Tim é um ex-policial de 42 anos que é passageiro de um avião, que aguarda autorização para decolar, com destino a Nova York. O atraso se deve à chegada de um agente federal que precisa embarcar, mas não há lugar vago. A companhia faz várias ofertas em dinheiro para quem se prontificar a ceder o lugar e pegar um voo no dia seguinte, mas ninguém demonstra interesse. Como Tim não pressa de chegar, pelo contrário, está em uma fase em que precisa descobrir como será sua vida no futuro, pede uma quantia alta, além do reembolso do valor da passagem, e a companhia aceita.

No dia seguinte, Tim começa uma viagem pela estrada, pegando várias caronas, até que chega em uma cidade chamada DuPray. Nela, enquanto procura por um hotel, se depara com um aviso na porta da delegacia, onde oferecem a vaga de vigia noturno. Ele se pergunta: “por quê não?”. Tudo o que ele deseja é isso, um emprego simples, em uma cidade simples. Depois de conhecer e conversar com o xerife John, contando todo o seu passado e o motivo de ter deixado a polícia (e você só vai saber lendo, porque eu não vou contar), ele é aceito.

Semanas mais tarde, acontece um assalto na loja de um posto de combustível, e graças à experiência de Tim, o funcionário é salvo. O xerife John reconhece que Tim tem muitas mais qualificações do que apenas um vigia, e como um dos policiais está prestes a se aposentar, John oferece a vaga para Tim. Ele aceita. E meses mais tarde, quando um garoto de 12 anos aparece em DuPray, Tim vai achar que o inferno chegou à cidade.

Mas Tim não é o personagem principal de O INSTITUTO. Entretanto, Stephen King usa 50 páginas para construir todo um background para Tim, exatamente para quando ele voltar a aparecer, 400 páginas depois, o leitor se importar com o que acontece com ele e com todos os habitantes de DuPray. Na verdade, o personagem principal se chama Luke, o tal garoto de 12 anos, e ele é bem peculiar.

Luke possui uma inteligência que ultrapassa todas as escalas. Com apenas 12 anos, meses antes da chegada de Tim à cidade de DuPray, Luke está prestes a viajar metade do país e entrar nas duas maiores e melhores faculdades do mundo. Só que seus planos são jogados fora, quando ele é sequestrado e levado para um lugar desconhecido, onde existem outros garotos tão jovens quanto ele, também bastante peculiares, que sofrem experiências, torturas, e tudo por um objetivo desconhecido.

Nesse lugar, Luke conhece Kalisha, Helen, George, Nicky e Iris. Alguns deles são TC e outros são TP, ou seja, possuem algum nível de capacidade telecinética (TC) ou telepática (TP). As experiências são para desenvolver essas habilidades, aumentá-las. Luke, além da inteligência excepcional, descobre que possui ambas, o que é bastante raro, mas em um nível muito baixo. Mas as coisas mudam quando chega um outro garoto, de apenas 10 anos de idade, que se chama Avery. A telepatia dele é igual à inteligência de Luke, acima da escala. E isso dá a Luke a oportunidade que precisa para armar uma fuga.

O INSTITUTO não é uma obra de terror, mas um thriller de suspense, com um pouco de ficção-científica, no mesmo gênero de A ZONA MORTA ou CARRIE. Não existe nada de sobrenatural na história, apenas garotos superdotados, uma agência sem escrúpulos, que tortura e mata sem qualquer hesitação, um plano de vingança, com um clímax cinematográfico. Mas como todos os livros de King, o centro não é a história, mas a complexidade dos personagens, todos muito bem construídos, desde os secundários, até os principais.

O cuidado que King tem com Tim no início do livro, é o mesmo que ele tem com os vilões do Instituto, desde os seguranças, até o grande chefão. Claro que em uma menor escala. Mas não são personagens que existem apenas por existir, todos eles possuem uma função clara e necessária dentro da história, e em um momento, ou mais, essa importância aparece dentro da narrativa.

E se King é cuidadoso com os vilões, é ainda mais com as crianças. Kalisha é atrevida, Helen é sensual e desbocada, Nicky é corajoso, Avery é sensível e ingênuo, e assim por diante. Todos eles possuem personalidades diferentes, pontos de vista distintos, e todos eles conquistam por esse conjunto de características, ainda mais sendo crianças. E eles se comportam como tal. Têm medo, choram, fazem brincadeiras infantis, provocam uns aos outros, caem em brigas e discussões bobas, amam um doce, e assim por diante. E por causa dessa veracidade na inocência, é chocante quando eles sofrem maus tratos por não obedecerem ordens, como tapas no rosto, choques, afogamento, entre outras torturas.

Eu confesso que levei dois sustos logo no início, quando Luke é sequestrado, a violência fria que acontece nesse ponto, e pouco depois, quando ele é levado para um exame médico já dentro do Instituto e se nega a colaborar, por estar revoltado, e leva um tapa no rosto que o derruba no chão. Confesso, eu não esperava. É chocante. E o que se segue, a ele e a todos os outros garotos, é bem pior.

A única presença adulta que tenta ajudar os garotos dentro do Instituto, é uma das faxineiras, Maureen. É uma senhora já de idade, cheia de dívidas e com um filho longe de sua vida. Ela começou achando que conseguiria aceitar o que acontece naquele lugar, mas com o passar dos anos, sua consciência foi mais forte e a fez ver que precisava fazer algo. Com a chegada de Luke, ela consegue o que precisa. Sua história é comovente, e o motivo dela largar tudo e ajudar os garotos, é mais triste ainda.

A amizade que os garotos criam dentro do Instituto é muito gratificante de acompanhar. Os momentos em que se ajudam, que brincam, que tentam se proteger. Luke cresce, amadurece à força, e deixa que um desejo de vingança se forme dentro dele. Da mesma forma que surge dentro de Avery, só que de uma forma muito mais avassaladora. E toda essa raiva é exposta na parte final da história, agora com a participação de Tim, o que leva a várias sequências de muita ação, com direito a tiros, batalhas mentais, edifícios sendo destroçados, e muita morte. Claro que O INSTITUTO irá virar filme em algum momento do futuro, e será incrível ver como ficará esse final nas telonas.

Mas o livro é assim tão perfeito? Não. Existem vários furos, alguns até bem grandes, mas que não posso comentar, iria estragar seu prazer na leitura. Mas quando for lembre, repare no último capítulo, depois que tudo já aconteceu, quando um personagem desconhecido tem uma conversa com outro personagem, e explica tudo o que não foi explicado até aquele momento. Essa conversa cria um abismo de furos ao invés de os resolver. Entretanto, isso não tira a qualidade da história. Ela é tão deliciosa de ler, mesmo com todas as crueldades e mortes, tão bem escrita, que esses deslizes são perdoados. Afinal, não seria um livro de King se o final fosse perfeito, não é mesmo?


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Stephen KING
TRADUÇÃO: Regiane WINARSKI
EDITORA: Suma
PUBLICAÇÃO: 2019
PÁGINAS: 544


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