ANÔNIMO

Você é uma pessoa que leva ou não leva desaforo pra casa? Hutch é um daqueles que caiu na rotina. Seus dias se resumem a ir acordar cedo, fazer tarefas de casa, ir para o trabalho, voltar para casa e ter um resto de dia extremamente monótomo com sua esposa e seus filhos. O ânimo em si quase não existe e para muitos ele é taxado como um bundão. As coisas mudam quando sua casa é assaltada na madrugada por bandidos armados, Hutch pensa em fazer algo, mas acaba congelando. O seu filho adolescente, por incrível que pareça, reage e ajuda a espantar os bandidos. Logo o sentimento de inferioridade aumenta drasticamente em Hutch que agora não é respeitado nem pela sua família. E ai, dá pra mudar isso?

Estrelando a produção temos Bob Odenkirk, rosto muito conhecido pela sua participação na série Breaking Bad e que em sequência estrelou sua própria série com seu personagem icônico, na aclamada BETTER CALL SAUL. Em ANÔNIMO, temos praticamente o seu primeiro grande papel no cinema e o mesmo entrega tudo o que o personagem pede e muito mais. Ele vive um homem abatido, apático e sem culhões segundo as pessoas ao seu redor. Mas depois do assalto à sua casa, ele muda a chave e precisa despertar a ira de novo em seu coração. O seu passado sombrio volta à tona e agora ele parte à caça de se defender e também para atacar quando necessário. E o ator, em plenos 58 anos de idade, estrela sequências de ação sensacionais e muito energéticas.

Não sei se você percebeu uma certa semelhança desse filme com outro de uma série muito famosa que explodiu com o lançamento de suas sequências, a aclamada JOHN WICK. Isso não é coincidência, pois o roteirista assina o texto de ambos os filmes. Além de terem o mesmo roteirista, os filmes partilham ação com o uso considerável de violência e sangue em cenas cheias de detalhes e com uma coreografia soberba. É tanta coisa acontecendo, que o espectador fica sem poder piscar os olhos. A ação é limpa, a gente entende tudo o que está acontecendo, cortes exagerados e uma edição frenética são coisas que não existem.

O filme é bem enxuto e o roteiro segue essa linha, porém ele acaba se empobrecendo ao não desenvolver bem o passado do protagonista. Ele caiu na rotina, tomou um choque de realidade e voltou a ser o que era antes, mas essa mudança acontece de uma hora para a outra, nada suave e quase nada fica claro para o espectador. Isso pode ser desenvolvido em possíveis sequências, mas vamos usar o exemplo de John Wick, ele era um assassino de aluguel aposentado que queria viver em paz, porém tudo vai pelo ralo quando uma gangue de delinquentes mata seu cachorrinho, logo ele volta a ser uma máquina de matar e ao matar os integrantes dessa gangue, ele desperta a ira dos seus familiares e o caos é completo. Já aqui a virada de chave é repentina, ele passa de bundão para fortão em segundos.

Outra coisa que o roteiro poderia ter aproveitado muito mais, era a relação do pai com o seu filho, afinal foram os atos do filho que meio que despertaram o pai. Mas depois do confronto inicial com os bandidos, o texto não faz nada para aproximar ambos e não inclui o adolescente na virada de chave do pai. Uma chance perdida para um desenvolvimento familiar do nosso protagonista. Mas mesmo que não tenha desenvolvimento de personagem, o filme entrega o que promete, um pseudo fracote acordando para a vida e virando alguém que não leva desaforo para casa.

No final, ANÔNIMO se prova uma excelente aposta para quem gosta de ação desenfreada baseada em porrada. O final é muito semelhante com o clássico ESQUECERAM DE MIM, com direito a várias armadilhas caseiras para os bandidos, assim como o pequeno Macaulay Culkin fazia nos anos 90. Muito bem dirigido e coreografado, o trabalho dos dublês é de cair o queixo, o elenco é sensacional e o filme abre espaço para sequências bem bacanas e até quem sabe a um filme conjunto com John Wick. Não sei vocês, mas eu já estou animado para o que essa nova franquia pode nos proporcionar, pode vir que eu to pronto!

DIREÇÃO: Ilya NAISGULLER
DISTRIBUIÇÃO: Universal
DURAÇÃO: 1 hora e 30 minutos
ELENCO: Bob ODENKIRK