Jason Reynolds começou a escrever aos 9 anos de idade, inspirado pelo Rap, e também por isso, durante 20 anos, se dedicou principalmente à poesia. Em 2014, ele lançou seu primeiro romance, e depois dele, não largou mais a ficção. Ele também escreveu um livro sobre Miles Morales, o Homem-Aranha do filme HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO, não em formato de quadrinhos, mas em prosa mesmo.
DAQUI PRA BAIXO é seu mais recente trabalho publicado no Brasil e é baseado em uma experiência pessoal. Inicialmente, Reynolds escreveu a história em prosa, mas depois mudou de ideia e transformou toda a narrativa em versos não rimados, conseguindo dar à leitura uma velocidade que reflete o conteúdo, uma vez que toda a ação se passa inteiramente dentro de um elevador e pelo período de apenas 67 segundos.
Will é um garoto de 15 anos que mora com a família em um prédio de um bairro violento, onde todos precisam seguir regras de gangues e vivem em constante medo de conflitos. Nesse lugar, a morte é algo que chega mais cedo, e é isso que acontece com Shawn, o irmão mais velho de Will: ele é baleado quando voltava para casa. Revoltado, vendo a mãe chorar pelos cantos, querendo justiça, Will decide se vingar de quem assassinou Shawn. Armado, ele entra no elevador do prédio no oitavo andar, onde mora, e enquanto desce, sete pessoas, uma por andar, irão tentar fazê-lo mudar de ideia.
Senti vontade de chorar,
e parecia que
alguém tinha
entrado na minha cara
punhos minúsculos socando
o fundo dos olhos
pés chutando
minha garganta no ponto
em que você começa
a engolir.
Fica quieto, cochichei pra ele
Fica firme, cochichei pra mim.
Porque chorar
é quebrar
As
Regras.
Quando eu li a sinopse da obra de Reynolds, fiquei bastante interessado, uma vez que a história tinha uma mensagem racial e social bem forte, além de ser escrita de uma forma pouco convencional e por um espaço de tempo que desperta a curiosidade para descobrir como ela seria contada. Entretanto, assim que entra a primeira pessoa no elevador, no sétimo andar, eu fiquei completamente surpreso. Não, não são personagens conhecidos, são anônimos para o leitor, mas todos os sete possuem uma ligação com Will. Então qual é a surpresa? Claro que não posso contar, mas é algo que eleva a leitura a outro patamar e me obrigou a prosseguir sem pausas, até chegar à última página.
É fácil compreender a revolta de Will. O desejo de vingança, de fazer justiça por seu irmão, não é algo jogado como parte de sua personalidade, mas como consequência de sua educação e, principalmente, pelas influências de onde ele mora. No bairro, a violência impera, a lei do mais forte é que dita as regras, a polícia não interfere, e mesmo quando o faz, é de forma parcial ou apática. Os moradores não recebem apoio dos governantes, não se sentem seguros, não existe esperança de ajuda. Will tem conhecimento de tudo isso, ele tem consciência de que o assassino de Shawn não será preso. E como dita a lei do bairro, se vingue sempre que necessário.
As regras
Chorar: Não. Aconteça o que acontecer. Não.
Dedurar alguém: Não. Aconteça o que acontecer. Não.
Se vingar: Se alguém que você ama aparece morto, encontre a pessoa que matou e mate também.
Os sete personagens que entram no elevador vão tentar mostrar a Will que a vingança não é solução, que ele não pode ser acusador, juiz e carrasco, que esse tipo de atitude só leva à destruição. Não apenas pelo que ele quer fazer, mas também por não ter provas de que quem matou o irmão é quem ele pensa. No bairro não são necessárias provas para um julgamento, cada um faz o que acha que está certo. E é assim com Will.
Mas os sete não vão apenas conversar, eles vão demonstrar, através de suas próprias histórias, que decisões precipitadas não devem ser tomadas. Todos eles erraram, ou sofreram pelo erro de alguém; todos eles são vítimas de alguma injustiça, ou cometeram alguma injustiça; e esses exemplos demonstram de forma clara como vive toda uma sociedade à margem da lei, não porque desejam, mas porque quem governa não se importa com eles. E a preocupação deles é impedir que Will se transforme em estatística, seja mais um, e isso porque os sete amam o pequeno Will.
Só mais uma coisa sobre As Regras
As Regras nunca devem ser quebradas.
As Regras são feitas pra gente quebrada
seguir.
DAQUI PRA BAIXO é uma leitura surpreendente, e isso não se deve à forma como a narrativa é escrita, através de versos, pelo período de um minuto, mas, sim, pelo conteúdo da história, pelas conversas de Will com os sete personagens que entram no elevador e pelo fato de quem são esses personagens. Ah, e se você não gosta de poesias, apesar do livro ser em versos, eles não são rimados. Na verdade, eu considero que a narrativa é em prosa, só que o texto é curto, quebrado em várias linhas, com diálogos, sem diferença para qualquer outro livro. Então leia sem preconceito.
AVALIAÇÃO:
AUTOR: Jason REYNOLDS
TRADUÇÃO: Ana GUADALUPE
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇÃO: 2019
PÁGINAS: 320
COMPRAR: Amazon
67 segundos que podem mudar tudo e mudam não é?
Interessante ser contada em versos que juntos contam a triste porém real história não só do Will mas de muitos jovens.
Essas três regras que ele TEM que seguir achei duras demais. Principalmente a de não chorar. Mas regras são regras e em alguns casos mesmo que não concordemos é necessário seguir.
Fiquei curiosa pra descobrir como essas 7 pessoas vão interferir no destino de Will.
Curiosa? Leia! 😉
Quando li a primeira resenha deste livro já me encantei com o enredo. Não apenas por retratar a violência, que antes era tão casual “lá pra fora’, mas que infelizmente hoje em dia, povoa nossos dias aqui mesmo, muitas vezes, dentro de nossas próprias casas.
Will não somente carrega a dor da perda, mas também a sede de vingança, pois foi criado neste meio. Tem como culpá-lo? Não!
Ainda nas séries, filmes e afins, a gente vê que isso hoje em dia, a vingança, ainda existe e mata tantos jovens doloridos como Will.
A forma como a história é passada, poetizada em cada página, dentro de um elevador é também outro ponto único e por isso, quero demais poder conferir a obra o quanto antes!
Beijo
São versos, sem rima…sem poesia 😉
Carl!
Tão bom ver que mesmo com uma forma de escrita diferenciada, as conversas de Will são profundas.
Acredito que a forma mesmo que em prosa, porém no formato de poesia, pode ser para visualizarmos como se fosse um elevador, pelo menos foi assim que senti com sua foto.
Deve ser bem chocante e diferente mesmo, tudo em 67 segundos, uauuuuuu!
A realidade demonstrada no livro, é a que se vive em alguns lugares do EUA, triste.
cheirinhos
Rudy
Não só nos EUA…
Muito diferente essa abordagem. Claro que me chamou muito a atenção que o livro tenha sido desenvolvido para contar algo que ocorreu somente em 67 segundos. Quanta coisa pode se passar.
Também é muito triste isso que acontece. Pessoas morrendo, sendo assassinadas por uma bala perdida, por um erro, por engano. Quantas famílias perdem pessoas queridas dessa maneira e eu imagino que sempre pensem em vingança.
Muito curiosa para conhecer essa leitura.
Então não deixe de ler 😉
Vi quando tu falou sobre essa edição nos stories do instagram. Jamais esquecerei minha incredulidade quando te ouvi dizer que a história se passava dentro de um elevador kkkkkkkk foi algo como “Puta merda, genial!! Ou vai ser muito bom, ou vai ser muito ruim”. Pela repercussão, acredito que seja maravilhoso.
E é maravilhoso, ainda mais quando, a cada andar, entra uma nova pessoa que tem algo de surpreendente. Elevou o livro a um outro nível.
Oi Carl, tudo bem?
Esse livro parece ser muito foda. Assim como você fiquei muito curiosa com a premissa, e com a rapidez que tudo acontece. Fiquei bem intrigada para saber o que acontece naqueles 67 segundos.
Olá! Eita que a resenha me deixou bastante curiosa, quem serão essas sete pessoas hein! Caramba não dá nem para acreditar que a história se passa em tão pouco tempo, mas já deu para perceber que temos aqui uma história maravilhosa e o mais importante emocionante (e bem perto da realidade) que infelizmente reflete o dia a dia de muitas pessoas, essa violência toda acabou me remetendo ao que o Rio vem enfrentando nas últimas décadas, além de toda a violência que ainda (infelizmente) faz parte da rotina de grande parte da população.
Olá!
Essa e a segunda resenha que leio desse livro, a historia é muito interessante. Me deixou bastante interessada por ela, ainda mais ver que um livro nós conta uma historia através de versos e isso me parece incrível. A forma de como é abordado sobre a vingança é interessante porque isso só faz gera mais vingança.
Espero muito ter a oportunidade de ler!
Meu blog:
Tempos Literários
Boa sorte!
Eu fiquei tão surpresa por saber da forma como o livro foi feito. Toda a história se passando em um elevador e em apenas segundos. Ainda mais pelo personagem principal ter de fazer uma escolha, e estou bem curiosa para saber o que acontece.
É excelente, leia que vai ver.
Oi!
Acredito que nunca li um livro escrito dessa maneira, mas já me interessei.
O que são essas frases? Incríveis! Me despertaram vários sentimentos. Parece música.
Olá, Carl
Que maneira diferente e maravilhosa de escrever um livro, fiquei chocada quando li a resenha.
Se passa num elevador em apenas 67 segundos. Onde Will mora não se pode nem culpar por querer justiça /vingança que é como foi criado num bairro violento. Nem todos que moram em lugares violentos, são pessoas más, existem muitas pessoas de bem . Adorei saber que esses 7 personagens tentam convenecer Will não matar.
Estou muito curiosa para saber quem são esses personagens que relação eles tem.
Quero muito esse livro, beijos.