Filmes que se passam dentro de um presidio geralmente são bem interessantes. Os títulos vão de UM SONHO DE LIBERDADE, nos Estados Unidos, e CARANDIRU, aqui no Brasil. Ambos excelentes longas que marcaram época. Agora a Netflix apresenta MILAGRE NA CELA 7, um filme da Turquia que é um remake de um filme coreano. A sua emocionante trama está tocando o público, que deixou o longa entre os mais vistos atualmente. Resta saber se a experiencia é realmente boa, vamos lá.

A trama acompanha um homem com deficiência intelectual que vive com sua filha pequena e sua avó numa casa simples. Eles são inseparáveis, e com pequenos trabalhos, ele consegue realizar os sonhos de sua filha, uma menina alegre e que ama a companhia do pai, que basicamente tem a mesma idade mental que ela. Durante uma festa na praia, o pai da menina acaba sendo injustamente acusado de ter afogado uma outra menina, filha de um homem importante. O ódio forte e a discriminação com o homem deficiente, fazem ele ser rapidamente agredido e preso, com riscos de ser condenado à morte.

Na prisão, ele fica totalmente isolado de seus familiares que estão desesperados para ver se ele está bem, pois sabem que foi um engano, mas ninguém quer acreditar neles. O homem acaba indo para uma cela com diversos outros detentos, lá os conflitos são constantes, porém também vai nascer uma amizade e um respeito que pode e vai culminar em um milagre na vida desse homem especial e sua filha separados injustamente.

O roteiro é simples e segue aquela cartinha do indivíduo claramente inocente que precisa vencer essa sentença imposta. Mas quem vai ajudar um homem pobre e ainda por cima deficiente? O filme consegue construir com rapidez uma relação extremamente bonita entre o pai e sua filha. Eles são inseparáveis e amam a companhia um do outro, as sequências onde estão juntos são algo que emocionam por si só, sem precisar apelar. Mas o filme não reserva muito tempo para esse arco, rapidamente o homem vai para a cadeia e lá temos uma mudança de tom. A vida no presidio é diferente, pois a cela parece um quarto com vários beliches e detentos. Um bastante diferente do outro, mas novamente o filme só mostra todos bem superficialmente. Quase nada é desenvolvido da vida desses homens e o público sente dificuldade em se importar com esses novos personagens, mas não são desenvolvidos.

O homem deficiente é vivido pelo ator Aras Bulut İynemli e seu desempenho é a melhor coisa do filme. Ele vive com muito talento um indivíduo especial sem apresentar uma atuação forçada. É natural, emocionante e também doloroso, pois o olhar do mesmo corta o coração do espectador. A sua relação com a filha move o filme, dando um toque real e especial para tudo. O resto do elenco é funcional, mas não chega a atrapalhar a produção.

A direção é bem clichê e abusa da câmera lenta, algumas cenas são melosas e, em certos momentos, parece querer forçar o espectador a chorar. São escolhas artísticas infelizes que empobrecem um pouco o filme. Visualmente a produção tem seu charme e apresenta uma cultura rica e diversa para o espectador. A produção turca traz muito de suas raízes para a tela e de cara o publico sente que é um filme diferente e especial. Mesmo que você não goste do filme, com certeza o tempo investido valerá a pena, pois admirar as belezas desse exótico país não tem preço.

O desfecho de MILAGRE NA CELA 7 reserva momentos belíssimos e chegam, sim, a emocionar, caso você tenha conseguido mergulhar nessa trama. A reviravolta é bacana e a solução final é válida. Não é um filme que inventa a roda, mas pega clichês e fazem eles trabalharem a seu favor. O filme poderia ter uns minutos a menos, a sua duração acaba pesando no segundo ato. Para quem gosta de um clássico drama humano sobre relações e redenção, essa é uma boa pedida.


DIREÇÃO: Mehmet Ada ÖZTEKIN
DISTRIBUIÇÃO: Netflix
DURAÇÃO: 2 horas e 12 minutos
ELENCO: Aras Bulut İYNEMLI e Nisa Sofiya AKSONGUR




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