Como está no prefácio de CORRESPONDENTES, o jornalista é apaixonado por revelar fatos, e esses fatos passam a fazer parte da história, uma história que será estudada no futuro e que o jornalista ajudou a divulgar no presente. E nesta edição, estão relatos de 20 repórteres que fazem ou fizeram parte da Rede Globo, de seus trabalhos no exterior, em momentos marcantes da história internacional. Todos os textos são de situações incríveis, difíceis, situadas no século passado, na década de 1970 à virada do milênio, quando não existia Internet, celulares, computadores pessoais ou notebooks, e o trabalho era todo feito de papel, caneta e uma câmera no ombro. Embora diferentes, os textos possuem algo igual: a paixão e a dedicação pelo trabalho.

Hoje, 01 de junho, é DIA DA IMPRENSA, e não existe melhor data para compartilhar algumas dessas aventuras vividas por esses repórteres incríveis. Como por exemplo, SANDRA PASSARINHO, que se tornou funcionária da Globo por acaso, quando a ditadura militar fechou o curso de Ciências Sociais da UFRJ que ela frequentava. Em 25 de abril de 1974, aconteceu a Revolução dos Cravos em Portugal, um golpe conduzido pelas Forças Armadas para derrubar o regime ditatorial, instituído por António de Oliveira Salazar em 1933. No dia seguinte, Sandra estava na praia e foi chamada pela diretoria da Globo para pegar um avião e cobrir a revolução em Lisboa. Ela escreveu o texto da matéria enquanto andava pelas ruas da cidade, infestava de jovens.

LUCAS MENDES é mineiro e cidadão norte-americano desde 2005. Um dos principais correspondentes internacionais da Globo, ele cobriu o massacre de Jonestown, na Guiana, em 1978 quando mais de novecentos fiéis, de uma seita comandada pelo pastor americano Jim Jones se suicidaram. Lucas Mendes foi enviado à região para realizar a cobertura, mas, chegando lá, foi barrado pelo exército americano e precisou ficar junto dos outros jornalistas enquanto esperavam pelas notícias transmitidas por oficiais. Ele trabalhou em outros locais rodeados de morte, como o Líbano, quando era liderado pelo palestino Yasser Arafat; a Revolução Sandinista na Nicarágua; a guerra civil em El Salvador; em Cuba; mas também em momentos importantes, como o momento da descoberta do vírus da Aids, em 1985, nos EUA.

ERNESTO PAGLIA é repórter da Globo desde 1979 e é natural de São Paulo. Uma de seus trabalhos mais importantes, foi a cobertura da guerra Irã-Iraque em 1988. Ele ficou em Bagdá e Baçorá, duas as maiores cidades do Iraque. E um dos fatos mais interessantes foi acompanhar a libertação de Nelson Mandela, em 1990, na África do Sul. Ele participou de uma expedição ao Ártico, em 2007, pelo Globo Repórter, e fez uma série no Quênia sobre as raízes de Barack Obama, quando o líder americano se tornou presidente em 2009.

Todos conhecem PEDRO BIAL, e ele começou sendo correspondente da Globo em Londres durante oito anos. Ele cobriu o colapso do socialismo no Leste Europeu, em 1989; as guerras do Golfo, em 1991, da Bósnia, em 1992, e da União Soviética, em 1991; acompanhou o movimento que levou À reunificação da Alemanha, em 1990, e que teve um significado especial, porque ele é filho de pai e mãe alemães que vieram para o Brasil após a ascensão de Hitler. Natural do Rio de Janeiro, sua confissão de como foi conhecer um fax pela primeira vez, em 1988, é estranho, porque estamos acostumados a tecnologias tão mais avançadas, e muitos, hoje em dia, sequer sabem o que é um fax. Suas histórias são excelentes e é um dos pontos altos do livro.

ILZE SCAMPARINI é outra repórter bastante conhecida. Ela foi a primeira correspondente da Globo em Roma, em 1999, onde permanece até hoje. Uma parte tensa de suas memórias: quando fez uma reportagem sobre a Cosa Nostra, a máfia siciliana, para o Globo Repórter, em 1992. A Itália estava sob o choque da morte dos juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, assassinados porque combatiam a máfia. Naquele ano, ela acompanhou o desembarque das tropas do Exército no porto de Palermo, que chegavam para garantir a segurança da população. Numa madrugada de blitz da polícia siciliana em um conjunto de mansões mafiosas, com helicópteros, cães e muitos policiais, Ilze e sua equipe foram convidados a acompanhar a ação quase cinematográfica. Ela ficou frente a frente com o suspeito de ser o chefão da família. Mas ela também fez entrevistas com personalidades importantes, como Nelson Mandela e Desmond Tutu, na África do Sul, em 1996, entre outras.

E CACO BARCELLOS? Como correspondente internacional, ele já esteve em quase todos os cantos do mundo. Mas você sabia que em 1987, ele foi sequestrado no Paraguai? Em uma reportagem sobre o sequestro de Antônio Beltran Martinez, vice-presidente do Bradesco, Caco caiu em uma emboscada perto da cidade de Hernandarias. Felizmente, ele foi libertado poucos dias depois, uma vez que descobriu que os responsáveis pelo sequestro de Antônio eram outros, ele estava sendo conduzido por uma mentira. Entre outras aventuras, ele cobriu a guerra civil de Angola, em 2000, conflitos na Cisjordânia, em 2002, o acidente com mineiros no deserto de Atacama, no Chile, em 2010. Ele só frequenta lugares calmos…

A edição traz relatos de pessoas bastante conhecidas, como César Tralli, Edney Silvestre, Marcos Losekann, Renato Machado, Roberto Kovalick, entre outros. Ela conta com várias fotos coloridas de alguns desses momentos, além de um QR Code no início de cada relato, que leva o leitor até um hotsite do Memória Globo, com conteúdo extra e exclusivo sobre os repórteres e os repórteres cinematográficos destacados.

O DIA DA IMPRENSA era comemorado no dia 10 de setembro, porque foi nesse dia que aconteceu a primeira circulação do jornal Gazeta do Rio de Janeiro, em 1808, um periódico da corte. Mas em 1999, o dia mudou para 1 de junho, porque foi a data em que começou a circular o jornal Correio Braziliense, fundado por Hipólito José da Costa, que também começou a circular em 1808, mas de forma clandestina e três meses antes do Gazeta. Uma lei definiu essa mudança.

Vale sempre lembrar que o poder da imprensa é tão grande que muitos a chamam de Quarto Poder em alusão aos três poderes políticos: Judiciário, Legislativo e Executivo. Por isso, nas ditaduras, a primeira medida do governo é controlar a imprensa através da censura ou do fechamento dos meios de comunicação.

CORRESPONDENTES é uma indicação precisa para o dia de hoje, porque a obra demonstra como os profissionais da área são importantes, como eles se arriscam, como trabalham, as dificuldades que enfrentam para levar, todos os dias, o que de importante acontece no mundo para a população. São reportagens histórias transmitidas pela Globo ao longo do século passado, que jamais serão esquecidas. E também não serão esquecidos quem as fez.


AVALIAÇAO:


EDITORA: Globo Livros
PUBLICAÇAO: 2018
PÁGINAS: 532


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