O planeta Niyrata, com uma população acima de 5 bilhões de pessoas, é o centro tecnológico e cultural do Conselho Galáctico Unido. Nele estão as nove cidades embaixadas, uma para cada planeta que faz parte do conselho. O dr. Quon mora em Niyrata e é a mente brilhante responsável pelo desenvolvimento de inteligências artificiais que possibilitaram a criação de androides quase humanos, além de outros nem tanto, mas que se tornaram indispensáveis para o dia-a-dia de todos.

Quando gigantescos robôs aparecem na atmosfera de cada um dos nove planetas, ao mesmo tempo, Quon é chamado pelo CGU para tentar se comunicar com essas máquinas, além de descobrir quem as enviou e com qual propósito. Mas assim que o grupo se aproxima de um deles, os robôs deflagram um ataque que extingue 3/4 da vida de todos os nove planetas. Logo em seguida, eles desaparecem da mesma forma misteriosa com que apareceram.

Nos dez anos seguintes ao ataque dos robôs gigantes, agora chamados de Ceifadores, cria-se uma aversão a qualquer tipo de robô, e eles passam a ser caçados e destruídos por toda a galáxia. Isso até a CGU identificar um pequeno androide criança, chamado TIM-21, criado para servir de companhia e proteção a filhos de casais alocados em colônias mineradoras distantes, que possui o mesmo código dos Ceifadores. Então, a agente Telsa, junto como dr. Quon, partem para resgatar TIM-21 e descobrir qual a ligação dele com o ataque de dez anos atrás.

A trama de DESCENCER, uma série criada, e já finalizada, de Jeff Lemire, o novo queridinho das editoras, junto com o desenhista Dustin Nguyen, que tem um traço belíssimo, é extremamente instigante. Este primeiro encadernado reúne as primeiras seis edições, de um total de 32 edições, que, inclusive, já tiveram os direitos vendidos para o cinema. E durante a leitura é fácil compreender o motivo.

A história do pequeno TIM-21, seu cachorro robô, Bandit, seu inseparável amigo, Perfurador, um robô enorme de mineração, que se juntam a uma agente da CGU, Telsa, mais um cientista farsante, o dr. Quon, para desvendarem os segredos dos Ceifadores, enquanto são perseguidos por mercenários, assassinos, terroristas, e toda a mazela do universo, fascina a cada página. É uma aventura que utiliza de elementos já consagrados de STAR WARS, BLADE RUNNER, MAD MAX, EU ROBÔ, I.A., entre outros, mas com muita competência e com a adição de elementos originais e uma agilidade narrativa que torna a leitura urgente e sequencial, sem pausas.

A arte de Nguyen é abismal de tão bela, colorindo com semelhança a aquarelas, com quadrados às vezes sem cores ao fundo, realçando os personagens, transmitindo uma sensação perfeita para a modernidade do universo e para a ação incessante. Mas o brilhantismo não fica apenas na arte, mas também na construção da narrativa, como por exemplo nos flashbacks, que por vezes são intercalados com o que acontece no presente, alternando cada acontecimento em uma única página, possibilitando ao leitor acompanhar duas ações em tempos diferentes ao mesmo tempo.

TIM-21, Bandit e Perfurador conquistam assim que aparecem, cada um deles com sua personalidade distinta. O pequeno robô está confuso, ficou dez anos desligado, não tem conhecimento da dizimação feita pelos Ceifadores, não sabe o que aconteceu com seus donos e nem com a criança de quem era companheiro, e muito menos o porquê de estar sendo caçado por todos. Bandit possui aquela simpatia característica os animais de estimação companheiros. E Perfurador é o amigão meio bruto que faz de tudo para proteger o amigo. Mas Telsa, apesar de humana, também conquista. Apesar de ser uma agente da CGU, existe um arco pessoal dela que passamos a conhecer ao poucos e demonstram um pouco do quanto ela pode crescer.

Já o dr. Quon vira uma das surpresas da história. Ele começa como o cientista brilhante, passa a ser uma possível fonte para a descoberta do motivo do ataque e depois vira uma enorme decepção, uma farsa incrível. Não vou dar mais detalhes, mas ele pode ser comparado do dr. Smith de PERDIDOS NO ESPAÇO, um personagem simpático, mas capaz de imbecilidades sem tamanho.

E preciso mencionar uma outra surpresa, que é a violência existente. Algumas coisas me pegaram, porque eu achava que seria uma daquelas aventuras descomprometidas, mas levei um baque quando determinadas coisas acontecem e o sangue jorra de forma bem gráfica e assustadora. Além disso, claro, temos todos os temas de paranóia, de preconceito, existente na perseguição aos robôs, por algo que eles não fizeram, e na guerra que se prevê desse embate.

DESCENDER já tem uma sequência, chamada de ASCENDER, e promete ser tão fascinante quanto. Enquanto ela não chega, ainda mais que a publicação da primeira série ainda está no início, aproveite e leia esta HQ, uma das melhores sendo publicada no Brasil, e que já é uma das favoritas para os principais prêmios deste ano.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Jeff LEMIRE
ILUSTRADOR: Dustin NGUYEN
TRADUÇÃO: Fernando SCHEIBE
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇÃO: 2019
PÁGINAS: 144


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