A Primeira Guerra Mundial durou quatro anos, entre 1914 e 1918. Foi um conflito marcado pelas famosas trincheiras, onde os soldados ficavam literalmente enterrados no chão, lutando com todas as armas possíveis contra a trincheira inimiga, que ficava à frente. Nesse conflito, o papel dos mensageiros, que cruzavam a terra de ninguém para transmitir ordens, foi fundamental e extremamente perigoso. E é seguindo esse gancho que o filme 1917 vai nos apresentar a sua história, vamos conhecer mais?

Dois jovens soldados e uma missão: levar uma importante mensagem para a trincheira aliada à frente, ordenando que um ataque, que seria feito no dia seguinte, fosse cancelado. Um dos soldados é especialista em mapas, conhece bem o território e apesar de ser uma tarefa difícil, não parece impossível. O mais estranho nesta missão é o fato de que os dois soldados precisaram cruzar a trincheira alemã que está à frente, agora vazia, a mesma foi recém desocupada. Agora, mais do que nunca, é necessário entregar essa mensagem, com rapidez, cancelando o ataque, pois tudo provavelmente não passará de uma armadilha e estão caminhando para ela, mil e seiscentos soltados britânicos e franceses.

A trama é simples, dois soldados, uma missão e um caminho para se cruzar, mas o que faz o filme se destacar é a escolha do diretor em filmar num grande plano-sequência. Nesse estilo, a câmera segue os atores em todas as situações e em todos os lugares, todo o filme é montado para fazer o espectador acreditar que essa jornada aconteceu sem pausas. Não temos outros pontos de vistas, pois a câmera representa o público, que segue e observa o caminho que os soldados estão trilhando.

Quem comanda esse show é o diretor Sam Mendes, o mesmo de BELEZA AMERICANA e 007 OPERAÇÃO SKYFALL, e seu trabalho aqui se prova um dos mais precisos e técnicos dos últimos anos. Filmar um plano-sequência é difícil em qualquer situação, pois todos os atores, dublês e equipe técnica, precisam estar sincronizados em perfeita harmonia para tudo sair conforme o planejado. Geralmente, as cenas são gravadas de forma bem picotada, com “takes” de dois, três minutos, mas em 1917, as cenas são longas, a câmera realmente segue os atores durante dez, quinze minutos ou mais, nesse quadro não pode acontecer erros, tudo precisa estar em ordem. E junto com uma cena grande dessas, some todos os efeitos visuais necessários, pois numa guerra, o conflito está em toda a esquina. São diversas coisas que precisam dar certo no momento certo e, felizmente, todo o trabalho duro gera resultados, pois em nenhum momento o espectador sai do transe, é realmente uma jornada ininterrupta.

É não é só a perfeição técnica que o diretor nos apresenta, o roteiro, apesar de simples, também é magistral. 1917 provavelmente é o filme que mais mostra para o espectador a verdade de uma guerra. Um conflito de morte, tristeza, lama e sofrimento, feito a partir do sangue de pessoas comuns, não de comandantes pomposos e cheios de medalhas. Aqui a guerra não tem glamour, o espectador sente a intensidade do conflito e quão fomos longe. Pra que lutar uma guerra dessas? É impossível, ao final da projeção, o publico não se pegar questionando o caminho que seguimos, refletir sobre o quão a paz é preciosa.

O projeto é daqueles onde tudo precisa estar em harmonia para funcionar e uma parte fundamental nesse quebra cabeça é o elenco. Os dois jovens soldados são vividos pelos atores Dean-Charles Chapman, o Tommen de GAME OF THRONES, e George MacKay, do filme CAPITÃO FANTÁSTICO. Um é mais velho que o outro, um está confiante na missão, outro está cético, são personalidades diferentes que se complementam. A química de amizade entre os atores é muito grande e palpável, o espectador caminha com eles, teme por eles e sofre com eles, uma dupla escalada com perfeição. No filme ainda temos participações de grandes e famosos atores britânicos, fazendo pequenas pontas, mas o maior destaque vai para a equipe de dublês, que dão vida a um autêntico exército em tela. Estão todos sincronizados em perfeição, estando sempre nos lugares certos e no momento exato. Um trabalho muito complexo feito com perfeição.

A produção está indicada a dez Oscar e já levou dezenas de prêmios, a supremacia técnica atingida é sem precedentes. Talvez o filme de guerra mais complexo e desafiador já feito. A direção inova a todo o momento na missão de levar para tela um novo ponto de vista sobre um tema já bastante trabalhado nos cinemas. Provavelmente será um dos destaques nas premiações deste ano, aposta certa.

A trama é baseada em relatos reais que o avô do diretor lhe contava na juventude, um grande apanhado de desventuras e relatos que se transformaram neste grande filme. Mesmo não sendo uma trama historicamente precisa, ela se justifica por mostrar o importante papel dos mensageiros, que foi real e decisivo em muitos conflitos, além do fato de levar o espectador para o campo de batalha. Aqui não temos informações sobre o curso da guerra, negociações com líderes ou grandes batalhas. O que temos é a dor e a luta pela sobrevivência, o sangue e a lama. Sendo isso o dia-a -ia de grande parte dos soldados comuns em conflitos como esse. Uma guerra lenta, maçante e implacável. É isso que levamos para casa no final da sessão, dor, tormento, luta e também esperança.


DIREÇÃO: Sam MENDES
DISTRIBUIÇÃO: Universal
DURAÇÃO: 1 hora e 59 minutos
ELENCO: George MACKAY, Dean-Charles CHAPMAN, Benedict CUMBERBATCH, Colin FIRTH




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