Patrícia Galvão, a PAGU, nasceu em 1910. Ela foi uma das personagens mais famosas do século xx. Ativista política, intelectual, escritora, poetisa, diretora, tradutora, desenhista, cartunista, jornalista, em 1933, publicou seu primeiro romance proletário brasileiro, PARQUE INDÚSTRIA. Além de sua vasta produção jornalística, é também autora de A FAMOSA REVISTA e dos contos policiais SAFRA MACABRA.

Pagu teve grande destaque no movimento modernista, iniciado em 1922, com a Semana de Arte Moderna, da qual Pagu não participou, uma vez que tinha apenas 12 anos de idade. Esse evento, com apoio do governo da cidade de São Paulo, trouxe diversas personalidades artísticas famosas, e em cada dia, foi trabalhado um aspecto cultural, como pintura, escultura, poesia, literatura e música.

De certa forma, as relações pessoais de Pagu, rodearam pessoas ligadas, direta ou indiretamente, à Semana de Arte Moderna. Seu apelido, Pagu, foi dado pelo poeta Raul Bopp, que participou do evento, e que era amigo de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. Tarsila foi uma das principais pintoras do modernismo da América Latina e foi casada com Oswald de 1926 até 1929, quando este se separa de Tarsila e se casa com Pagu.

Pagu sempre foi uma mulher à frente de seu tempo. Seu comportamento era considerado extravagante e era defensora do feminismo. Fumava e bebia em público, usava roupas colantes e transparentes, cabelos curtos, manteve diversos relacionamentos amorosos e costumava falar palavrões. Seu comportamento rebelde e à frente do seu tempo não era compatível com sua origem familiar, conservadora e tradicional.

Em 1928, Pagu, com 18 anos, começa seu relacionamento, inicialmente secreto, com Oswald de Andrade, de 38 anos. Oswald foi um dos patrocinadores da Semana de Arte Moderna e era um dos maiores nomes do modernismo brasileiro. Seu lado pessoal era boêmio, mulherengo, dado a relacionamentos curtos e poligâmicos. Ele foi a maior paixão de Pagu. O casamento dos dois, aconteceu em 1930, com Pagu grávida de 6 meses, e foi um escândalo social.

Pagu era militante do Partido Comunista Brasileiro e junto com Oswald, fundaram o jornal O Homem do Povo, que durou até 1945. O relacionamento de Pagu com Oswald sempre foi conturbado, principalmente devido às constantes traições dele, que ele não se preocupava em esconder. Inclusive, por diversas vezes, até avisava com quem ia se encontrar. Em 1934, Pagu se separa, sai de casa com o filho e passa a morar sozinha.

Em 1931, aconteceu a primeira prisão política de Pagu, quando esta participava de uma greve de estivadores em Santos, estado de São Paulo, quando o Brasil estava sob a presidência de Getúlio Vargas. Após essa, vieram outras 22 prisões ao longo de sua vida. Já em 1940, Pagu rompe com o Partido Comunista e passa a defender o socialismo. É nesse mesmo ano que se casa com Geraldo Ferraz, com quem tem um filho e permanece até o fim de sua vida.

Em 1960, aos 50 anos de idade, Pagu é acometida por um câncer de pulmão. Tenta um cirurgia em Paris, mas sem qualquer resultado positivo. Sem poder trabalhar e manter sua vida ativa, desenvolve uma profunda depressão e tenta o suicídio, mas é impedida por Geraldo.

Uma bala ficou para trás, entre gazes e lembranças estraçalhadas… Agora, saio de um túnel. Tenho várias cicatrizes, mas ESTOU VIVA… Apesar dos dez anos que abalaram meus nervos e minhas inquietações, transformando-me nesta rocha vincada de golpes e de amarguras, destroçada e machucada, mas irredutível.

PAGU – AUTOBIOGRAFIA PRECOCE é um texto escrito pela própria Pagu, em 1940, ou melhor, uma carta extensa que endereça a seu marido, Geraldo. A narrativa é em prosa, com frases quase poéticas, melancólicas, impregnadas de profundos sentimentos, hipnotizante, impossível não se envolver. É fácil perceber o tom de decepção e tristeza em diversas passagens, muitas delas quando Pagu se refere à vida que levou com Oswald, de quem não esconde seu amor, nunca correspondido. Já Geraldo, ela trata como sua salvação, o retorno do que não conseguiu com Oswald.

Pagu comenta, brevemente, várias passagens de sua vida, sua iniciação sexual, seus enlaces românticos, o envolvimento político, a solidão e brutalidade de suas prisões, a paixão pela escrita, pela arte, pela cultura em geral, seus dois filhos, suas viagens, sua repulsa pelo masculino e sua luta pelos direitos femininos. São relatos intimistas, cheios de significado, que exigem uma leitura apurada, para tentar compreender a totalidade do que Pagu queria transmitir a Geraldo.

Pagu, aos 15 anos, já colaborava com um jornal; aos 18 anos, se formou como professora; viajou como jornalista para os EUA, Argentina, França, União Soviética, China, Japão…; Fez cursos na Universidade Sorbonne, em Paris, a mesma de Simone de Beauvoir; foi amiga do imperador Pu-Yi e andou de bicicleta pelos corredores do palácio; Entrevistou Freud em um navio; casou-se com Oswald em um cemitério; foi a primeira mulher a ser presa no Brasil por motivos políticos; teve um filme produzido, em 1988, e uma peça de teatro, em 2019; Seu nome é letra de músicas de Rita Lee e Zélia Duncan.

Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem
Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque…

Pagu faleceu em 1962, em Santos, ao lado de seu marido, Geraldo, e seus dois filhos.


AUTORA: Pagu
EDITORA: Companhia das Letras
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 144


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