Hoje em dia, o cardápio de filmes sobre super-heróis está, felizmente, começando a ficar muito diverso. Temos heróis brancos, negros, heroínas, herói árvore, herói animal e agora um herói criança. A nova aventura da DC vai mudar bastante a fórmula do estúdio, ao mesmo tempo em que apresenta um herói “novo”, que é um dos maiores veteranos das HQs. Bora conhecer o Shazam?

Billy Batson é um jovem órfão que anseia por reencontrar sua mãe. Depois de se perder num parque de diversões quando era pequeno, Billy acabou passando por diversos lares adotivos, e não demorava muito para o jovem fugir de todos eles. Mas como ele ainda é um menor de idade, ele não tem escolha, precisa ficar. Desta vez, Billy acaba sendo realocado na casa de um casal que tem como lar um abrigo para várias crianças também órfãs. A adaptação é complicada e Billy ainda se sente conformável apenas em sua bolha, longe de todos. Tudo muda quando, do nada, o rapaz é abduzido, enquanto estava no metrô, e logo é jogado numa caverna escura e estranha. Na caverna existe um velho mago que informa ao garoto que ele é puro de coração e que irá receber seus poderes lendários para poder deter um mal que se aproxima. E para conseguir acesso a esses poderes incríveis, o menino só precisa falar: SHAZAM!

O esquema é simples, o menino diz a palavra certa e em seguida se transforma num autêntico adulto. Forte, musculoso e poderoso, mas qual são os poderes que ele recebeu? Nem ele sabe. O roteiro vai desenvolver, principalmente, esse novo herói adulto, com a mente de uma criança. Logo é possível esperar diversos absurdos nessa jornada do menino para descobrir quais são seus poderes. Ele vai ter auxílio de seu colega de quarto no abrigo, também órfão e portador de necessidades especiais. Com seu entusiasmo, conhecimento e amor por heróis, ele vai dar o caminho para Billy, agora Shazam, se desenvolver. E ele vai testar tudo, algum tem que dar certo. Super-força, invisibilidade, olhos lasers, velocidade e resistência. E sendo uma criança no corpo de um adulto, estupidez é o que não vai faltar. Esses testes reservam alguns dos melhores momentos do filme, alguns engraçados, outros hilários, como por exemplo durante um assalto, Billy se transforma e está curioso para saber se é resistente a balas. Depois de ser metralhado pelos bandidos e sair ileso, seu amigo diz: não sabemos se você é resistente a balas ou se é o uniforme, senhor bandido, tem como você acertar na cara dele?

O vilão é o primeiro a ser desenvolvido durante a trama e seu caminho é quase o posto de Billy. Ele também é o escolhido para receber poderes de uma entidade poderosa. Agora, ele quer resolver pendências do seu passado e, nesse meio tempo, acaba sendo controlado por uma força superior. É um vilão interessante, mas o plano final é pouco claro. O roteiro também peca por não saber dosar o nível de humor. Até certo ponto tudo é hilário e bem construído, mas chega um momento onde as coisas começam a ficar forçadas e o humor natural e palpável, dá lugar a vários momentos vergonha-alheia. Isso se intensifica no ato final, onde uma grande novidade é apresentada para o espectador, algo que nunca vimos antes em filmes de heróis, mas esse momento se perde em excessos de piadas bobas que atrapalham e muito o desenvolvimento desse momento épico. Ficam algumas coisas em aberto, mas não chega a ser furo no texto, está mais para assuntos a serem resolvidos numa sequência, que esperamos que seja feita.

Asher Angel e Zachary Levi são os protagonistas que dão vida a nosso herói fortão: o primeiro na fase jovem; e o segundo no adulto. O jovem se sai muito bem e consegue transmitir bastante tristeza, acidez e aquela leve rebeldia infantil. Zachary é a estrela do filme e encarna muito bem a criança no corpo do adulto. Ele é bobão, imaturo e adora fazer besteira. O ator se entrega completamente para o personagem e o excelente resultado é mais que explícito. Já imaginamos como seria incrível o ator interagindo com os outros heróis da DC, como o Superman ou a Mulher Maravilha. Por favor DC, faça isso acontecer! Outro grande destaque no elenco é o jovem Jack Dylan Grazer, conhecido pelo filme IT A COISA. Ele era aquele menino que vivia tomando remédios, lembram? Lá ele já estava ótimo, mas aqui, com mais espaço na trama, o jovem brilha. Sua química com o protagonista é incrível e seu personagem é um daqueles que sabem de tudo sobre algum assunto, ele tem várias ideias sobre como o herói pode ser ainda melhor e o resultado desse entusiasmo é um desempenho sem defeitos. O personagem é deficiente físico, e o filme aborda isso com importância, respeito e, claro, um pouco de humor. Aliás, o personagem é uma ótima representatividade para crianças especiais e, além dele, todas as crianças do abrigo são interessantes e representadas com muito carinho, dá para sentir muito amor no elenco, impossível contestar a química familiar deles.

O lado visual do filme é muito bonito e também merece destaque. Os efeitos visuais são muito bons e convicentes. Até impressionam quando estão desenvolvendo os poderes do herói. A direção do filme é muito competente e sabe muito bem desenvolver o tom do filme, ele não se desvia do seu objetivo e sabe muito bem trabalhar esse mundo moderno em que vivemos. O herói foi criado originalmente lá nos anos 30 e pode ter certeza de que você não vai achar ele datado ou velho, a adaptação para os moldes de hoje foi perfeita, impossível não se encantar com ele. O figurino do herói é muito estranho e rende diversas piadas durante o filme, mas esteticamente ele é bem feito. E eu estou chamando toda a hora o protagonista de herói, porque literalmente o herói não tem nome. Ele não pode se chamar Shazam, porque isso é a palavra chave de sua transformação, se seu nome fosse esse, ele iria toda a hora se transformar atoa. E, obviamente, o filme iria fazer piada disso e nem preciso dizer que essa sacada no texto dá muito certo. Limites para quê? Aqui tem piada sobre tudo, sim!

No final temos um bom filme de comédia sobre um herói em desenvolvimento. E não se preocupe, porque a comédia não é apelativa, tem algumas piadas destinadas para adultos, sim, mas nada que prejudique a experiência para crianças. A ação aqui é simbólica, se você espera muita adrenalina, vai se decepcionar. O filme poderia ter usado melhor os poderes do herói, ele é extremamente poderoso, mas demostra muito pouco o seu poder. Pode não ter muitos momentos alucinantes, mas a emoção é o que não vai faltar. O desenvolvimento de Billy e sua dor por ser órfão, as dificuldades diárias que uma criança deficiente vive e o desafio que é gerir um lar para várias crianças abandonadas, são alguns dos melhores pontos do roteiro, que no meio de tanto humor, insere um drama competente que, chega a emocionar.

Um bom acerto da DC que parece estar se estabilizando mais uma vez nos cinemas, depois de tanto fracasso. Um filme fresco que se diferencia bastante do que temos hoje em dia, merece ser conferido!

A produção conta com duas cenas pós-créditos, então nada de sair do cinema correndo, hein!


AVALIAÇĂO:


DIREÇĂO: David F. SANDBERG
DISTRIBUIÇĂO: Warner Bros.
DURAÇĂO: 2 horas e 12 minutos
ELENCO: Zachary LEVI, Jack Dylan GRAZER, Asher ANGEL, Mark STRONG e Djimon HOUNSOU




 

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