Eu li tantos gibis em 2019 que, com certeza, tem muita coisa que ficou fora desta lista. Inclusive, dois deles nem sequer escrevi resenha, porque ainda não tive tempo, mas elas saem em 2020. Como na lista dos melhores livros, aqui não estão os melhores gibis lançados em 2019, mas os melhores gibis que eu li, independentemente do ano de lançamento. E se você não tem costume de ler HQs, fique com vergonha, porque está perdendo histórias incríveis, muitas vezes melhores do que as histórias dos livros que está lendo. Então aproveite 2020 e mude de atitude 😉

DEZ: O DIA DE JÚLIO
Tudo começa no ano 1900, com o choro de um recém-nascido, e termina cem páginas depois, no ano 2000, com os últimos suspiros de um homem de 100 anos. A criança e o velho são, ambos, Julio, e O dia de Julio, de Gilbert Hernandez (originalmente serializado em Love and Rockets Vol. 2, mas nunca completado até agora), é sua última graphic novel, uma obra-prima narrativa elíptica e emocional que traça uma vida – de fato, um século em uma vida humana – em uma série de vinhetas cuidadosamente trabalhadas, sempre surpreendentes e cativantes. Há esperança e alegria, há perseguição e luto, há guerra (muita guerra – trata-se, afinal, do século XX), há amor, há corações partidos. Esta é uma história singular e autônoma que contribui para sedimentar a posição de Hernandez como um dos mais importantes e originais cartunistas deste século, ou de qualquer outro.
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NOVE: PLACAS TECTÔNICAS
Aos 35 anos, Margaux Motin narra os erros e acertos que abalaram sua existência em páginas repletas de humor e realidade. Uma separação e um novo amor mudam radicalmente sua vida de mulher com trinta e poucos anos de idade; uma época em que decisões abruptas podem levar a consequências desastrosas.
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OITO: TINA – RESPEITO
Jornalista recém-formada, Tina finalmente realiza o sonho de trabalhar em uma redação. Ela só não esperava que seu maior desafio fosse ser pessoal, e não profissional. Em Respeito, Fefê Torquato usa a clássica personagem de Mauricio de Sousa para expor um problema que mulheres enfrentam dia a dia, e precisa acabar: o assédio.
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SETE: DUPLO EU
Um dia, Navie percebeu que estava carregando o peso de uma segunda pessoa. Um duplo que ela teve de eliminar para sobreviver. Navie estava doente. Tinha obesidade mórbida e sofria todos os dias com um sorriso no rosto. Aceitar-se é sempre difícil, mas, para Navie, amar a si mesma era como amar um reflexo de seu sofrimento. Ela tinha um duplo, carregava o peso de uma segunda pessoa de quem ela tentou fugir, tentou amar e finalmente matar. Mas como você se mata sem morrer? Este é um testemunho raro e forte de uma luta que por vezes travamos com nós mesmos. Se você já teve medo do olhar dos outros, se já comeu para se sentir melhor, se faz qualquer coisa para que gostem de você, se já se calou ainda que quisesse gritar, se já se enganou dizendo que está tudo bem ainda que por dentro o Titanic estivesse afundando, se já se viu no espelho e desprezou o que via, se já se tratou como burra, idiota, se ama sexo e piadas embaraçosas, se nunca encarou seu reflexo e disse: eu te amo… Este livro é para você. Excesso de peso envolve todo mundo, que seja no corpo ou no coração.
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SEIS: A GRANDE ODALISCA
Alex e Carole, duas assaltantes sedutoras e desencanadas, voam alto em seus golpes e são capazes de furtar qualquer coisa, em qualquer museu. Mas diante da dificuldade de sua próxima missão, que as levará ao Louvre para surrupiar A Grande Odalisca, obra-prima de Jean-Auguste Dominique Ingres, elas saem em busca de uma terceira colega. Será que a motociclista Sam, com seus vários talentos, estará à altura do cargo? Com muita audácia, liberdade, criatividade e uma pitada de desprendimento, estas Panteras às avessas negociam armas, traçam esquemas, viajam até o México para salvar um fornecedor, desbaratam um cartel de drogas no caminho, assistem a um desfile de moda, tiram merecidas férias e ainda arrumam tempo para voltar à França e executar o furto do século, que as transformará em lendas. Ou as mandará direto para trás de grades. Os artistas Bastien Vivès (Uma Irmã, O Gosto do Cloro), Florent Ruppert e Jérôme Mulot unem forças para trazer uma HQ inteligente, moderna e inspirada. Uma experiência única trabalhada a seis mãos que conduz à uma das mais divertidas séries de ação dos últimos tempos. Com os volumes A Grande Odalisca e Olympia, a editora Pipoca & Nanquim traz as duas primeiras aventuras do trio de ladras, em grande formato, capa dura com impressão soft touch, miolo inteiramente colorido em papel couché de alta gramatura e biografias dos autores.
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CINCO: JUSTIN
Quando o professor de Educação Física pede para a turma formar uma equipe de meninas e uma de meninos, Justine permanece no meio. Ela sente que não pertence ao gênero que lhe foi atribuído, mas está convencida de que todo mundo sabe disso, exceto seus pais. Ao longo de sua vida como criança, adolescente e jovem adulta, muitas vezes maltratada e incompreendida, Justine, por fim, compromete-se a viver como quem ele sempre foi, isto é, Justin.
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QUATRO: SOLITÁRIO
Mais uma graphic novel do mestre ilustrador e contador de histórias Christophe Chabouté (Moby Dick, Um Pedaço de Madeira e Aço) chega ao Brasil pela editora Pipoca & Nanquim, em um volume único de 380 páginas. Best-seller mundial e uma das obras selecionadas pelo prestigiado Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême, sediado na França, Solitário nos apresenta uma história surpreendente e emocionante, em que sonho e vida cotidiana se mesclam com sensibilidade sutil, ternura e humor. Em um pequeno farol numa ilhota afastada do resto do mundo, um eremita experimenta uma vida rodeada de solidão. Morador do lugar desde que nasceu, há 50 anos, a rocha é seu navio de granito; uma embarcação imóvel e segura que não o leva a lugar algum e que jamais chegará a nenhum porto… Afinal, por que sair dali, se o mundo além desse horizonte é tão assustador? Para onde fugir quando não há lugar para ir? Como combater o isolamento e evitar que o silêncio perpétuo se torne ensurdecedor? Anos passados em sua rocha, recebendo comida do mar e tendo a imaginação como única companheira… Até agora. Quando um marinheiro novato começa a trabalhar no barco que toda semana leva provisões para o Solitário, ele passa a fazer perguntas que toda a população dos arredores evitou ao longo de uma vida: quem é esse homem? Por que ele se esconde? Por que nunca saiu do farol? Como é viver com tanta… solidão? Uma simples e pequena atitude será o bastante para dar início a uma sucessão de eventos que golpearão irrevogavelmente a existência serena do ermitão. Repleto de belíssimas ilustrações em preto e branco de tirar o fôlego, Solitário é uma obra-prima de Chabouté — uma história inesquecível que retrata de forma impecável como alguém pode ter sua vida tolhida a ponto de se tornar uma sombra e como uma sombra pode reclamar sua identidade e se tornar alguém.
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TRÊS: SEMILUNAR
Maria é uma menina que sofre de disfemia, a popular gagueira. Porém consegue domar essa condição cantando e recitando poesias. A ideia vem de sua mãe, uma grande cantora que nunca conseguiu decolar. A música é tudo para Maria, mas a vida é muito difícil pra uma adolescente que quer viver de música e tem uma condição tão difícil de lidar, além da mãe que projeta na filha todos os seus desejos e frustrações. Esse é o ponto de partida de Semilunar, uma narrativa dramática contemporânea assinada por Camilo Solano que foca na condição humana e nas dificuldades da vida. Com dois anos de desenvolvimento, Solano inovou na sua abordagem artística, mesclando diferentes formas de finalização e colorização para marcar a diferentes passagens da história. O resultado é uma obra bem acabada sobre Maria e sua luta para se tornar uma musicista.
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DOIS: MINHA COISA FAVORITA É MONSTRO
Com o tumultuado cenário político da Chicago dos anos 1960 como pano de fundo, Minha coisa favorita é monstro é narrado por Karen Reyes, uma garota de dez anos completamente alucinada por histórias de terror. No seu diário, todo feito em esferográfica, ela se desenha como uma jovem lobismoça e leva o leitor a uma incrível jornada pela iconografia dos filmes B de horror e das revistinhas de monstro. Quando Karen tenta desvendar o assassinato de sua bela e enigmática vizinha do andar de cima — Anka Silverberg, uma sobrevivente do Holocausto — assistimos ao desenrolar de histórias fascinantes de um elenco bizarro e sombrio de personagens: seu irmão Dezê, convocado a servir nas forças armadas e assombrado por um segredo do passado; o marido de Anka, Sam Silverberg, também conhecido como o jazzman “Hotstep”; o mafioso Sr. Gronan; a drag queen Franklin; e Sr. Chugg, o ventríloquo. Num estilo caleidoscópico e de virtuosismo estonteante, Minha coisa favorita é monstro é uma obra magistral e de originalidade ímpar.
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UM: AURORA NAS SOMBRAS
Um grupo de pequenos seres é obrigado a sair do lugar aconchegante onde mora e iniciar uma luta pela sobrevivência em um mundo terrível. Tudo parece dentro dos conformes, certo? Bem, mais ou menos. A casa deles era o cadáver de uma garotinha estirado no meio da floresta, e o lugar para onde eles vão não é nada mais, nada menos que o mundo que conhecemos como nosso. Depois de provocar pesadelos com Floresta dos Medos, de Emily Carroll, e viver uma aventura fantástica com Francis, de Loputyn, a DarkSide® Books convida os leitores a embarcar em uma jornada um tanto quanto sinistra com Aurora nas Sombras. Indicado ao Prêmio Eisner em 2015, o quadrinho, escrito por Fabien Vehlmann e ilustrado pelo casal Marie Pommepuy e Sébastien Cosset (que assina como Kerascoët), conta a história da doce Aurora e seus amigos conforme eles viajam por um mundo estranho. Cercados por perigos e incertezas, eles se veem confrontados por situações extremas que despertam sentimentos como inveja, egoísmo, rancor e ganância. Formar alianças fica cada vez mais difícil, e quando o grupo começa a se desestruturar, Aurora se vê diante de um dilema: até onde ela está disposta a ir para sobreviver? Aurora nas Sombras é a verdadeira definição de um pesadelo açucarado. Não se deixe enganar pelo traço fofo e aquarelado desta graphic novel: ela pode ser atraente aos olhos, mas é perturbadora na mesma medida. Assim como o mundo em que vivemos. Ecoando a aura estranha e nonsense de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, aos olhos de David Lynch, e os dilemas morais de O Senhor das Moscas, de William Golding, Aurora nas Sombras mistura o meigo e o brutal para abordar temas como o desmoronamento da civilização e a morte da inocência. É impossível não admirar os tons pastéis das ilustrações, mesmo que, enquanto faz isso, você esteja refletindo sobre os horrores da vivência humana. Aurora nas Sombras chega para fazer parte do selo DarkSide® Graphic Novel, em uma edição de colecionador caprichada e feita para resistir a qualquer passeio na floresta.
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