O filme HEREDITÁRIO chegou aos cinemas brasileiros no meio de junho fazendo pouco barulho. Trata-se de um filme de terror que merece muito a sua atenção. Realizado pelo estúdio americano A24, o mais badalado do momento quando o assunto são filmes independentes. Dentre os filmes mais conhecidos do estúdio, tem pelo menos um que você já viu ou ouviu falar: LADY BIRD, A BRUXA, EX MACHINA e MOONLIGHT, este último um drama LGBT que levou o Oscar de Melhor Filme em 2017. Tratando-se desse estúdio, nós já podemos esperar uma grande história e excelentes atuações, e aqui eu venho confirmar tudo isso e muito mais. Vamos lá!

O filme acompanha uma família que acaba de enterrar um parente importante. Esse parente idoso viveu seus últimos messes com a família e acabou se ligando muito com a filha mais jovem do casal. A idosa tinha distúrbios mentais e até múltiplas personalidades e tinha uma grande afinidade com ocultismo e satanismo. Depois de sua morte, coisas estranhas começam a acontecer na casa, principalmente em volta da filha mais nova e sua mãe, onde ambas se sentem observadas a todo o momento e enxergam coisas que ninguém mais vê.

Tudo gira em torno de uma herança. Aquelas coisas que passam do parente morto para os familiares vivos. Na maioria das vezes é dinheiro, bens ou propriedades, mas pode ser também maldições ou doenças. E o roteiro trabalha essa herança maldita com muita calma. No começo, pouca coisa acontece, o interesse é construir bem os personagens para no fim ficarmos preocupados com eles. Tudo caminha com muita calma e precisão nos detalhes. O luto ainda é muito forte e desentendimentos do passado afloram mais uma vez conforme esse parente é sepultado.

A filha mais jovem do casal é vivida pela atriz Milly Shapiro, que tem um semblante intimidador por si só. No filme, ela acabou tendo uma ligação forte com o parente morto e isso reflete na menina que vê coisas, sente coisas e presencia cenas absurdas. Tem um desempenho excelente, mesmo aparecendo pouco.

A estrela do filme, Toni Collette, é bastante conhecida por seu papel no suspense O SEXTO SENTIDO, e aqui vive, talvez, o seu melhor momento. Tudo gira em torno de sua personagem, uma mulher sonâmbula, deprimida e com pesadas cicatrizes do seu passado. O parente que faleceu era a sua mãe, mas ela não está deprimida por causa de sua perda. O roteiro trabalha todo o simbolismo por trás do seu relacionamento com a mãe. Também aborda a burrice da perda, quando tentamos buscar respostas onde não existe. Basicamente, a idosa tentou fazer algo em vida, não deu certo e antes de morrer, deixou tudo preparado para sua própria filha assumir o seu lugar, mesmo ela não sabendo. E com isso, ela abre as porta do inferno para sua família, involuntariamente, ou pelo menos é o que ela acha. Espere muitas desgraças para todos os personagens.

Alex Wolff esteve no topo das paradas no inicio de 2018 com o remake de JUMANJI e aqui prova que seu talento vai além dos filmes de comédia. O jovem provavelmente é um dos que mais se ferra durante todo o filme, estrelando cenas realmente assustadoras e de muita qualidade. O ator se transforma para o papel e, conforme a trama caminha, presenciamos um desempenho que merece muito destaque. Ann Dowd, rosto muito conhecido pelos seus papeis nas séries THE HANDMAIDS TALE e THE LEFTOVERS tem uma pequena participação que já vale elogios. Excelente como sempre, vive uma personagem que liga um fato ao outro. Parece uma coisa, mais é outra, levanta dúvidas e muitos questionamentos, uma excelente inclusão na produção.

Dos quatro membros da família, Gabriel Byrne, que vive o pai, é o personagem menos interessante. Não tem muito desenvolvimento e sua participação se resume a poucas cenas boas no ato final. A direção de Ari Aster se mostra muito firme e ciente do que quer fazer. A câmera, em grande parte do filme, acompanha os personagens de longe, como se estivesse observando tudo à distância. Ela se aproxima em lentidão, quase pronta para dar o bote. A fotografia escura assusta mais que a maldição e a casa na floresta onde o filme se passa é um inferno próprio. Sustos baratos aqui não têm vez, coisas triviais, como um pombo e uma vela, são mais que suficientes para deixar o espectador arrepiado.

A conclusão do filme é duplamente macabra e rende vários significados. Mas finaliza muito bem e faz jus à sua proposta. É um filme que vai se abrindo com o tempo e reserva muitas respostas para o final. Lembra um pouco o filme CORRA!, constrói o mistério para, no fim, dar suas conclusões. Pode não ser aquilo que o espectador esperava, mas passa longe de ser incoerente. Um filme para poucos e que precisa de muita atenção. Promete e entrega um trabalho belíssimo visualmente, assustadoramente macabro e cheio de grandes atuações. Um dos melhores filmes do ano, rumo ao Oscar 2019!


AVALIAÇÃO:


DIREÇÃO: Ari ASTER
DISTRIBUIÇÃO: Diamond Films
DURAÇÃO: 2 horas e 8 minutos
ELENCO: Toni COLLETE, Alex WOLFF, Ann DOWD, Milly SHAPIRO e Gabriel BYRNE




 

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