Para trinta e cinco garotas, a Seleção é a chance de uma vida. É a oportunidade de ser alçada a um mundo de vestidos deslumbrantes e jóias valiosas. De morar em um palácio, conquistar o coração do belo príncipe Maxon e um dia ser a rainha.

America Singer, no entanto, estar entre as selecionadas é um pesadelo. Significa deixar para trás o rapaz que ama. Abandonar sua família e seu lar para entrar em uma disputa ferrenha por uma coroa que ela não quer. E viver em um palácio sob a ameaça constante de ataques rebeldes.

Então America conhece pessoalmente o príncipe – e percebe que a vida com que sempre sonhou talvez não seja nada comparada ao futuro que nunca tinha ousado imaginar.

A história acontece em um país chamado Íllea (antigos Estados Unidos da América, que foram invadidos pela China em uma Quarta Guerra Mundial), onde a população é dividida em oito classes sociais, chamadas de castas. Quanto menor o número da casta, mais favorecidos são seus membros. Além das dificuldades normais políticas e econômicas, o país é assolado por ataques rebeldes de facções diferentes, que não concordam com a forma como o país é conduzido pela monarquia atual.

América, a personagem principal que narra a história, é uma jovem de 17 anos que pertence à casta cinco, formada por artistas e músicos. Ela é apaixonada por Aspen, um jovem de 19 anos da casta seis, e se encontram furtivamente em algumas noites para trocarem carícias e juras de amor, uma vez que a união entre pessoas de castas diferentes não é bem vista pelo governo e pela sociedade. E o sexo antes da maioridade também não.

Tudo desanda quando América recebe um convite para participar da Seleção, uma espécie de concurso, onde 35 jovens, dos 16 aos 20 anos, de todas as castas, serão avaliadas pelo príncipe de Íllea, Maxon, de 18 anos, para uma delas se tornar sua esposa e, consequentemente, a princesa do país. América não deseja participar, porque é apaixonada por Aspen e tem seus planos diferentes para o futuro, mas acaba sendo convencida pelo próprio Aspen(!?) e pela necessidade de receber o dinheiro mensal que cada participante ganha para ajudar sua família.

Infelizmente, a história de A SELEÇÃO é extremamente fútil e fora de propósito. Embora se passe em um futuro distópico, com grandes cidades cheias de prédios, aviões, televisão e tudo o mais a que estamos acostumados, todo o resto é de 200 ou mais anos atrás, inclusive a forma machista de considerar o papel feminino na sociedade. As regras de cada casta são explicadas de forma confusa e intercaladas com as ações dos personagens, dando a sensação de que a autora as criava de acordo com a necessidade. Como por exemplo, o fato de que todo o príncipe precisa se casar uma das 35 jovens para satisfazer a população, como se isso fosse suficiente para fazer esquecer a fome e a pobreza que a maioria passa. Sem falar que é explicado que quando nasce uma princesa, ela se casa com um príncipe. Mas se todo o príncipe se casa com uma jovem das castas, então com quais príncipes as princesas se casam?

Kiera Kass criou América usando os ingredientes clássicos para criar identificação rápida com as leitoras: uma jovem que se acha mais feia do que todas as que a rodeiam, desajeitada, sem muitas qualidades, insegura, ingênua, cheia de sonhos e que se julga apaixonada pelo cara que o leitor sabe, desde as primeiras páginas, que será trocado por outro. Entretanto, todos gostam dela, o resultado de suas decisões, por mais erradas e desastradas que sejam, acabam dando certo, sempre é considerada a mais bonita e simpática e, claro, conquista o príncipe por sua simplicidade e jeito diferente de agir. Não há como uma garota não se identificar com ela.

Aspen é o personagem por quem América se diz apaixonada, mas que é totalmente abstraído do resultado da história, porque é evidente demais o que lhe espera na relação. Não por menos, ele é incoerente nas suas atitudes. Em um capítulo ele é capaz de fazer de tudo por América, para, logo em seguida, empurrá-la para um concurso onde ela poderá se casar com outro. Ele jura se afastar e deixá-la em paz, mas consegue uma forma de virar soldado dentro do palácio e procura a garota todas as noites.

Já Maxon, a única diferença que carrega, em contraste com outras obras do gênero, é não ser descrito como um deus grego e, sim, como alguém totalmente normal, sem tantas qualidades físicas, sem ser muito bonito e, de certa forma, imaturo devido à vida confinada no palácio. E o fato dele se interessar imediatamente por América, uma vez que ela é a única das 35 garotas que não se interessa por ele e que o afronta em quase todas as decisões, é coerente, mas previsível.

Como pano de fundo para tudo isso, existe a descrição de uma disputa política e de uma guerra contra as facções rebeldes. Entretanto, tudo isso é relegado a quinto plano, como se não tivesse muita importância ou fosse apenas um inconveniente no meio do concurso para escolher a princesa. E esse desinteresse é repetido sempre pela própria autora através de América, que prefere descrever com detalhes a vida dentro do palácio e sua insegurança quanto ao que sente por Maxon e Aspen, enquanto gasta poucos parágrafos para se preocupar com o que acontece no país ou procurar descobrir o motivo dos ataques rebeldes.

A escrita de Kiera Kass é bem simples e, por isso mesmo, contagiante. Ela consegue envolver o leitor a cada capítulo, mesmo com tanta futilidade e absurdos. Isso, claro, não é suficiente para salvar a história.


AVALIAÇÃO:


AUTORA: Kiera Cass
TRADUÇÃO: Cristian Clemente
EDITORA: Seguinte
PUBLICAÇÃO: 2012
PÁGINAS: 363