Se eu falar sobre um filme de romance, com adolescentes doentes, você provavelmente vai pensar em A CULPA É DAS ESTRELAS. Pode ser que você também pense num dos vários livros do Nicholas Sparks e, por último, você pode dizer que esse formato já está bem ultrapassado. Mas não é crime usar clichês numa obra, e A CINCO PASSOS DE VOCÊ veio para nos dizer que “ultrapassados” são só aqueles que não sabem construir uma trama boa.
Stella é uma jovem que precisa praticamente morar num hospital, com cuidados recorrentes devido a uma doença rara que ataca seu o sistema respiratório. A menina precisa seguir com afinco uma série de procedimentos médicos e ingerir uma infinidade de remédios todos os dias, mas isso não a desamina. Ela ama se organizar, estudar e aprender tudo o que for possível. Adora partilhar seu dia a dia com seus seguidores no Youtube e encontra nisso tudo uma rotina que a faz, na medida do possível, feliz. As coisas começam a ficar mais doidas quando se depara com um menino chamado Will, novo paciente do hospital e, infelizmente, portador da mesma doença de Stella.
Fibrose Cística é o nome da doença, que causa no portador um grande excesso de muco produzido em várias partes do corpo. Esse muco causa várias infecções internas e precisa ser controlado. Stella sofre com isso todos os dias, mas consegue ter uma vida relativamente normal, dentro do hospital, pode se comunicar com a família e amigos, porém precisa manter uma determinada distância de pessoas que carregam a mesma doença. O isolamento consiste em uma distância mínima de seis passos. Também não pode ocorrer nenhum tipo de toque físico ou transmissão de fluidos, como por exemplo um beijo, é extremamente proibido. Pois a troca de bactérias que esse contato pode oferecer é mortal para quem carrega a mesma doença, podendo levar à morte numa rapidez extrema.
Esse isolamento que a doença e o hospital causa no portador da doença é o esqueleto central da trama. Stella é jovem e comunicativa, não gosta de se isolar, faz amizade com todos ao seu redor, seu melhor amigo é um paciente, porém as coisas desandam quando Will surge em sua vida. Ele também é paciente e, aparentemente, está muito pior que ela, porém o menino é revoltado, uma amizade nasce dentre essas diferenças e em seguida um sentimento mais profundo. É uma situação trágica e muito sofrida, os jovens se apaixonam e nem mesmo podem dar as mãos. O roteiro consegue construir essa devastadora realidade com toques muito sutis. Não temos aqui tramas mirabolantes, Stella é organizada com o tratamento e Will não, logo eles fazem um acordo, eles vão seguir todos os passos do tratamento juntos e, em troca, Stella aceita posar para que Will possa desenhar um retrato seu.
Um sentimento rapidamente nasce entre ambos, para o desespero da enfermeira que cuida deles. Eles não podem nem ficar juntos no mesmo ambiente sem máscaras, como algo pode acontecer entre eles? O roteiro trabalha isso, ao mesmo tempo em que nos conta como essa doença é devastadora e o preço que ela cobra não só do paciente, mas de todos em volta. É uma realidade horrível que pega o espectador de jeito. Parece uma trama batida, mas ela usa da cartilha “adolescentes apaixonados doentes” para nos ensinar o verdadeiro significado do amor. Amor aquele que não pode ser aprisionado, precisa ser livre e que nem sempre é possível se jogar de cabeça, o “felizes para sempre” infelizmente não funciona para todos.
Durante quase duas horas, acompanhamos esse romance fadado ao fracasso. Todo mundo sabe que essa situação é impossível de se manter, mas aquele fio de esperança permanece até a última cena do filme. No filme houve um grande cuidado ao trabalhar pacientes com essa doença e eles não estão aqui apenas para nós sentirmos pena deles. Os personagens representam guerreiros, não pobres coitados. Lutar pela vida é a maior batalha de suas vidas. Stella é a alma do filme, logo é desenvolvida com muito afeto. A jovem é determinada, inteligente, guerreira e dedicada. Ela tem manias e carrega uma personalidade e humor afiado. Sua vida familiar tem grande importância na trama e ela carrega uns desdobramentos bem tristes para o filme. Já Will, ele é aquele típico jovem rebelde, um pouco revoltado, mas com um grande coração, bom personagem, mas sem muito a dizer. Sobre sua vida fora do hospital, temos quase nada.
Além de ter problemas com o personagem do Will, o roteiro desenvolve com bastante dificuldade os personagens secundários. Porém o principal problema do filme é não seguir um dos principais fundamentos de um roteiro de qualidade, que consiste em mostrar, não falar. Aqui temos muitos diálogos expositivos, daqueles que um personagem para o que está fazendo para explicar algo, contar uma história ou simplesmente inserir uma narração no meio de uma cena. O filme é uma adaptação de um livro e numa adaptação para o cinema, é sempre fundamental mostrar o maior número de coisas, não conte algo para o espectador, mostre a ele esse detalhe, fato ou história. Mas isso acontece em momentos passageiros e felizmente não estraga a experiência.
Haley Lu Richardson vive Stella, a protagonista, e a atriz consegue muito bem segurar toda a carga que é jogada para ela. Consegue transmitir todas as emoções necessárias e realmente parece que ela está doente. Seu parceiro de tela e par romântico é vivido pelo ator Cole Sprouse, conhecido pela série Riverdale, e ambos apresentam uma boa química juntos. A atriz é muito superior a seu parceiro de tela, mas Cole pelo menos consegue entregar um personagem aceitável, seu desempenho é fraco, mas não chega a ser um grande problema. Os coadjuvantes além de não serem trabalhados com tempo e espaço pelo roteiro, não se destacam muito. A exceção fica para o ator Moises Arias, que interpreta o melhor amigo de Stella, a amizade deles é muito palpável e humorada.
A CINCO PASSOS DE VOCÊ tem o mesmo esqueleto base de A CULPA É DAS ESTRELAS, acredite se quiser, ambos partilham até uma mesma canção que está presente na trilha sonora de cada um deles, inclusive a música toca exatamente num momento emocionante. Proposital ou não, eu só posso dizer que isso ficou maravilhoso no filme e deu um belo tapa na cara de quem compara os filmes, com o intuito de desmerecer eles, sem nem ter visto ainda. A trama aqui caminha para lugares bem diferentes, é uma jornada dolorosa, fadada a um fracasso que não dá para evitar. É como pagar impostor, impossível não pagar imposto, não se pode parar de pagar imposto, até porque tudo o que existe tem imposto. Uma vida difícil e triste, mas o casal faz de tudo o possível para não se abalar. O romance deles cheio de limitações é uma das coisas mais bonitas do filme, que emociona sem ser apelativo. O filme ainda encontra um tempinho para ser engraçado e passar uma poderosa mensagem no final. Nem tudo termina em desgraça, nem tudo precisa ser trágico, se ama a pessoa, deve deixá-la livre.
Um filme agradável, bem feito e com uma bonita mensagem. Uma grata surpresa, especialmente para mim que não esperava nada dessa produção. Vale uma conferida e, para aqueles que amam filmes românticos, prepare um lenço, hein, caso não consiga segurar as lágrimas.
Texto feito sem conhecimento prévio do livro.
AVALIAÇĂO:
DIREÇĂO: Justin BALDONI
DISTRIBUIÇĂO: Paris Filmes
DURAÇĂO: 1 hora e 56 minutos
ELENCO: Haley Lu RICHARDSON, Cole SPROUSE e Moises ARIAS
Rafael!
Nem li o livro, nem assisti o filme, mas acho que o mais importante é que nesse aqui, sabemos um pouco mais da doença, mesmo sabendo qual será o final.
E até entendo eles quererem viver um pouco do romance, porque já sabem o que acontecerá com eles.
E gosto de filmes com esse apelo emocional.
cheirinhos
Rudy
Essa história, logo que foi lançada em livro, me remeteu diretamente ao livro do John Green, que eu li e achei um tanto quanto forçado. No entanto, a protagonista aqui me parece um pouco mais realista, e isso faz com que eu consiga, na medida do possível, me identificar com ela, principalmente com sua necessidade de se comunicar com outras pessoas. Acho que a inserção das personagens secundárias é muito importante, afinal, tudo que está dentro de um roteiro precisa ter uma função naquela trama, e me decepciona um pouco saber que o filme não soube lidar bem com isso. Não curto muito o ator que faz par romântico com a protagonista, mas acredito que a história valha a pena por si só, pela mensagem que conseguem passar ao público.
Acredito que era impossível não haver comparações desde que este livro/filme foi lançado. Seria o mesmo roteiro, jovens doentes tentando viver um amor quase impossível. Seria. Mas não foi, graças a Deus!
Acabei de ver no cinema A Cinco Passos e feliz da vida, também afirmo que pode até parecer igual,mas não é mesmo. Este filme traz a doença mais situada no enredo, aliás, muito situada, com este respeito, esta delicadeza que merecem os pacientes que carregam esta síndrome.
A história de amor é linda, tocante e no tempo certo. Tudo se encaixando sem pressa, com lições que quem vê, leva adiante!
Adorei, adorei e oh, ainda não li o livro.rs Mas quero muito ler!!!
Beijo
Vou assistir
Eu adquiri o livro há pouco tempo e estou louca para ler, não assisti o filme ainda pois não li a obra, mas assim que fizer irei assistir pois amo comparar haha
Eu quero muito ver esse filme. Não animei tanto com o livro, por saber que ele foi sendo criado junto ao filme, e eu não gosto muito de livros criados assim e tenho um pé atrás com livros de mais de um autor, mas nossa… Eu não sou de ver filmes sobre doenças, sou muito chorona e não aguento, mas esse eu quero fazer um esforço, porque realmente me interessou demais. Assim que vi o trailer, já fiquei “ai meu deus, eu quero”
Oi, Rafael!!
Não assisti o filme e também não tive contado com o livro, mas é uma história bem emocionante que tenho certeza vai me fazer chorar muito!!
Oi, Rafael
Não li e também não assisti ao filme.
Como não comparar né, faz parte. Mas como você mesmo disse temos que ver e levar um tapa na cara para perceber que tem diferença entre A Cinco Passos de Você e A Culpa é das Estrelas (só li o livro, não vi o filme).
Quero muito poder ler e ver o filme, beijos.