Muitos cientistas acreditam que tudo, todas as coisas, estão interligadas em algum nível. E que, por causa disso, tudo afeta tudo, de forma direta ou indireta. Mas, resumindo, suas decisões, por mais inconsequentes que pareçam, podem, e afetam, algum evento no futuro. Se você deixar de ir em uma festa, pode deixar de conhecer a garota, ou garoto, de sua vida. Ou pode conhecer. Você parar para olhar uma vitrine, pode impedir que seja atropelado alguns metros na frente, ou, se não parar, o inverso. Você virar à esquerda, ao invés de virar à direita, pode conduzir sua vida em sentidos totalmente diferentes, ou fazer isso com outra pessoa.
Em essência, são essas escolhas, que muitos chamam de coincidências, que conduzem a vida de Natasha e Daniel, até o momento em que eles se encontram. Natasha é natural da Jamaica e está, juntamente com seus pais, de forma ilegal nos Estados Unidos; Daniel é descendente de coreanos, tem um irmão prepotente, problemático e sem caráter, além de um pai intransigente quanto aos costumes do seu país. Natasha é racional, deseja ser uma cientista. Daniel escreve poesias e almeja coisas da alma. Natasha e família estão para serem deportados por causa de um erro de seu pai. Daniel se apaixona por Natasha. E, nas páginas seguintes a eles se conhecerem, Daniel tenta mostrar para Natasha, que ela também pode se apaixonar por ele. É a razão contra a emoção. A objetividade contra a subjetividade. E, sinceramente? É lindo de se acompanhar.
Eu li algumas resenhas de pessoas reclamando dessas coincidências. Como disse acima, não são coincidências. São atos perpetrados por pessoas, que o leitor acompanha por todas as ramificações que eles criam. Quando você tem a possibilidade, ou capacidade, de vislumbrar toda a teia que une nossas escolhas do dia a dia, você percebe a ligação que elas criam em todos nós. É disso que O SOL TAMBÉM É UMA ESTRELA trata. O que acompanhamos na história de Natasha e Daniel, e o que ocorre ao redor deles, é um reflexo do que ocorre com a gente, mas sem que possamos ver o que nós causamos nas outras pessoas, ou no que elas causam na nossa vida. É um conceito difícil de ser compreendido, ainda mais hoje em dia, onde todos parecem se preocupar apenas com o próprio umbigo.
A narrativa de Yoon é igual à de seu livro anterior, TUDO E TODAS AS COISAS. Capítulos curtos, às vezes com apenas uma página, e alternados entre os dois personagens, algumas explicações e a visão de personagens secundários. Mas a forma como ela faz isso, desta vez, é muito, muito melhor, mais firme, mais dinâmica, mais convincente, mais apaixonante.
Por exemplo, em determinado momento, Natasha cruza com uma segurança no edifício do governo que deporta os imigrantes ilegais. Acontece algo, totalmente corriqueiro, sem importância. No capítulo seguinte, acompanhamos o motivo desse algo sob o ponto de vista da segurança do edifício. E no fim do livro, acompanhamos o que esse pequeno fato isolado significou para a segurança anos depois. É surpreendente! Por quê? Porque é real. Quem nunca passou por alguma coisa, aparentemente sem significado para todos, menos para você? Algo que ninguém percebe, apenas você? E esse algo é lembrado por você anos depois, algo que, de alguma forma, incitou você tomar decisões que podem ter contribuído para mudar o caminho de sua vida.
O mesmo acontece com mais alguns personagens, com maior ou menor importância, durante o dia em que Natasha e Daniel se apaixonam. Nem tudo são eles que causam. Algumas coisas, são os atos dos outros que provocam e acabam afetando a vida do casal. Coisas como, simplesmente, não atender uma ligação, ou esquecer de um compromisso, de uma reunião. E é muito interessante acompanhar o que essas pequenas ações, ou falta delas, podem afetar outras pessoas.
Tudo isso é narrado pela autora na ordem certa em que precisam ser narradas, não necessariamente em uma ordem cronológica. E essa escolha, faz com que o leitor seja surpreendido em diversos momentos, principalmente na última página, quando a esperança de um final feliz se torna quase impossível de acontecer. A autora prova que não. O inesperado, a consequência de algo muitos anos antes, não tem prazo de validade, reflete-se no futuro como ondas provocadas por uma pedra que caiu no meio de um lago. Elas vão se espalhando, até atingirem a margem. Ou apenas esperam o momento certo para que duas pessoas possam, finalmente, encontrarem a felicidade.
Obs.: Resenha originalmente publicada no blog com o layout antigo.
AVALIAÇÃO:
AUTORA: Nicola YOON
TRADUÇÃO: Alves CALADO
EDITORA: Arqueiro
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 288
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