita no papel, a pequena atriz Kyliegh Curran brilha com uma intensidade enorme. O embate entre a Abra e Rose, a Cartola, são uma das melhores cenas do ano, com direito a pequena dando uma bela de uma surra nessa cruel assassina.

O filme tem duas horas e meia e grande parte desse tempo é usado para firmar esses três arcos na trama, e quando a ação acontece, não existem mais pontas soltas. A nova trama desenvolve tudo o que tinha como objetivo e claro que também faz referências ao filme original. O terceiro ato reserva o grande embate que promete e cumpre realmente a promessa de ser algo épico. Os fãs do filme original ficarão satisfeitos, todos aqueles que tiverem a mente aberta, claro. Até porque, eu repito, DOUTOR SONO não é um repeteco do que deu certo no original. A trama é forte o suficiente para caminhar sozinha.

Temos um filme que tem seu poder no roteiro, no elenco e na direção, que constrói um longa muito coeso e amigável para qualquer espectador, até mesmo aquele que nunca assistiu ao filme anterior. As lembranças, recriadas com novos atores, dando vida mais uma vez ao o que aconteceu no filme original, são muito competentes e esteticamente perfeitas. Tudo é relembrado e explicado, o que aconteceu depois? Como ele sobreviveu e como ele controlou? São dúvidas que são resolvidas com bastante esmero.

Sustos baratos não tem vez aqui, o filme tem, sim, um ar sinistro e um tom denso. O ritmo caminha com perfeição e é muito fácil mergulhar na trama. A produção está cheia de cenas lendárias, como uma por exemplo que envolve uma personagem rastreando a outra, aquele tipo de sequência que enche os olhos graças a tanta beleza. Não satisfeito, o filme faz em seguida outra cena extraordinária que envolve um embate mental. Aquele tipo de sequência tão boa, que dá vontade de gritar. Satisfatório demais! E não podemos esquecer do ato final que é tudo, nostálgico, eletrizante, amedrontador e muito, mais muito emocionante. Aquele tipo de desfecho que você leva pra casa, senta, reflete e sente o impacto.

De longe um dos melhores filmes do ano, escrito com perfeição, estrelado por atores perfeitos, um primor visual e artístico. Sobre a fidelidade com o livro, eu não posso comentar, pois ainda não o li. Mas o que temos é um filme potente e eletrizante, que não está fazendo o sucesso que merecia. Mas esse não é o primeiro e nem será o último filme a ser pouco valorizado no seu lançamento. Até porque quem não se lembra que o próprio O ILUMINADO não foi bem recebido quando estreou nos anos 80, sendo até mesmo um dos indicados ao Framboesa de ouro, o Oscar dos filmes ruins. E o tempo passou e quem hoje em dia contesta a qualidade desse filme? Já vou dar uma de vidente aqui e prever que daqui a um tempo, DOUTOR SONO também terá um lugar ao sol, mas se você tiver a oportunidade confira essa perfeição o quanto antes, vale muito, muito a pena.


AVALIAÇÃO:


DIREÇÃO: Mike FLANEGAN
DISTRIBUIÇÃO: Warner Bros.
DURAÇÃO: 2 horas e 30 minutos
ELENCO: Ewan MCGREGOR, Rebecca FERGUSON, Kyliegh CURRAN