Primeiro, Letícia cursou a faculdade de arquitetura, abriu uma confecção de roupas e ajudou a família na empresa de construção civil, até que, finalmente, encontrou sua verdadeira vocação: contar histórias através de palavras escritas. Com mais de 25 obras publicadas no Brasil, e algumas no exterior, tem seu maior sucesso no romance, A CASA DAS SETE MULHERES, que virou minissérie na televisão pela GLOBO. Recentemente, escreveu o roteiro de TEMPO E O VENTO, outra produção televisiva, e lançou este ano, o livro, O PRIMEIRO E O ÚLTIMO VERÃO! Nesta entrevista exclusiva concedida ao blog, conheçam um pouquinho da autora e de sua obra.

ENTREVISTA

GRAMATURA ALTA: Foi através de seu primeiro livro, O ANJO E O RESTO DE NÓS, que você conheceu o pai de seus dois filhos. Acredito que qualquer outra obra sua, por mais sucesso que obtenha, será pouco diante dos dois presentes que conseguiu com a primeira. Quais são suas expectativas pessoais quando finaliza um livro?

LETÍCIA: Eu fiquei 15 anos casada, mas me separei em 2015. 😉 De qualquer modo, a literatura se mistura com a minha vida de forma muito intensa. Eu escrevo porque adoro, porque preciso e porque os personagens nascem em mim. Assim, o que mais gosto mesmo é o processo de estar escrevendo, montando e erguendo um mundo de ficção. Quando acaba, sinto um alívio, mas logo quero começar tudo de novo. Evidentemente, quero que meus livros sejam lidos pelos leitores, quero que eles experimentem a viagem que criei para eles.

GRAMATURA ALTA: Quando se pesquisa na Internet sobre Letícia Wierzchowski, a frase explicativa que segue o nome, mesmo tendo mais de 25 livros publicados, é: “…a autora de A CASA DAS SETE MULHERES”. O quanto a pressão desse sucesso afetou seu processo criativo?

LETÍCIA: Não afetou em nada, graças a Deus. É um fato que A casa das 7 foi o sucesso mais vivo da minha carreira até aqui, mas com o suporte da Rede Globo… risos, eu não posso comparar este livro com os outros. E cada livro me trouxe alegrias, leitores e novas experiências. Eu tenho carinho pela A casa das sete, mas é um entre muitos livros – porém, seu sucesso abriu-me muitas portas. Sou grata ao livro. Escrevi há muito tempo, e embora talvez hoje o fizesse de forma diferente (pois os livros são resultados também daquilo que somos) acho que a ideia foi incrível. A literatura existe para nos ajudar a ver a realidade de novas formas, para subverter a realidade…

GRAMATURA ALTA: O sentimento que mais se apossou de mim, durante a leitura de O PRIMEIRO E O ÚLTIMO VERÃO, é o de um profundo pesar por uma época que se foi. Se você pudesse, gostaria de voltar à época de sua adolescência para reviver ou mudar algum fato?

LETÍCIA: Não, risos. A vida não pode ser mudada e nem o livro é autobiográfico. Eu mudo as realidades que me incomodam na ficção. E não sinto saudades da adolescência, embora tenha vivido muitas coisas legais.

GRAMATURA ALTA: O amadurecimento de Clara é visível em cada página da obra, principalmente na forma dela enxergar os pais e nas agruras das amizades e dos amores finalizados. Na educação de nossos filhos, na sua opinião, como prepará-los para a compreensão de que os pais não são perfeitos, que as amizades podem não ser sinceras e que os amores podem não ser eternos?

LETÍCIA: Educando os filhos com humanidade e exercendo a empatia – colocar-se no lugar do outro sempre. Eu tenho um filho adolescente e tento vê-lo sob a ótica das minhas próprias angústias e problemas da época. Mas a literatura não existe para doutrinar ninguém, e eu não sou psicóloga. Crio meus filhos acertando e errando, assim como acerto e erro em quase tudo, inclusive na literatura.

GRAMATURA ALTA: Quando Clara precisa lidar com a morte de uma personagem, ela se assusta quando uma pessoa da família dessa personagem não reage da forma que Clara esperava. Na sua visão, como é saber lidar com a perda de alguém?

LETÍCIA: Ninguém sabe lidar com perdas deste tamanho. Clara, no livro, não assusta, apenas não entende. Porque estavam todos perdidos, cada um no seu lugar. A morte é dura, mas a morte inesperada, a morte repentina de uma pessoa jovem é muito brutal. Desestrutura a todos.

GRAMATURA ALTA: Eu tive que pesquisar e visitar, virtualmente, a praia de Pinhal. Usando o Street View, fiz um passeio pelas ruas de terra, pelas casas coloridas de madeira, pela praia deserta, e consegui ver, inclusive, as nuvens de areia. Sua descrição de cada cenário é preciso e muito visual. Nas memórias de Clara, o quanto existe das memórias pessoais de Letícia Wierzchowski?

LETÍCIA: A praia que eu passei a minha infância não foi Pinhal. Eu sou uma ficcionista. Mas usei uma praia aqui do sul para simbolizar um clima, um ambiente que era comum a todo o litoral. Claro que existem coisas minhas neste livro, como existem em todos os livros – mas são coisas perdidas, soltas. São mais sentimentos do que fatos.

GRAMATURA ALTA: Hoje em dia, existem muitos autores nacionais talentosos, com obras publicadas de grande qualidade. Mesmo assim, nossas escolas insistem em forçar a leitura de clássicos que, na sua maioria, não são compreendidos pelos alunos e, por isso mesmo, também não são apreciados. Na sua opinião, não seria mais benéfico iniciar a leitura desses crianças com obras atuais, que conversem com elas, para, mais tarde, quando já tiverem o hábito da leitura, apresentar os clássicos?

LETÍCIA: Acho que sim e falo muito sobre isso nas escolas que visito. É preciso fazer a leitura ser boa. Ler por obrigação livros que não dialogam conosco é um fardo – e isso cria um ranço que afasta os jovens da leitura. Não extinguiria os clássicos da lista, mas deixaria a leitura escolar mais leve, inserindo sim títulos atuais de autores contemporâneos, que têm identidade com os alunos.

GRAMATURA ALTA: Alguns de seus livros são infanto-juvenis. Nessas obras, é necessário existir uma moral bem definida e explicada de forma clara, simples, de fácil entendimento. O que é mais difícil: escrever para adultos, ou para crianças?

LETÍCIA: Este seria o meu primeiro romance juvenil, embora eu ache que ele não tem rótulo, é um livro pra adultos também. Criança é outra coisa – bem diferente. E eu faço ambas as coisas com prazer, mas são caminhos diversos, aventuras narrativas diversas. Não sei comparar os processos.

GRAMATURA ALTA: Como última pergunta, que mensagem poderia deixar para que os jovens que irão ler O PRIMEIRO E O ÚLTIMO VERÃO, saibam aproveitar o curto período da adolescência e de todas as experiências que ele proporciona e que serão marcantes para toda a vida?

LETÍCIA: Todos os momentos da nossa vida são importantes. Eu só lamento que a adolescência é vista com algum preconceito pela sociedade, como uma fase difícil, quando, na verdade, o jovem está começando a criar seus próprios parâmetros. Diálogo é sempre importante, eu lembro de ser muito quieta nesta época, de me achar incompreendida pelos meus pais. Estamos todos no mesmo barco, cada um com seus problemas e sonhos. Navegar juntos é sempre melhor.