Após um acidente com o transporte de uma experimento do exército americano, Las Vegas vira uma zona infestada de zumbis. O governo isola a cidade e coloca de quarentena todas as pessoas que conseguiram fugir antes do cerco ser fechado. Meses após o evento, o presidente decide jogar uma bomba nuclear e acabar de vez com a ameaça. Antes que isso aconteça, um empresário contrata um ex-soldado que participou da primeira batalha contra os zumbis na cidade, para retornar e resgatar uma fortuna em dólares que ficaram no cofre de um dos cassinos.

ARMY OF THE DEAD, novo filme do amado/odiado Zack Snyder, prometia o retorno às origens do diretor, quando ele dirigiu MADRUGADA DOS MORTOS, um dos melhores filmes de zumbis de todos os tempos. E os primeiros 20 minutos do filme, pareciam confirmar isso, principalmente a sequência de créditos, onde a maioria dos personagens são apresentados durante a primeira batalha em Las Vegas. Entretanto, conforme a história avança, cai nos problemas presentes nas últimas produções de Snyder, cenas muito longas, excesso de câmera lenta, personagens rasos, ideias e sequências sem sentido, o que compromete totalmente a qualidade e o interesse do filme.

As partes boas de ARMY OF THE DEAD são a presença e interpretação de Dave Bautista, que se entrega ao papel e mantém o carisma já conhecido; a parte inicial, com sequências criativas e elaboradas; e mais uma ou outra sequência durante a projeção. Como por exemplo, a parte em que um dos vilões é dilacerado por um tigre zumbi, muito bem feita e com requintes de crueldade. Ou as sequências de tiros com metralhadoras, certeiros nos cérebros dos mortos-vivos, quase todas bem coreografadas e sincronizadas. De resto, é mais do mesmo, sem qualquer novidade, inclusive o final.

Existe uma tentativa de Snyder discutir a política social mundial acerca dos refugiados. Pessoas presas em campos de concentração, sem poderem retomar a vida por não terem para onde ir e por estarem em observação para confirmação de que não foram contaminadas. Esses campos de quarentena não têm qualquer sentido. Quando uma pessoa é infectada pelos zumbis, ela leva poucos minutos para se transformar. As pessoas estão nos campos há meses. E todas são tratadas como suspeitas de estarem contaminadas, mesmo sem qualquer sintoma. Não há um real motivo para estarem confinadas, a não ser para apresentar um vilão secundário e para criar um motivo para a filha de Bautista no filme, a atriz Ella Purnell, ter alguma utilidade dentro da trama e causar aquela situação final que exige mais esforço do herói e compromete a segurança de todos.

A relação de pai e filha começa com um bom desenvolvimento, um trauma, que sugere ser o fator que separou os dois, mas depois se confirma como ausente e o verdadeiro motivo, sem qualquer lógica. Scott, o personagem de Bautista, precisou matar a esposa, após esta ser contaminada e virar um zumbi. Kate, a filha, assistiu a tudo, e depois pai e filha se separam, cada um para tratar a dor de sua forma. Mas no meio do filme, Kate confessa que o motivo para não falar mais com o pai não foi a morte da mãe, mas sim outro totalmente descabido.

Kate é aquela personagem que só existe para matar os personagens coadjuvantes. Ela quer acompanhar o pai na incursão a Las Vegas para resgatar uma amiga, que teimou em entrar na zona de zumbis para pegar dinheiro das máquinas de jogos dos cassinos, sabendo das chances de ser morta. Mesmo o pai prometendo procurar a amiga, Kate insiste em ir, sem ter qualquer treinamento militar e comprometendo a missão. Claro que parte do que dá errado, dá por causa dela. E essa previsibilidade é irritante.

Os zumbis são aquele tipo que corre, são ágeis. Existe um subtipos, como os alfas, que são dotados de inteligência e força aprimorada. No final, apenas dois fazem alguma diferença, todos os outros morrem com a mesma facilidade. O chefão alfa é clichê, tem ações previsíveis, e não apresenta nenhuma novidade. Snyder ainda inclui uma zumbi que fica grávida do chefão e que gera um feto zumbi, é muito brega. E isso apenas como combustível para a futura vingança do chefão, uma vez que todos sabem o que irá acontecer com a mãe e a criança.

Existem vários trechos sem sentido, como quando Scott e seus soldados decidem abandonar as ruas desertas de Las Vegas e avançar por dentro dos edifícios, locais abarrotados de zumbis, ao contrário das ruas de onde acabaram de sair. Ou mesmo a capacidade de um deles conseguir abrir um cofre moderno apenas ouvindo os mecanismos de trava. Enfim, todo o miolo central do filme é longo demais, com sequências previsíveis demais, sem apresentar uma única novidade, e isso deixa tudo maçante.

ARMY OF THE DEAD é, tecnicamente, bem produzido e dirigido, mas o roteiro estraga o resultado. Ainda assim é possível agradar aqueles menos exigentes ou que não esperavam nada demais do filme. É uma boa diversão para um dia sem muitas escolhas. Eu sinto que poderia ter sido bem melhor, se Snyder tivesse dedicado um pouco mais de esforço no texto e cortado uns 30 minutos de projeção. É uma pena.

Uma curiosidade: o ator Chris D’Elia, que ficou com o papel de piloto do helicoptero de fuga, foi acusado de pedofilia após as filmagens estarem concluídas. Snyder chamou a atriz Tig Notaro, conhecida por vários papéis de comédia, e que está na nova série de Star Trek da Netflix, para substituir D’Elia. Todas as cenas do ator foram cortadas e substituídas digitalmente por novas cenas com Notaro. A coisa ficou perfeita. Pena que não tiveram a mesma competência na época de cortar o bigode do Superman no filme da LIGA DA JUSTIÇA.


DIREÇÃO: Zack SNYDER
DISTRIBUIÇÃO: Netflix
DURAÇÃO: 2 horas e 28 minutos
ELENCO: Dave BAUTISTA, Ella PURNELL




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