Depois de muito me aventurar em decepções literárias do autor, finalmente gostei de um livro do aclamado Stephen King. Aqui temos uma trama simples com início, meio e fim (ou quase isso); acontecimentos plausíveis, justificativas coerentes e nenhuma enrolação desnecessária acerca de personagens secundários. É disso que o povo gosta!

Em DEPOIS, vamos acompanhar o crescimento de James Conklin, narrado por ele mesmo em sua fase adulta. Jamie vê gente morta. Com que frequência? Ele também não sabe, os mortos são muito parecidos com os vivos. Exceto pelo fato de que eles ficam para sempre com as roupas em que morreram e são incapazes de mentir. Sua mãe implora para que ele mantenha segredo sobre o seu dom e finge não saber de nada, até que Liz Dutton, companheira de sua mãe e detetive do Departamento de Polícia de Nova York, aparece na saída de sua escola e anuncia que precisa de uma pequena ajuda. É assim que Jamie se envolve numa corrida para desvendar o segredo de um falecido terrorista e, de quebra, começa a jornada mais perigosa e assustadora de sua vida.

Esse livro me fisgou desde as primeiras páginas. Diferente de vários outros títulos do autor, ele já mostra o pilar que irá sustentar toda a história logo no início: Jamie ainda na infância vendo gente morta e tendo que agir naturalmente na frente dos adultos. Parece um fardo e tanto para um garotinho que não entende ser amaldiçoado… E de fato é. Por isso é que considerei essa uma leitura tensa do início ao fim.

Ao longo das páginas, vamos conhecendo a rotina de Jamie e alguns acontecimentos traumáticos que moldaram o adulto em que se tornou. Ao fim, concluímos que ele tinha tudo para ser uma pessoa normal, exceto pelo pequeno fato de que via mortos de vez em quando e tinha que manter esse segredo para si, já que sua mãe não suportava a ideia e os demais não entenderiam.

Uma característica que aprimorou muito a experiência de leitura foi o autor ter descrito como a coisa acontecia. Jamie via mortos, e eles se pareciam muito com seres vivos, okay, entendemos isso. Mas os mortos ficam para sempre vagando pela terra? Jamie os vê o tempo todo, como se fosse uma sociedade pós-morte que perambula eternamente com as roupas que vestiam quando morreram? E as vítimas de acidente? Como elas se parecem no “depois”?

O alívio cômico, sempre presente nas histórias de Stephen King, também é encontrado aqui. Soltei algumas gargalhadas com os pensamentos infames de Jamie e concluí que também agiria assim para não enlouquecer. Afinal entre ser uma criança estranha que finge ser normal e mentir sobre esse fato dentro da minha própria casa, qual a melhor alternativa para manter a sanidade se não tirar sarro e fazer piada das piores situações?

Um fato irrefutável é que os mortos não possuem segredos. Uma vez questionados sobre algo, eles devem responder com honestidade. Esse ponto me deixava eufórica sempre que Jamie se deparava com algum espectro, não conseguia sossegar enquanto não soubesse tudo o que a pessoa tinha para falar. E foi dessa forma que devorei as páginas até a cena final, quando a grande ação ocorre e o leitor fica tão tenso que precisa dormir com a luz acesa.

Finalmente consegui entender toda a genialidade tão falada na escrita de Stephen King e fico muito decepcionada por tão encontrar esse aspecto em outras obras do autor. Ainda me faltam muitos títulos para ler e, depois desse aqui, espero que a experiência seja melhor.

DEPOIS é um livro que me fisgou do início ao fim e foi favoritado com sucesso. Embora o tema seja pesado para alguns, o autor retrata com leveza e permite que seja lido por várias faixas etárias. Recomendo tanto para os fãs do terror/horror como para os que desejam iniciar a sua jornada pelo gênero.


AUTOR: Stephen KING
TRADUÇÃO: Regiane WINARSKI
EDITORA: Suma
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 296


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