A série de livros escritos por Seanan McGuire, CRIANÇAS DESAJUSTADAS, é uma das coisas mais bizarras que já li na minha vida. E olha que eu já li muita coisa estranha. Mas não escrevo isso de forma pejorativa, pelo contrário. Os três volumes publicados no Brasil, DE VOLTA PARA CASA (resenha aqui), ENTRE GRAVETOS E OSSOS (resenha aqui) e agora este, SOB O CÉU AÇUCARADO, são muito bons, abusam da criatividade e se destacam pela inclusão, quebra de paradigmas e mensagens contra os preconceitos.
Cada volume conta uma história independente, fechada, com personagens diferentes, que podem compartilhar acontecimentos entre eles, mas sem exigir um prévio conhecimento um do outro. Em DE VOLTA PARA CASA, conhecemos a maioria deles, que vivem no Lar de Eleanor West para Crianças Desajustadas. Uma escola que abriga jovens que encontraram uma porta que os levou a mundos, universos, diferentes, alguns assustadores, outros que desafiam qualquer lei da física ou da lógica. E depois de viverem anos nesses lugares, de encontrarem a mais pura felicidade, são expulsos por algum motivo, ou por nenhum motivo, e precisam se readaptar ao mundo no qual nasceram. A função de Eleanor, a dona da escola, é tratar desses jovens até que eles estejam prontos para retornarem ao convívio de suas famílias.
A história de DE VOLTA PARA CASA tem como personagem principal, Nancy, uma garota que viveu anos nos Salões dos Mortos e foi expulsa. Pouco depois de Nancy chegar ao Lar de Eleanor West, Sumi, uma das alunas, é assassinada. O enredo gira em torno da investigação de quem é o assassino. Agora em SOB O CÉU AÇUCARADO, Rini, a filha de Sumi retorna ao mundo real para buscar a mãe. Só que Sumi foi morta antes de ficar grávida de Rini, e por isso, Rini começa a desaparecer, porque nunca nasceu. Sim, o tempo entre esses universos não é linear e não segue qualquer parâmetro.
Quem Rini encontra primeiro é Cora, uma garota que entrou pela porta do mundo das sereias e que, ao viver lá, virou uma sereia. Agora no nosso mundo, ela é apenas uma menina um pouco gordinha e que precisa aceitar que talvez nunca consiga retornar ao lugar onde o peso e a aparência não tinham importância.
Sumi e Rini viveram no mundo da Confeitaria, um lugar composto apenas de doces, sucos, refrigerantes, chocolates, tudo o que é doce. Nesse lugar, a vilã era a Rainha dos Bolos, que foi derrotada por Sumi. Mas como Sumi morreu antes de retornar à Confeitaria, a Rainha dos Bolos voltou à vida.
Junto com Nadya, Kade e Christopher, personagens já conhecidos dos outros livros, Rini e Cora bolam um plano de irem até o mundo de Nancy, onde poderão pedir ajuda ao Senhor dos Mortos para trazer Sumi de volta e, assim, salvarem Rini e derrotarem novamente a Rainha dos Bolos.
Como escrevi nas outras resenhas, existe uma particularidade intrigante nos personagens da série: eles precisam realmente retornar a esses mundos fantásticos. Eu fiz a analogia de pessoas viciadas, que fora dos mundos, passam por uma fase de abstinência, e por isso sofrem, ficam em depressão, fazem qualquer coisa para encontrar uma nova porta que os leve de volta. Esse é o motivo do assassinado do primeiro livro, e esse comportamento é repetido em todas as histórias. Não existe um motivo lógico, ou qualquer explicação convincente, que explique o porquê dessa dependência. Mas fica claro que ela existe. Só não sei dizer se isso é feito de forma proposital pela autora, ou se ela mesma não percebe.
Óbvio que isso não atrapalha e nem mesmo considero um defeito, apenas fico curioso pela singularidade do comportamento. A série é excelente em ser aberta quanto à diversidade de gênero, de problemas e de preconceitos que cada um dos personagens enfrenta. Todos eles enfrentam ou enfrentaram um tipo de perseguição por conta do que são, de como são ou do que desejam. E talvez esse seja o motivo de precisarem atravessar novamente as portas, porque nos mundos fantásticos, eles são aceitos pelo que são, sem cobranças, sem ataques.
SOB O CÉU AÇUCARADO envolve mais personagens, que atravessam por várias portas e vivem rápidas aventuras em diferentes mundos. Todos os cinco tem um pouco mais de aprofundamento, conhecemos um pouco mais do passado de cada um, o que torna esse universo mais rico, mesmo com a enorme variedade de absurdos criativos. A série é excelente, todos os três livros, e indico demais para quem aprecia uma boa fantasia, com personagens fáceis de conquistar empatia.
AUTORA: Seanan MCGUIRE
TRADUÇÃO: Cláudia Mello BELHASSOF
EDITORA: Morro Branco
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 192
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Mesmo tendo as resenhas na memória, eu fui conferir ambas, pois fiquei com medo de ter perdido alguma coisa.
Não, ainda não li nenhum dos dois volumes anteriores, aliás sendo a sinceridade em pessoa, juro que tinha até esquecido dos livros até ler os nomes deles aqui.
Mas não era pra ser assim, afinal, são enredos que marcam, pelo fato de trazer personagens tão diferentes e tão intensos!
Agora lá vai eu querer os três livros rs
Beijo
É uma série muito bizarra, mas muito gostosa de ler.