O novo filme do Tom Hanks, RELATOS DO MUNDO, teve seu lançamento alterado devido ao momento difícil que o cinema tem passado. Chegou aos cinemas em alguns lugares e na maioria dos outros países, chegou na Netflix, incluindo o Brasil, para a nossa alegria. É uma adaptação de um famoso livro, a trama lembra um pouco o nosso clássico nacional CENTRAL DO BRASIL, interessante, né? Chega mais!
Tom Hanks vive Jefferson, um veterano de guerra que ganha a vida indo de cidade em cidade para ler as notícias para a população, que, em sua maioria, não é letrada. O pano de fundo é um Estados Unidos se recuperando da guerra civil e as populações dos estados do interior tentam se reerguer depois de tanta desgraça. A rotina desse andarilho muda quando ele se depara com uma menina de descendência alemã perdida no meio da floresta, logo ele a resgata e parte em busca de um lugar seguro para ela. A convivência deles é difícil, já que tanto a menina, quanto o homem, não entendem suas respectivas línguas. Essa jornada que parece simples, se torna uma perigosa caminhada cheia de pessoas perigosas e imprevistos para todos os lados.
Começando pelo que o filme tem de bom, ele apresenta uma excelente reconstrução de época, onde tudo é bruto, difícil e desafiador. Os figurinos são bem realistas e a trilha sonora é bem impressionante. Tom Hanks está ótimo como sempre, mas pouco inspirado, seu personagem lembra muito outros clássicos de sua carreira. Você sabe que ele vai fazer o certo porque ele é o Tom Hanks, você sabe que ele vai ser justo e corajoso, porque ele é o Tom Hanks. Faltou instigar o espectador, fazer ele pensar, o que esse personagem vai fazer agora? Essa falta de surpresa acaba fazendo toda a trama do personagem principal ser bem previsível.
A jovem atriz alemã Helena Zengel, vive a menina perdida e seu desempenho é muito interessante e complexo. Ela mal abre a boca em todo o filme e quase não muda de expressão. Ela está confusa, é agitada e não consegue ficar quieta, mas com o tempo uma compreensão se abre entre sua personagem e o personagem do Tom Hanks e isso o filme faz muito naturalmente. A química de amizade é muito palpável e o desejo de proteção mais ainda. É o melhor desempenho do filme e por incrível que pareça, já está sendo indicado em diversas premiações, será que ela tem chances de levar algum prêmio?
Já o roteiro do filme reserva alguns problemas, o principal deles é a falta de aprofundamento nas ações dos personagens. Tom Hanks lê para quem não sabe de cidade em cidade, tudo bem, mas porque ele faz isso? O filme chega a abrir essas questões, mas fecha elas com tanta rapidez que a sensação que fica é que o filme é só sobre um personagem querendo levar o outro para um novo lugar. Mas quem são esses personagens que estamos acompanhando? Sabemos muito pouco a respeito dos seus traumas e dores que são abordados rapidamente. Porque eles fazem o que fazem? E porque o mundo está do jeito que está? Um filme geralmente traz questões tão diversas e fala de tantas coisas, esse aqui infelizmente deixou a desejar nesse quesito.
Não dá pra falar que o filme é ruim ou muito menos chato. Ele tem quase duas horas de duração e impressiona visualmente a cada momento, o ato final é muito satisfatório. Mas o sentimento que fica é que vimos um bom passatempo, mas um bem imemorável que não fala ao que veio. Temas como abandono, traumas, medo, analfabetismo, pobreza e abusos, são pautas que o filme flerta, mas as esquecem com uma tremenda facilidade. Claro que um filme não tem obrigação de ser profundo ou significativo, isso não é atestado de qualidade, mas isso se torna um problema quando a produção mostra potencial para ir além, começa a seguir o caminho, mas decide não seguir em frente a troco de nada.
No final o que temos é uma excelente opção de entretenimento disponível na Netflix, com excelentes atores e visualmente impressionante. Mas tanto a direção, quando o roteiro, decepcionam por entregar um filme tão básico como esse, é ainda mais frustrante quando percebemos que o mesmo diretor do filme, já fez outras obras de extrema qualidade como CAPITÃO PHILIPS e VOO UNITED 93.
DIREÇÃO: Paul GREEENGRASS
DISTRIBUIÇÃO: Netflix
DURAÇÃO: 1 hora e 58 minutos
ELENCO: Tom HANKS e Helena ZENGEL
Ah.. rs eu gostei tanto, tanto!
Sei lá, a fotografia do filme é perfeita e mesmo nessas praticamente duas horas de filme, não me recordo de ter me questionado a vida que o personagem de Tom vive e os motivos que o levaram a ficar de cidade em cidade.
A cena da menina amarrada quase no final do filme, doeu fundo e eu me emocionei muito.
Acredito que é um filme que cumpre seu papel.
Beijo