LOLITA é uma história de paixão, obsessão, loucura e ruína. O livro, tão polêmico e perturbador, foi escrito entre 1950 e 1953, porém, após a recusa de diversas editoras norte-americanas, foi publicado somente em Paris no ano de 1955, pela Olympia Press. Apesar da falta de sucesso inicial, LOLITA atingiu o primeiro lugar na lista dos mais vendidos em 1958, sendo hoje considerado um dos principais títulos da literatura universal.

A obra é narrada em primeira pessoa por Humbert Humbert, o protagonista europeu com problemas psiquiátricos que se muda para a América do Norte a fim de fixar moradia e se tornar professor de literatura e escritor. Ele se torna inquilino da viúva Charlotte Haze, mãe de Dolores (nossa Lolita), uma garotinha de 12 anos, por quem Humbert se “apaixona” perdidamente desde a primeira vista. Lolita desperta um desejo desenfreado nele, e esse sentimento para com a garota se torna pura obsessão. Para não ter que se separar de sua amada, ele se casa com Charlotte. No entanto, após alguns ocorridos, Humbert se torna o responsável por Lolita e passa a controlar a vida da mesma.

LOLITA é bastante trágico, mostrando a trajetória dos personagens, pedofilia, incesto, a influência de tudo isso na vida da pré-adolescente Dolores, a obsessão doentia e o sofrimento de Humbert… Dolores não tinha uma boa relação com a mãe e, após ficar sob o domínio do padrasto, aquele que era para ser seu cuidador, se torna seu violentador (exigindo atos sexuais, impedindo-a de fazer atividades como uma criança normal, impondo ordens,…).

A obra trata de temas delicados, então há trechos bastante incômodos. Inicialmente, têm-se a imagem de Humbert como um vilão (por tudo que ele mesmo já contou sobre si), e Lolita como uma menina inocente sendo assediada por um homem de meia-idade. No entanto, aos poucos, o narrador-personagem começa a descrever cenas que induzem o leitor a ver uma imagem mais sexualizada de Dolores, dizendo que ela se insinuava para ele e provocava-o com seu corpo de ninfeta. No entanto, fica bastante evidente o quanto nosso protagonista não é um narrador confiável com suas alterações psíquicas e sua obsessão sobrepondo-se ao bom senso, além de que não temos o ponto de vista de Lolita para comparar os fatos. É claro que nossa opinião acerca dos personagens muda ao longo da história, pois todos possuem um lado bom/inocente e outro ruim. Porém, a menina não deixa de ser vítima por ter atitudes consideradas inadequadas para sua idade.

O protagonista H. assume ser um adorador de ninfetas/pedófilo desde o início e não se esquiva da culpa de tudo que fez; além disso, na segunda parte da obra, ele se mostra bastante arrependido por ter tomado certas atitudes com Dolores, e esses trechos são bem surpreendentes, porque vemos um lado novo (verdadeiramente sensível) do “vilão”.

A compreensão do texto não é fácil, pelo contrário: possui longas descrições com linguagem extremamente rebuscada, trechos e palavras em francês e exige muita atenção e sensibilidade para entender a mensagem do autor; porém, ao mesmo tempo que é complexa, é uma linguagem quase poética que evidencia o quão brilhante Nabokov era e nos dá a sensação de que há maior leveza na escrita, apesar de temas tão polêmicos serem o foco narrativo.

Ao final da leitura, descobrimos que: toda a obra foi escrita inicialmente em forma de carta de confissão para o júri, enquanto Humbert estava preso e esperando sua sentença; e que o manuscrito só foi publicado depois que todos os personagens presentes na narrativa já haviam morrido.

LOLITA é uma obra-prima brilhante composta por Nabokov, extremamente bem escrito e perspicaz, que aborda temáticas tabus. Indico para os adoradores de clássicos e de livros inteligentes.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Vladimir NABOKOV nasceu em 1899, em São Petersburgo (Rússia), numa família da antiga aristocracia. Em 1919, a instabilidade produzida pela revolução bolchevique obriga a família a abandonar a nova União Soviética e ir para a Inglaterra. Nabokov estuda em Cambridge até 1922, licenciando-se em literatura russa e francesa. Em seguida, muda-se para Berlim, onde dá aulas de tênis e inicia sua produção literária. “Lolita” é seu principal romance. Em 1926, após publicar poemas e contos, lança seu primeiro romance, “Machenka”. Depois de uma estadia em Paris, fugindo dos exércitos nazistas, chega em 1940 aos Estados Unidos, onde se dedica ao ensino de literatura russa em várias universidades além de trabalhar no departamento de entomologia (o estudo dos insetos) em Harvard.
TRADUÇÃO: Sergio FLAKSMAN
EDITORA: Alfaguara
PUBLICAÇÃO: 2011
PÁGINAS: 392


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