No mundo literário não existe sensação melhor do que ser surpreendido positivamente com um livro. Ter em mãos algo que, de longe, parece ter pouco apelo chamativo, mas ao mergulhar nas palavras, tudo muda. É essa sensação que eu tive assim que finalizei a última página de ÁRVORE DOS DESEJOS, de longe o melhor livro que eu li neste ano. Quer conhecer mais?

A trama é narrada por Red, uma árvore centenária que é muito famosa na região onde vive. Lá ela é conhecida como a árvore dos desejos, se tornando peça principal na tradição que acontece todo o dia primeiro de maio. Todos da vizinhança vêm e depositam em seus galhos, papeis que contém os mais variados desejos. Engraçados, egoístas, singelos, egocêntricos e também os puros. Red já viu de tudo e se sente feliz em ser um depósito para tantas esperanças. Um ano se passou e o dia dos desejos se aproxima, mas dessa vez Red não quer apenas ser o receptáculo dos desejos, ele quer, pela primeira vez em sua história, atender ele mesmo a um desejo de uma menina que acabou de se mudar para a vizinhança.

Ninguém sabe, mas as árvores falam, falam com outras árvores, falam com animais e poderiam até mesmo falar com humanos, mas isso vai contra as regras. Red e seu amigo Bongô, um corvo, irão tentar fazer pelo menos esse desejo se realizar. Mas as coisas serão difíceis, já que eles têm pouco tempo e poucas chances, além, é claro, das dificuldades que um corvo e uma árvore têm de fazer qualquer coisa. Mas a força da amizade de ambos e o companheirismo com outros animais que vivem ao redor de Red, eles topam essa missão que tem tudo para dar errado.

A narrativa é contada através de Red, que é uma árvore antiga que tem fama de ser sábia, fofoqueira e esperançosa. Seus pensamentos são bem singelos e é impossível não se pegar sorrindo em algumas passagens. Red também é meio melancólica e pensa muito na vida e também no seu fim. Ela conhece como ninguém o lugar onde vive e as pessoas a seu redor, mas a chegada de novos morados muda a sua perspectiva de sempre se manter em silencio e passiva a tudo que acontece ao seu redor.

Pode ser taxado como um livro infantil, e ele é realmente perfeito para esse propósito. A edição física da Intrínseca é deslumbrante em todos os aspectos. As ilustrações são muito presentes e bem inseridas no meio das palavras, os capítulos são curtos e começam com uma apresentação belíssima e a capa, além de ter uma arte delicada, tem um tom de azul impactante e um pouco de brilho, além é claro do livro ser de capa dura.

São menos de duzentas e vinte paginas que passam voando, a autora soube muito bem unir o lúdico com o real e todos os detalhes da trama encantam. Red é uma árvore e a forma que ela explica o seu estilo de vida é muito interessante, é uma perspectiva que a gente não encontra todos os dias e só deixa tudo mais mágico, quem diria que um dia eu quase iria chorar lendo um livro que é narrado por uma árvore? É uma delicia ver tudo pelos seus olhos, mas melhor do que isso são as histórias que a árvore nos conta, principalmente a que diz respeito ao começo da tradição de fazer de Red, uma arvore dos desejos. É algo realmente mágico e encantador, uma bonita fábula sobre fé e esperança.

E como nem tudo são flores, o ato final do livro reserva uma virada na trama em que toda essa delicadeza é posta a prova. Coisas horríveis estão prestes a acontecer, mas a autora contorna todos os perigos e entrega um desfecho extremamente emocionante e tocante. O poder da amizade é muito forte e decide tudo dentro desse livro. Aliás, a amizade entre a árvore, Red, e seu amigo Bongô, um corvo de personalidade forte, é uma delicia de se acompanhar. É muito fofo ver o quanto um se importa com o outro e suas conversas passam tão rápido que poderia ter um novo livro só de diálogos entre eles, que eu leria com um sorrido no rosto.

No final, o leitor tem em mãos um livro encantador, singelo, sincero e humano. Não tem nada de mirabolante, ele só leva a amizade e a reflexão para lugares que não são comuns, um novo ponto de vista sempre muda tudo. Liricamente belíssimo e visualmente um primor, uma das edições mais lindas que eu já vi e um livro que com certeza deixou uma marca em mim. Minha melhor leitura até agora em 2020.


AUTORA: Katherine APPLEGATE
TRADUÇÃO: Thaís PAIVA
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 215


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