Eu já me emocionei muito durante a leitura, ou ao fim da leitura, de muitos livros. Mas foi a primeira vez que me emocionei ao ler a primeira página de um livro. Foi a primeira vez que uma história me conquistou na página de abertura, o texto é lindo e demonstra exatamente o tipo de emoção que o leitor irá encontrar nas outras 334 páginas de A GAROTA DO CASACO AZUL.

Hanneke perdeu o namorado, Bas, dois anos atrás, durante a invasão alemã à Holanda. Agora, ela trabalha com pequenos contrabandos como forma de sustentar a família e como resistência à ocupação nazista. Um dia, uma de suas clientes, a senhora Janssen, pede algo muito diferente do habitual: que Hanneke encontra Mirjam, uma garota judia que ela escondia em casa e que desapareceu misteriosamente. Um pedido que poderá colocar a vida de Hanneke em risco.

A Holanda foi um dos países neutros durante a Primeira Guerra Mundial. Por causa disso, e pela declaração do próprio Hitler de que não tinha interesse no país, os governantes e a população se acharam seguros durante a Segunda Guerra Mundial. Só que em 1940, os alemães atacaram o país sem qualquer aviso. Mais de 2000 soldados holandeses morreram. E nos anos seguintes, mais de 100.000 judeus desapareceram no holocausto, quase três quartos da população judaica da Holanda.

Muito tempo antes de Bas morrer, fingimos discutir sobre quem era o culpado por ele ter se apaixonado por mim. A culpa é sua, ele me disse. Porque você é adorável. Eu disse que ele estava errado. Que era preguiçoso me culpar por ter se apaixonado por mim. Irresponsável, na verdade.

Através de uma narrativa sensível e de uma pesquisa meticulosa da época, a autora, Monica Hesse, cria Hanneke, uma personagem que acha que compreende o horror da guerra e do nazismo, mas descobre que o seu conhecimento é superficial e incompleto diante da real verdade do que os judeus sofreram. Ao procurar por Mirjam, Hanneke encontra um grupo de jovens da resistência que salvam crianças da morte nos campos de concentração nazistas, descobre o que acontece com seus vizinhos que são levados por soldados alemães, entra em um cinema fechado onde são reunidos os judeus, e se depara com verdades sobre seu passado, suas amizades e sobre a culpa que sente pela morte do namorado. Hanneke começa o livro como uma jovem que tem uma leve percepção da guerra, e termina como uma mulher pronta para dar a vida pelo liberdade de seu povo.

Então disse que também era minha culpa que ele quisesse me beijar. E falei que seria culpa dele se eu permitisse. E aí seu irmão mais velho entrou na sala e disse que seria culpa de nós dois se ele vomitasse nos ouvindo.

O amadurecimento de Hanneke não é apenas em relação ao que acontece no país, mas sobre ela mesma. A culpa que sente por ter incentivado o namorado a se alistar e a lutar pela Holanda, corrói sua alma. E quando retoma o relacionamento de amizade com Ollie, o irmão de Bas, as lembranças tornam a dor maior. A isso, ela soma a falta que também sente de sua melhor amiga, Elsbeth, que se casou com um oficial alemão da Gestapo, e que, por isso, ela afastou de seu convívio. Hanneke não conseguia compreender como Elsbeth podia se casar com um homem que fazia parte do nazismo.

A culpa pela perda de Bas, a falta de Elsbeth, a situação do país, tudo isso faz com que Hanneke crie na busca por Mirjam, uma chance de se redimir, de fazer algo que faça diferença, que mesmo que ela não possa salvar seus vizinhos e amigos judeus, que pelo menos consiga salvar uma garota, cuja única descrição que tem, é que desapareceu vestindo um casaco azul.

Só mais tarde naquele dia, quando eu estava caminhando de volta para casa – quando ainda podia caminhar para casa sem me preocupar com ser parada por soldados ou perder o toque de recolher ou ser presa -, percebi que eu não tinha falado que o amava de volta. Era a primeira vez que ele dizia que me amava e eu esqueci de retribuir.

A história surpreende em diversas partes. Quando Hanneke volta ao convívio da família da Bas, através de Ollie, ela é levada para dentro de um grupo da resistência, e os momentos em que eles se reúnem antes do toque de recolher, e o perigo que correm ao voltar para casa e serem interrogados por soldados alemães, é assustador. Também surpreende quando parece que pode surgir uma romance em Hanneke e Ollie, uma vez que ambos estão fragilizados, sozinhos, sensíveis a qualquer fuga emotiva, mas descobrimos que isso é impossível, por motivos que não são tristes, mas que deixam um sorriso no rosto do leitor. E surpreende mais ainda, quando Hanneke descobre onde está Mirjam, vai atrás dela, e começa uma sequência de eventos impactantes, assustadores, que demonstram a crueldade e a indiferença quanto à vida que tinham os nazistas.

Ainda sobre o possível romance entre Hanneke e Ollie, eu temi que a história fosse desviada para isso. É compreensível que os dois jovens criassem esse vínculo, mesmo ele sendo irmão do namorado de Hanneke. A semelhança física e a fragilidade emotiva de Hanneke certamente a levariam para os braços de Ollie, como uma espécie de anestésico para a dor que ela sentia. Felizmente, a autora foge disso, e através de uma saída que não só é original, mas atual e muito bem-vinda.

A parte final de A GAROTA DO CASACO AZUL entrega sequências que desorientam pela violência. Principalmente uma determinada parte que se passa sobre uma ponte. É difícil não chorar e não se chocar. Ainda mais quando se tem consciência de que isso realmente aconteceu durante a guerra. Os jovens da resistência que estão no livro, foram inspirados pelo Amsterdam Student Group, uma organização de estudantes universitários que se formou na Holanda ocupada e que salvou mais de 600 crianças da morte em campos de concentração e nas fábricas de extermínio. Ao final do livro, existe uma nota com explicações sobre a precisão histórica da narrativa, dos locais e dos nomes.

Eu deveria ter dito. Se soubesse o que ia acontecer e o que descobriria sobre amor e guerra, teria me certificado de dizer naquele dia. Essa culpa é minha.

A GAROTA DO CASACO AZUL é uma história linda, com uma narrativa que utiliza frases carregadas de emoção, de rancor pela opressão e medo pela guerra, onde a morte ronda todos os personagens, e que, mesmo assim, insistem em salvar o maior número de pessoas, como forma de se salvarem a eles próprios. Uma leitura que envolve ficção com história, que utiliza um mistério e o salvamento de uma garota, como pano de fundo para mostrar como a Segunda Guerra Mundial exterminou milhões de pessoas inocentes de forma desumana. Não deixe de ler, é imperdível, uma das melhores leituras dos últimos anos.

Um livro assim tem que ser lido por todos. Tá sem grana para comprar? Então, tente a sorte! Quer ganhar um exemplar de A GAROTA DO CASACO AZUL? Basta seguir as regras abaixo! E se não ganhar, junte um dinheirinho e depois compre um exemplar, não vai se arrepender!

REGRAS

UM: Preencher o formulário de participaçăo, sendo que existem entradas obrigatórias, que valem um ponto cada uma, entradas opcionais, que valem cinco pontos cada uma, e uma entrada diária opcional, que vale cinco pontos a cada dia que voce a fizer. Quantos mais pontos voce somar, mais chances tem de ser sorteado;

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TRĘS: O ganhador precisa ter endereço no Brasil para receber o premio;

QUATRO: Após 20/06/2019, será feito o sorteio pelo formulário de participaçao;

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SETE: O blog GRAMATURA ALTA se reserva o direito de dirimir questoes năo previstas nestas regras.

GANHADORA

Elizete Silva (@kashogui)


AVALIAÇAO:


AUTORA: Monica HESSE é jornalista e escreve para o The Washington Post, veículo para o qual já cobriu casamentos reais, campanhas políticas, cerimônias do Oscar e diversos outros acontecimentos. Como Jornalista, ganhou o prêmio Society for Feature Journalism’s Narrative Storytelling. Seu primeiro romance, American Fire, e A Garota do Casaco Azul ganharam o Edgar Award na categoria de Melhor Suspense Histórico Juvenil. Monica é vegetariana e mora com o marido e seu cachorro.
TRADUÇAO: Rachel AGAVINO
EDITORA: Rocco
PUBLICAÇAO: 2019
PÁGINAS: 265


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